Enfurecidos, pobres não conseguem deixar Houston
Wilma Skinner gostaria de gritar com os funcionários municipais de Houston. O problema é que eles não atendem o telefone. "Liguei para um abrigo, chamei pedindo ajuda... Ninguém atende", desabafou a mulher, estava parada diante de uma loja que troca cheques por dinheiro em espécie, mas que não tem mais notas. "A única coisa que todos dizem é ´saiam, saiam´. Não tenho jeito de sair. E agora nem dinheiro tenho."
Enquanto o furacão Rita se aproximava de Houston, muitos moradores estão presos, com seus veículos retidos no congestionamento da enorme caravana que tenta deixar a cidade. Outros, assim como Skinner, pobres e com carros aos pedaços, não vêem jeito de sair e se sentem abandonados.
No Boulevard Bellaire, no sudoeste de Houston, uma mulher chorando esperava parada diante de uma cerca junto com sua filha, ambas rodeadas de sacolas de plástico, cheias de roupas e cobertores. "Eu queria ir embora, mas ninguém vem me pegar", disse a mulher com um inglês atrapalhado. Quando lhe perguntaram seu nome, respondeu em espanhol: "No sé, no sé". Sua filha, de uns 9 anos, respondeu em inglês: "Somos do México".
"Todos os bancos estão fechados e acabo de sair do trabalho", disse Thomas Visor com um cheque na mão enquanto tentava entrar no edifício onde mais de 100 pessoas - todas negras ou hispânicas - permaneciam em pé, inquietas, numa fila. "Isso é uma loucura. Como vamos deixar esta cidade se não temos dinheiro? Me digam."
Algumas pessoas que tinham dinheiro tentaram, sim, deixar a cidade mas não foram muito longe. Judie Anderson de La Porte, do Texas, percorreu apenas 72 km em 12 horas. Estava na estrada desde as dez da noite de quarta-feira, tentando ir para Oklahoma, mas na quinta estava ainda mais longe de seu destino.
"Este é o pior planejamento que já vi", disse a mulher. Eles dizem: ´Aprendemos muito com o furacão Katrina´, mas não mostram isso".