Entrevista com a diretora brasileira Juliana Rojas do longa Boas Maneiras

Por JANA NASCIMENTO NAGASE

Os diretores Marco Dutra e Juliana Rojas. (Foto: Matheus Rocha)
A fábula gótica Boas Maneiras (Good Manners, título em inglês) dos aclamados diretores brasileiros Juliana Rojas e Marco Dutra chega as telas grandes aqui nos Estados Unidos. Vencedor do Prêmio do Júri no Festival de Cinema de Locarno, Boas Maneiras já está em cartaz desde o dia 27 de julho no IFC Center em Nova York. O filem estreou na sexta-feira, dia 17 de agosto, no Laemmle's Royal Theatre, em Los Angeles (CA). O longa, ambientado na cidade de São Paulo, acompanha Clara, uma solitária enfermeira da periferia, que é contratada por Ana, uma mulher misteriosa e rica, para ser babá de seu filho que está prestes a nascer. Elas acabam se envolvendo e criando um vínculo forte e afetivo. Mas tudo muda em uma noite de lua cheia. No elenco estão a atriz brasileira Marjorie Estiano, a atriz portuguesa Isabél Zuaa, Miguel Lobo, Cida Moreira, Andrea Marquee, Felipe Kenji, Neusa Velasco, Nina Medeiros, entre outros. Esse longa marca a segunda colabaração dos cineastas na direção e roteiro. Eles já fizeram juntos Trabalhar Cansa (Hard Labor, título em inglês) de 2011. Com a cinematografia impecável de Rui Poças, Boas Maneiras é uma história inesperada e comovente de um lobisomem através da sociedade brasileira moderna. Eu tive a oportunidade de conversar com a diretora Juliana Rojas por telefone. Vamos conferir trechos da entrevista exclusiva:

Jana – Você e o Marco Dutra já trabalham juntos há mais de 10 anos. Como iniciou essa parceria?

Juliana Rojas – Nós nos conhecemos na faculdade de cinema. Gostamos do mesmo tipo de filmes: musicais, de terror e cheio de imaginação. Foi assim que iniciamos a nossa parceria. É claro que mudamos muito nesse período, então o relacionamento também cresceu e mudou. É uma relação profissional e afetuosa que precisa de cuidados, algumas concessões e a crença de que fazer um filme juntos resulta em algo diferente e mais excitante do que o filme que poderíamos fazer sozinho.

Jana - Como foi o processo da criação do roteiro, da história e as personagens?

Juliana - Normalmente, discutimos ideias iniciais, pequenas histórias, e tentamos entender a nossa conexão com o material. Pesquisamos livros e filmes que possuem temas semelhantes. Nesse filme, a ideia original veio de um sonho que Marco teve onde duas mulheres moravam em uma casa isolada e criavam um bebê estranho. Aí, iniciamos a investigar o folclore com o lobisomem em diferentes culturas e vimos como o mito se relaciona com impulsos de violência, sexo,como também com valores religiosos e conservadores. Fomos mais fundo nas personagens principais e seus conflitos de classe social, racial e desejos.

Jana - A paleta de cores do filme faz um papel importante. Por que usar as cores?

Juliana – Queríamos da um efeito de sonho na cidade de São Paulo, usando pinturas antigas foscas dos edifício e das noites com a lua cheia. Também estávamos preocupados com as diferenças entre o centro da cidade e a periferia. Nosso desenhista de produção, Fernando Zuccolotto, pesquisou o universo dos contos de fadas, usando a ideia de um castelo como o parte rica e as florestas como a parte pobre para aumentar o contraste inerente a nossa história. O diretor de fotografia, Rui Poças, também colaboroou bastante conosco. Ele deixou as cenas com um clima forte, um trabalho de câmera bem observacional e a lua cheia com luz constante.

Jana – Você mencionou o diretor de fotografia Rui Poças. Como foi trabalhar com ele?

Juliana – Tanto tu como o Marco gostamos muito do trabalho do Rui no filmes To Die Like a Man (2009) e Tabu (2012). Ele é muito experiente e ao mesmo tempo se diverte fazendo filmes assim como nós. Foi fascinante trabalhar com ele. Ele também tem um profundo conhecimento do drama e sabe bem o sentimento principal de cada cena. Algumas vezes, ele pode ser muito rigoroso, mas também consegue encontrar soluções simples e maravilhosas.

Jana – Onde você se posicionaria no atual cinema brasileiro?

Juliana – Acredito que faço parte de uma geração de cineastas muito criativa e forte; uma geração que não tem medo de usar diferentes ferramentas de narrativa visual e explorar os gêneros.