Falta de educação nas arquibancadas
Por maior que seja o amor pelo Brasil, é sempre bom ver o quanto um evento do tipo é muito mais organizado e mais respeitado por aqui. A começar pelo trânsito para chegar ao estádio da FAU, onde foi realizado o jogo, que apesar de intenso, não se via desrespeito, buzinas, motoristas “fechando” outros e coisas do tipo, comuns próximos a estádios brasileiros. A fila para adentrar o estádio também estava calma e organizada.
Contudo, um fato em especial me fez lembrar que eu estava indo para um evento de conterrâneos. Assim que estava caminhando para o estádio, um casal (de brasileiros) ao meu lado discutia sobre onde deixar o carrinho de bebê que carregava o filho. Aparentemente, o homem queria deixar em algum lugar que não junto deles na arquibancada, ao passo que a mulher rebatia, dizendo: “Eu não vou deixar, esqueceu que isso aqui está cheio de brasileiros?”. Por um momento, me deu uma certa revolta ouvir aquilo, mas, ela estava errada?
Já dentro do estádio, não propositalmente, sentei-me próxima a um grande grupo de atleticanos, que mais parecia uma minitorcida organizada. Apesar de, ao longo do estádio, os torcedores dos dois times estarem misturados, alguns pontos concentravam grupos do tipo. Ao meu redor também havia famílias reunidas para torcer para o seu time, vestidas com a camisa do mesmo, com faixas nas mãos e estampando sorrisos, nitidamente felizes de poderem acompanhar seu time do coração de perto, talvez pela primeira vez ou, ao menos, a primeira em muitos anos de América.
Mas, ao mesmo tempo em que a bola rolava e a empolgação contagiava, gritos e xingamentos faziam o efeito contrário. Cada vez que jogadores corintianos se aproximavam da área onde a “torcida organizada” estava, torcedores pareciam ficar possuídos e gritavam palavras que não posso escrever aqui.
Pensei sobre a rivalidade entre os dois times. Um foi campeão brasileiro no ano passado (Corinthians) e, o outro (Atlético-MG), vice. Entretanto, não justifica o desrespeito. Não bastassem as palavras de baixo calão, esse grupo entoava músicas de “mau gosto” e dava um péssimo exemplo para as crianças que estavam ali.
Como se não fosse o bastante, ao fim do primeiro tempo, os jogadores corintianos (atletas rivais do meu time, mas de quem naquele momento senti pena) precisavam deixar o campo pela saída localizada em direção onde eu e o bando de torcedor mal educado estávamos. Nesse momento, além dos gritos e xingamentos, os atletas foram vítimas de bebidas e garrafas descartáveis atiradas em sua direção. Outro momento me deixou ainda mais surpresa e decepcionada. Quando o jogador Elias se aproximava do “infeliz” lugar que escolhi para sentar, a “recepção” ficava ainda pior, incluindo o fato de um torcedor tê-lo chamado de “macaco”. Sim, as cenas de discriminação que acontecem por aí e que tomam conta da mídia, aconteceram ali, naquela tarde, em Boca Raton, em um torneio de pré-temporada, em ritmo ainda de férias para os jogadores. A paixão pelo futebol foi substituída pela má educação, pelo fanatismo desnecessário.
O relato é sobre o que eu vi. Perguntei para outras pessoas que estavam próximas dos grupos de torcida corintiana, como eles se comportaram. A resposta: “só fizeram festa!”. E acredito realmente que tenham feito festa, afinal, são eles os atuais campeões brasileiros e quem pôde comemorar o título, mesmo que de forma tardia, junto ao seu time.
Quanto aos mineiros, a maioria não fez parte desse grupo a quem me refiro. A maioria foi sim, torcer, se divertir e respeitou o adversário. A eles fica o merecido o título da Flórida Cup. Ao fanáticos sem educação, fica a vergonha alheia.