Antes de esclarecer as mudanças, vamos entender como funcionava uma transação imobiliária onde uma ou mais partes eram representadas por corretor imobiliário. O proprietário definia com o corretor a comissão a ser paga pelo comprador, entre outros aspectos. Nesse momento, o corretor já estabelecia uma comissão, normalmente entre 5% e 6% do valor total da transação, onde os dois corretores (o que representa o dono e o que representa o comprador) dividiram os valores igualmente.
Agora, muita coisa mudou. Logo na primeira etapa, antes mesmo de agendar uma visita ao imóvel, o corretor representando o comprador terá que solicitar ao comprador que assine um documento se comprometendo a remunerá-lo e já estabelecendo o valor. Isso mesmo! Por mais que o comprador não faça a menor ideia se vai efetivamente querer comprar o imóvel, ele já será obrigado a assinar um contrato com o corretor, sob pena de ser legalmente proibido de entrar no imóvel.
Nada vai impedir o dono do imóvel de assinar um contrato com o seu corretor - listing agent - estabelecendo que não haverá remuneração para o corretor que trouxer o comprador. Nesse caso, se o corretor não quiser arriscar trabalhar de graça, vai precisar expressar os valores a serem pagos além do custo do imóvel e das despesas inerentes à transferência de propriedade antes mesmo de agendar a visita a um imóvel. Em suma, se um vendedor não está oferecendo pagamento, isso significa que o comprador tem que pagar, e isso não será financiado, então - na prática - é do interesse do vendedor chegar a um acordo com a oferta para ajudar a compensar alguns dos custos, até porque a comissão dos corretores é o custo mais alto das despesas de transferências de imóvel.
Tudo isto aconteceu porque a Associação Nacional de Corretores de Imóveis foi considerada culpada de forçar os proprietários a pagar comissões inflacionadas para vender suas casas. Eles agora têm que pagar uma multa de mais de US$950 milhões e concordaram em mudar suas políticas. Os donos de corretoras minimizam bastante as mudanças.
"As transações imobiliárias vão continuar sempre acontecendo, acho que teremos uma seleção natural maior e apenas quem efetivamente vive disso vai continuar gerando valor aos clientes", diz Francisco, gerente da Julie's Realty em Miami Beach. Ele acredita que muitos corretores que encaram a atividade apenas como renda extra vão sofrer um impacto de redução das vendas. "O corretor que aceita visitar uma série de casas sem vender nada provavelmente vai continuar existindo, mas acontecerá cada vez menos", analisa Francisco.
Importante esclarecer que a lei oferece essa possibilidade de mudança. Mas, os proprietários e corretores que quiserem continuar trabalhando como antes ainda podem fazer isso e continuarão com todas as proteções legais.
Texto: João Freitas, jornalista e corretor de imóveis na Flórida