Diretor Rudy Valdez conta tudo sobre o documentário THE SENTENCE que estreia na HBO

Por JANA NASCIMENTO NAGASE

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Viver a vida ao lado da família é muito gratificante. Criamos memórias que ficam guardadas lá dentro. Tiramos fotos e fazemos vídeos para registrar e eternizar esses momentos. Assim, visitamos essas memórias quando queremos. Mas, se uma fatalidade acontece na sua vida, uma escolha errada do passado... como deixar e construir essas memórias para os seus descendentes. Foi o que aconteceu com Cindy Shank que foi condenada a 15 anos de prisão pelo seu envolvimento em um rede de tráfico em Michigan seis anos antes. Ela não comenteu nenhum crime, mas só por ser a namorada de um deles, ela passou a ser cúmplice daqueles que o fizeram. Cindy têm três filhas e seu irmão Rudy Valdez resolveu capturar em vídeo um retrato íntimo de sua família e de suas três filhas, enquanto cumpria a longa sentença. Esse material virou o documentário chamado THE SENTENCE que estreia no dia 15 de outubro, no canal HBO às 8:00PM. THE SENTENCE também foi o vencedor do Prêmio do Público no Festival de Sundance. Tive a oportunidade de participar de uma mesa redonda com diretor Rudy Valdez onde conversamos sobre as recompensas e dificuldades em contar a história de sua irmã e de sua família e na luta de libertar Cindy nos últimos anos da administração de Obama. Confira trechos da entrevista: Jana – Muito bom o seu documentário, verdadeiro, bem particular pra você. Você ficou preocupado em abrir dessa maneira a vida e a história de sua família? Rudy – Sim, é. Eu tinha algumas preocupações de contar uma história tão íntima, mas, depois senti que não estaria ajudando, estaria fazendo um desserviço à minha família se eu não compartilhasse. Eu queria tanto fazer algo bom dessa história, que prometi a minha família que eu não deixaria ser tudo em vão. Jana – Quais eram seus objetivos para esse documentário? Rudy – Foi tudo de repente... não começou como um documentário, eram somente vídeos pessoais. Eu só queria tentar capturar a vida das minhas sobrinhas para minha irmã. As meninas iam crescer e Cindy não ia participar. As fotos são maravilhosas e os telefonemas que ela fazia, quando possível, foram ótimos para ela, mas eu queria masis; queria que ela pudesse ver suas filhas crescerem, brincando, correndo, estudando, gritando, quanndo ela voltou pra casa. Jana - Quando você percebeu que esse material poderia virar um documentário? Rudy – Eu sei o momento exato em que passei a ser um documentarista. Há uma cena no início onde eu ia gravar o primeiro recital de ballet da minha sobrinha velha, Autumn. Eu sabia que Cindy mais queria era vê-la dançando. Aí, minha irmã ligou enquanto Autumn estava se preparando. Minha irmã disse a ela o quanto queria estar lá e completou: 'quando você for dançar, eu vou deitar na cama, fechar os olhos e pensar em você.” Esse foi o momento em que eu percebi que havia uma história que era completamente desconhecida...onde as pessoas não percebem quando ficam longe de alguém por 10, 15, 20, 30 anos... muita coisa fica pra trás. E, por mais doloroso que fosse para minha irmã sentar e imaginar como era a coreografia, era doloroso para Autumn pois sua mãe não estava ali na platéia. Tornei-me um cineasta, por um lado, para poder contar minha história. Jana – Como sua família recebeu a notícia que você estava fazendo esse filme? Rudy – Eu percebi que o mais importante em um documentário com um assunto bem íntimo e particular, é ganhar a confiança das pessoas envolvidas. Eu fui sincero desde o início. Eles confiaram muito em mim e entendiam o porque eu estava fazendo. Quando decidi que seria um documentário, deixei bem claro para eles quais eram minhas intenções. Foi uma algo terrível que aconteceu; só vai ser uma tragédia se permitirmos que seja. Se algo de bom tiramos dessa situação, nem tudo foi desperdiçado. Tive sorte que todos realmente acreditaram e foram capazes de se abrir e deixar eu gravar tudo. Jana – Suas sobrinhas agem naturalmente na frente da câmera, mas você não se sentia muito confortável, né? Rudy – Sim, mas eu acho que foi para elas era o tio Rudy filmando. Elas confiaram em mim... foi natural. As vezes, eu dava a câmera a elas para correr de um lado ao outro, para ficarem mais acostumadas. Engraçado que pedia a todos para ser abertos, honestas e vulneráveis, mas quando virava a câmera, tinha que fazer um grande esforço para me abrir. Jana - A história é bem universal e poderia, pode, acontecer com qualquer família e fiquei pensando como eu teria lidado com tudo isso... Rudy – Fico feliz que você tenha pensado nisso porque é exatamente por essa razão que fiz o documentário do jeito que fiz. Não foi para mostrar que somos uma super família. Era para mostra que somos uma família que acredita no amor e na esperança. Eu quero que você veja seu pai, sua mãe no filme. Eu quero que você se veja. Nós não estavámos fazendo nada de extraordinário. Nós apenas acreditamos um no outro. Jana – Quando sua irmã assistiu ao documentário, como ela reagiu? Rudy – Ela só assistiu ao documentário antes do Festival de Sundance. Posso afirmar que foi muito difícil para ela ver as meninas crescerem em apenas 84 minutos. Ela nem entendeu muito, pois estava tão envolvida em vê-las crescendo. Ela já viu várias vezes em festivais e só depois da quinta vez, acho, em que ela finalmente disse: "Rudy, este é um filme incrível." Jana – Você acha que o relacionamento com sua irmã mudou? Rudy – Acho que não. O que você vê no filme, é o que você vê na vida real.