Desde o início do ano, o documentário Chavela vem sendo mostrado em importantes festivais de cinema, onde foi muito bem recebido. Estreou no Festival de Berlim, o Berlinale, em fevereiro desse ano. Em março, esteve na seleção oficial do Festival de Cinema de Málaga, onde Chavela Vargas teve um reencontro especial com o diretor espanhol Pedro Almodóvar.
O documentário acompanha a vida Chavela que desde muito cedo tinha que lidar com frases do tipo "estou com vergonha de ser seu pai e tenho vergonha de você ser minha filha!" Uma vida dura porque seus pais não aceitavam a sua orientação sexual, os seus primeiros 17 anos de vida na Costa Rica foram uma verdadeira tortura. Mas Chavela nunca desistiu. Já nas suas primeiras apresentações na cidade do México na década de 40, ele entrou no palco como desejava: vestindo calças, com cabelos curtos e poncho. E foi aí que o ícone da liberdade nascia; um ícone que a comunidade homossexual está conectada até os dias de hoje.
A oportunidade de fazer esse documentário surgiu em 2015, quando Catherine Gund, co-diretora do filme, começou a digitalizar seu arquivo e percebeu que tinha um tesouro: uma entrevista em vídeo com Chavela Vargas em 1991. Com este material, Catherine procurou Daresha Kyi, premiada cineasta e produtora experiente, para com a ideia de fazer um documentário sobre a vida de Chavela. Convite que Daresha não hesitou em dizer sim.
Tive a oportunidade de conversar por telefone com Daresha que disse que esse documentário é “uma conversa íntima com a cantora e ícone latino antes de regressar a Espanha depois de 12 anos lutando contra o alcoolismo.”Chavela expande para o sul da Flórida nessa próxima sexta-feira, dia 27 de outubro.Vamos conferir trechos da entrevista:
O que tinha essa história que a atraiu?
Daresha - Eu adoro histórias sobre oprimidos que triunfam contra todas as probabilidades. Chavela tem uma história muito inspiradora. Ela iniciou a carreira cantando nas ruas da didade do México para sobreviver e acabou ganhando o prêmio do Grammy de Lifetime Achievement, esgotou ingressos no Carnegie Hall e foi um das musas de Pedro Almodóvar.
Qual foi o maior desafio em realizar esse documentário?
Daresha – Quanto ao processo criativo, Chavela viveu uma vida completa e fascinante e foi desafiador decidir quais aspectos da sua história que deveríamos ser deixados de fora. Esse processo foi bem doloroso, mas o documentário dura 90 minutos e ela viveu por 93 anos, e não seria possível focar em todos os aspectos de sua vida. Uma vez que decidimos dar um salto de 12 anos do triunfo no Bellas Artes da cidade do México até o momento que ela ficou confinada a uma cadeira de rodas, isso facilitou muito o processo.
Como você descreveria esse documentário?
Daresha – Ele é uma representação amorosa de uma pessoa ousada que foi ela mesma em um momento em que não era apenas normal ser lésbica, como também perigoso. Ela cantava do fundo da alma e emocionou o público com seu poder brutal de interpretar. Chavel, uma rebelde para época, desafiou as normas sociais e viveu a vida como se fosse um passeio em uma montanha-russa.
O que você quer que os expectadores tirem desse filme?
Daresha – Eu espero que as pessoas saiam sabendo que nunca é tarde demais para alcançar seus sonhos e que se sentam inspirados a permanecerem ainda mais firmes em suas verdades e crenças.