O Brasil recebeu US$602 milhões dos EUA em remessas formais em 2016.
Enquanto os fluxos de remessas em dinheiro diminuíram em todo o mundo pelo segundo ano consecutivo em 2016, as remessas para a América Latina e o Caribe aumentaram e bateram recorde. Globalmente, os migrantes enviaram cerca de US$ 574 bilhões para seus países de origem em 2016, uma queda de 1,4% em relação a 2015. Mas na América Latina e no Caribe – que juntos constituem uma região com condições econômicas ruins - as remessas subiram para US$ 74,3 bilhões, um aumento de 7,4% em relação ao ano anterior (US$ 69,2 bilhões), de acordo com dados do Banco Mundial. A Europa foi a única outra região que viu um aumento, no entanto bem menor (0,9%). O montante total de dinheiro transferido provavelmente é significativamente maior do que o relatado, porque essas estimativas não incluem a transferência de outros ativos, como presentes ou transferências monetárias informais, que não são controladas pelo Banco Mundial. As remessas do mineiro João Paulo (que preferiu ter seu nome mudado), por exemplo, não estão computadas dentro do total de US$602 milhões que o Brasil recebeu dos EUA em 2016. Há cinco anos, ele envia remessas ao Brasil e há 3 anos envia um total de aproximadamente US$100 mil dólares por ano, mas sem utilizar agências. “Sempre há pessoas que vêm do Brasil, daí eu dou o dólar aqui e eles me transferem o valor em real lá. Depende muito da época, mas já cheguei a mandar US$15 mil dólares por mês”, disse João Paulo, que trabalha com construção. “Por um tempo investi em gado, mas parou de dar certo e passei a investir em imóveis”.Maioria das remessas saem dos EUA
A maioria dos dólares de remessa que flui para a América Latina vem dos EUA, que é o lar de dois terços de todos os imigrantes da América Latina e do Caribe. (Para os imigrantes do México, El Salvador, Guatemala e Honduras, esta participação é muito maior - mais de 80% dos emigrantes de cada um desses países vivem nos EUA, de acordo com estimativas das Nações Unidas de 2017.) O número de imigrantes da América Latina vivendo nos EUA continua aumentando, embora o crescimento seja modesto e a maioria dos recém chegados seja da América Central e não do México. O aumento das remessas para a região deve-se principalmente a melhorias nas condições gerais de mercado de trabalho nos EUA, o que ajudou a aumentar a capacidade dos imigrantes de enviar dinheiro para casa. Essa melhoria foi especialmente evidente em setores como informação, construção e fabricação, indústrias em que muitos imigrantes latino-americanos trabalham. Em 2016, os ganhos médios semanais de trabalhadores hispânicos nascidos no exterior nos EUA aumentaram 6,2% em relação ao ano anterior. Além disso, a taxa de desemprego média anual dos hispânicos de origem estrangeira dos EUA diminuiu 0,7 pontos percentuais em 2016, para 4,7%.Alta do dólar
A alta do dólar, aliada à depreciação da maioria das moedas na América Latina, foi outro fator por trás do aumento dos fluxos de remessa para a região, de acordo com o Banco Mundial. No México, por exemplo, o dólar se valorizou em 17,7% em relação ao peso mexicano de 2015 para 2016, o que resultou em remessas (enviadas em dólares norte-americanos) com maior poder aquisitivo. Entre os países da América Latina e do Caribe, o México recebeu o maior número de remessas. Em 2016, US$ 28,6 bilhões em remessas fluíram para o México (9,3% acima do ano anterior) - um total que representou mais de um terço das remessas para toda a América Latina e o Caribe. Após o México, a Guatemala (US$ 7,5 bilhões), a República Dominicana (US$ 5,5 bilhões) e a Colômbia (US$ 4,9 bilhões) receberam o maior volume de remessas na região da América Latina e Caribe em 2016. Em todo o mundo, o México ocupa o quarto lugar nas remessas enviadas pelos imigrantes, atrás da Índia (US$ 62,7 bilhões), da China (US$ 61,0 bilhões) e das Filipinas (US$ 31,1 bilhões). Juntos, esses quatro países representaram quase um terço de todas as remessas enviadas em 2016. Como parte da produção econômica total (medida no produto interno bruto), as remessas foram equivalentes a 29,4% do PIB do Haiti em 2016, enquanto que para o Caribe como um todo, as remessas foram iguais a 8% do PIB - uma parcela muito maior do que a America Central e do Sul (3,6% e 0,5%, respectivamente). Apesar do recente declínio geral nas remessas, o montante enviado pelos migrantes globalmente para seus países de origem em 2016 permanece mais do dobro do que em 2005, quando foram enviados US$ 280 bilhões em remessas. Espera-se que as remessas globais aumentem nos próximos anos, devido ao crescimento antecipado das economias dos EUA e da Europa (onde quase metade dos migrantes do mundo vivem) e a valorização das principais moedas, de acordo com uma projeção do Banco Mundial. Com informações do Pew Research Center.Caminho inverso
O caminho inverso também tem sido cada vez mais registrado. No primeiro semestre de 2017, o valor enviado por brasileiros para os EUA cresceu 227%, de acordo com dados divulgados pelo Banco Central. De acordo com o BC, o montante de US$ 408 milhões foi transferido do Brasil para os EUA por meio de movimentações de pessoas físicas. Segundo dados do Banco Central, dosUS$ 935,80 milhões enviados ao exterior no primeiro semestre de 2017, mais de 40% das transferências pessoais do Brasil destinadas a outros países tiveram os Estados Unidos como destino final. Parte destes recursos costuma ser utilizado por brasileiros para adquirir bens e serviços fora do país, mas também tem como objetivo garantir rendimento para consumo e pagamento de despesas, principalmente no caso de quem decide deixar o Brasil. A expansão das transferências de fundos para os EUA pode ser justificado pelo aumento de imigração de brasileiros e pelo interesse de mais brasileiros em deixar o Brasil nos próximos anos, principalmente devido às incertezas políticas e econômicas que rondam o país. Isso demonstra um novo perfil do imigrante brasileiro: mais elitizado, em que os negócios no Brasil sustentam a vida nos EUA.