Jana – Por que você usou o Elvis Presley como metáfora para esse documentário?
Eugene Jarecki
– Elvis é muito mais que Elvis Presley. Elvis representa a América em grande escala. Elvis Presley representa ao mesmo tempo as obsessões, amores, fascinações, ambições do povo americano. Nossas contradições, ironias e lutas... tudo está lá embutido nele. Tudo começou com a ideia de que Elvis era jovem e lindo, e nós também somos. Mas também somos defeituosos, como ele era. Quando comecei a fazer o mapa da sua vida, virou uma rota, porque a vida de Elvis espelha bem a vida dos americanos. Começa na zona rural, vai para a pequena cidade urbana de Memphis, passa por Nashville, onde as culturas começam a colidir e depois vai para Nova York, o epicentro da mídia do mundo. Mas, tudo se complica quando Elvis se alista no serviço militar ao mesmo momento que os Estados Unidos se tornam um império militar.Jana – Você viaja a todos esses lugares com o Rolls Royce 1963 do Elvis....
Eugene – quando comentei com a minha família que queria sair pelo país dirigindo o Rolls Royce do Elvis, eles acharam que eu estava louco e tendo uma crise da meia idade. Eu tinha chegado a um ponto crítico do que pensava do país e de como eu penso de mim mesmo como cidadão. É muito claro para nós que algo aconteceu com o país em que vivemos. É necessário que paremos e olhemos para dentro de nós mesmos para entender melhor o que aconteceu e o que passou conosco internamente. Eu não tinha ideia de que apenas entrando no carro do Elvis, tudo ficaria mais esclarecido. Eu já tinha a ideia de trazer pessoas famosas e não famosas, de diferentes origens, entrando no carro com sua música, suas ideias, suas histórias. Pelo menos, eu iria capturar um retrato da nação visto através daquela janela, o que eu achei muito interessante para começar.Jana – Você acha que a metáfora do declínio de Elvis com o declínio do país ficou mais poderoso com o final do documentário o Trump ganhando as eleições?
Eugene – Certamente! Podemos considerá-lo o inimigo de Elvis. O que ele representa desvendou tudo o que havia de bonito no ‘Elvis’: a comercialização da vida americana, onde tudo está à venda, a vulgarização da vida americana, entre outras coisas. Ele é uma personificação de tudo o que destruiu Elvis Presley. E o esmagamento do Elvis é o esmagamento da América e do ‘Sonho Americano’, do trabalhador e cidadãos americanos. A metáfora está lá. Ele se torna um rei e acabamos elegendo uma pessoa que tem muito dinheiro, mostrando, metaforicamente, as prioridades equivocadas de uma nação. TheKing foitambém escrito por Jarecki em colaboração de Christopher St. John e com entrevistas de Alec Baldwin, Ashton Kutcher, Chuck D, Ethan Hawke, Van Jones, Mike Myers, Dan Rather, entre outros.The Kingjá está em cartaz nas seguintes salas: emMiami, no Bill Cosford Cinema e Miami Beach Cinematheque; emPalm Beach County no Living Room Theaters/Boca, Movies of Delray, Movies of Lake Worth e Lake Worth Playhouse. #TheKingFilm