Dois terços dos casos de deportação são de imigrantes que cometeram pequenas infrações, diz “NY Times”

Por Gazeta News

Obama-Janet-Napolitano

Uma análise do “New York Times” publicada no final de semana mostra que ao contrário do afirmado pela administração Obama, de que as deportações são em maioria de pessoas que cometeram crimes graves, dois terços dos quase dois milhões de casos de deportação envolvem pessoas que cometeram infrações menores, incluindo infrações de trânsito, ou sem nenhum antecedente criminal. Apenas 20% - ou 394 mil - dos casos envolveram pessoas condenadas por crimes graves, incluindo crimes relacionados com drogas, mostrou o estudo. As informações são do “New York Times”.

Deportações tornaram-se uma das questões internas mais controversas da presidência de Barack Obama, e um exame de registros do governo mostra que cresceu a desconexão entre a meta estabelecida pelo presidente em relação à fiscalização das fronteiras e a promessa de uma reforma imigratória. Cinco anos mais tarde, nenhum dos lados está satisfeito.

“Teria sido melhor que a administração tivesse declarado suas intenções em relação às deportações ao invés de jogar do jeito que parecia politicamente conveniente a qualquer momento”, disse David Martin, conselheiro-geral adjunto do Departament of Homeland Security até dezembro de 2010. “Eles perderam credibilidade mesmo com todas as deportações. Foi um sonho achar que eles poderiam fazer todos felizes”.

Quem está sendo deportado Vários estudos sobre os registros do tribunal e relatos ao longo dos últimos anos têm levantado dúvidas sobre quem está sendo deportado pelas autoridades de imigração. A análise do “NY Times” se baseou em dados do governo, cobrindo mais de 3,2 milhões de deportações em mais de 10 anos, obtidos sob o “Freedom of Information Act”, fornecendo um retrato mais detalhado das deportações realizadas durante a administração Obama.

A demografia daqueles que estão sendo removidos hoje não é tão diferente daqueles removidos ao longo dos anos. A maioria são homens mexicanos com idade inferior a 35. Mas as circunstâncias mudaram.

Os registros mostram que os maiores aumentos foram em deportações envolvendo imigrantes indocumentados cujo crime mais grave foi listado como uma infração de trânsito, incluindo dirigir sob a influência de álcool ou drogas. Os casos mais do que quadruplicaram, passando de 43 mil, durante os últimos cinco anos de governo do presidente George W. Bush, para 193 mil durante os cinco anos em que Obama está no cargo. Nesse mesmo período, as remoções relacionadas a condenações por entrar ou reentrar no país ilegalmente triplicaram para mais de 188 mil.

Os dados também refletem a decisão da administração Obama de condenar violadores de imigração que anteriormente teriam sido removidos sem acusações formais. No último ano da administração Bush, mais de um quarto dos que foram pegos nos Estados Unidos sem antecedentes criminais foram devolvidos aos seus países de origem sem condenações. Em 2013, a acusação foi feita em mais de 90% desses tipos de casos, o que proíbe os imigrantes de retornarem por pelo menos cinco anos e aqueles que são pegos reentrando no país são condenados a tempo de prisão.

A promessa colide com a realidade As deportações começaram a subir acentuadamente nos últimos anos da administração Bush. Não tendo conseguido fazer a reforma imigratória, em partes por cobrança de mais policiamento nas fronteiras, a administração começou a realizar mais batidas de imigração. Bush intensificou os ataques de estilo militar a fábricas e fazendas e concedeu à polícia local a autoridade para verificar o status de imigração de estrangeiros suspeitos de estar no país ilegalmente. As deportações alcançaram 383 mil em 2008.

O Congresso apoiou os movimentos, dobrando o orçamento do Immigration and Customs Enforcement (ICE) para $5,5 bilhões de dólares em 2008, e impôs um mandado que exigia que a agência de imigração detivesse uma média diária de 34 mil imigrantes.

Obama atacou essas políticas durante sua campanha de 2008, criticou seu adversário republicano, o senador John McCain, do Arizona, por abandonar a reforma da imigração quando ela se tornou “politicamente impopular”, e prometeu realizá-la em seu primeiro ano no cargo.

Sistema “mais inteligente”

Assim como Bush, tanto Obama como sua primeira secretária do Departamento de Segurança Interna, Janet Napolitano, acreditaram que para ganhar uma reforma abrangente, eles precisavam demonstrar um compromisso para fazer cumprir as leis existentes. A administração Obama propôs manter os números de deportação, mas fazer a aplicação das leis “mais inteligentes”.

Os funcionários da imigração estabeleceram uma meta de 400 mil deportações por ano - um número que estava escrito em um quadro branco em sua sede em Washington. A agência implantou mais agentes para a fronteira, de acordo com vários ex-funcionários da imigração, onde o encontro e remoção de imigrantes indocumentados era mais fácil e viável. A administração tentou pisar com mais cuidado no interior do país, onde os imigrantes indocumentados geralmente se estabelecem mais. Ele acabou com as invasões de locais e expandiu um projeto piloto iniciado sob a administração Bush, que exigia que a polícia estadual e local compartilhassem com a imigração as impressões digitais durante a prisão, o programa Comunidades Seguras.

As mudanças no sistema, como dito acima, não agradaram nem as comunidades hispânicas e asiáticas, a base eleitoral de Obama, e nem os conservadores, que pedem maior vigilância das fronteiras.

“Nós pensávamos que um presidente que queria mover a reforma da imigração não faria uma estratégia para deportar pessoas que ele tinha a intenção de deportar”, disse Deepak Bhargava, diretor executivo do Center for Community Change. “Essa ideia estava totalmente errada. E existe muito descontentamento por causa disso”.