Por: Letícia Kfuri, com agências.
Todo mundo já viveu alguma situação em que o acaso mudou o caminho das coisas. Vidas salvas, amores enlaçados, encontros improváveis. Será mesmo que, por trás de tudo isso, já havia um roteiro pronto?
A situação é a seguinte: você está no aeroporto, aguardando por seu vôo, que sairá em meia hora. De repente, um funcionário da companhia aérea avisa-lhe que, por um erro sem precedentes da empresa, o avião lotou e você precisará ser remanejado para o próximo embarque. Aborrecido da vida, só lhe resta mesmo, depois de reclamar e xingar, esperar.
Só que, durante esse aguardo, uma notícia terrível chega aos seus ouvidos: o avião em que você deveria estar, não fosse o tal “erro sem precedentes”, sofreu um acidente. Diante dos fatos, em terra firme e segura, depois de agradecer aos céus pela displicência dos funcionários da companhia, sobra apenas perguntar aos mesmos céus qual a razão de tão extraordinária coincidência. Ou, finalmente, se convencer de que nada, ou quase nada, é por acaso.
Nada melhor do que situações como essa para levantar a velha questão. Afinal, quem nunca se pegou pensando se a trajetória de nossas vidas está prescrita ou se aquilo que cruza nossos passos, às vezes de maneira surpreendente e definitiva, é mera coincidência? Os céticos, da sua parte, nem mesmo perdendo todos os aviões malfadados do mundo, se deixam levar pelas teo-rias. É tudo acaso, convergência de fatos.
Hoje, com 24 anos e morando da Flórida, Márcio Guimarães trabalhou em São Paulo, há três anos, com o bancário Rogério Sato, de 27 anos. Por causa do trabalho, ambos tinham em comum uma rotina: viajar de avião com freqüência. Márcio no trajeto Rio-São Paulo, e Rogério entre São Paulo e a região Sul do Brasil. Na quarta-feira(18) Rogério voltaria de Porto Alegre para São Paulo, mas decidiu antecipar em um dia sua viagem. Naquele momento ele selou seu destino.
Rogério Sato era um dos 187 passagei-ros do vôo 3054 da TAM, que acidentou-se durante o pouso, em Congonhas, na terça-feira(17), perdeu o controle e atingiu o prédio da TAM Express e um posto de gasolina, explodindo em seguida e matando todos os ocupantes do avião.
Márcio, ainda chocado com a morte do amigo, acredita que a decisão de Rogério de mudar a passagem tenha sido destino. “Eu acredito que seja destino. Ele realmente não era para estar naquele vôo, Além disso, o fato de o avião ter batido em um posto de gasolina também me faz acreditar em destino. Tinha um monte de outros lugares para ele bater, mas acabou batendo em um posto e explodindo. Por isso acho que quando é pra ser é”, diz Márcio.
Por isso, Márcio, que sempre viajou muito de avião por causa do trabalho, diz que acidentes como o do vôo 3054 da TAM, não mudam sua maneira de ver as coisas. “Eu não tenho medo de viajar porque acidentes como esse acontecem uma vez ou outra, e como eu disse, quando tem que ser é”, conclui.
Para pelo menos uma das pessoas que trabalhavam no edifício da TAM Express, ainda não era o dia de dizer adeus à vida. No dia do acidente, a jovem funcionária da TAM, que preferiu não ser identificada, tinha uma consulta médica marcada para as 4 da tarde. Pediu para sair mais cedo do trabalho, e em seguida foi para casa.
Ela ficou sabendo pela televisão que todos os seus colegas de trabalho haviam morrido, e que aquela consulta médica havia salvo a sua vida. Para aqueles que acreditam em destino, cada detalhe, desde a iniciativa de marcar uma consulta médica, até o agendamento exatamente para aquele dia e aquela hora, seriam orquestrações do destino, não há dúvidas de que aquela não era a sua hora de morrer.
É claro que fatos como esse impressionam muito, e é natural que algumas pessoas acreditem que todas aquelas pessoas que morreram tinham um motivo para estar ali, naquele dia e naquela hora, e que todos nós temos um dia e uma hora para morrer.
Essa é a opinião de uma das comissárias de bordo da TAM que na quinta-feira(19) se preparava em Congonhas para fazer sua primeira viagem após o acidente. A jovem, que preferiu não se identificar, é gaúcha de Porto Alegre e há nove meses trabalha na TAM. Tentando demonstrar tranqüilidade, ela disse à imprensa que não estava com medo de voar porque acredita que cada um tem sua hora de morrer. “É como meu comandante falou: – Peru não morre de véspera”, disse.
Mas, mais difícil do que não se dei-xar levar pelas evidências desses casos, é encontrar alguém que nunca os tenha vivido.
Um rapaz estava no banco de carona no carro de outro amigo. Ele se abaixou para pegar uma coisa no chão no exato momento em que o carro capotou e, por isso, não sofreu nada sério. O que estava no volante teve traumatismo craniano, vindo a morrer poucos dias depois. Como uma coisa desse tamanho pode ter sido mera coincidência?
Encontros engendrados por energias superiores também solidificam muitas i-
déias a respeito de um percurso traçado antes mesmo da maternidade. Um bom exemplo disso são as chamadas almas gêmeas. “Eu estava no trabalho, me sentindo um pouco mal, tonta, indisposta. Meus colegas todos me aconselhando a descer para sair do prédio e respirar um pouco, mas eu preferia ficar sentada na minha mesa.
Dez minutos depois, meu ramal tocou com o porteiro pedido para que eu trocasse meu carro de vaga, porque ele estava obstruindo a passagem de um veículo da empresa, ou seja, tudo me forçando a ir para a rua. Decidi descer. Quando cheguei na portaria, encontro, por acaso, um ex-namorado do tempo do colégio que estava passando por ali na mesma hora. Nos falamos, surpresos, trocamos telefones, refizemos contato. O resultado desse encontro é que estamos casados há onze anos”, conta a advogada Célia Mauro.
A psicanálise, o espiritismo e a astrologia têm visões muito particulares sobre essas situações. Márcia Homem de Mello, psicodramatista, acredita na força desses acasos como excelentes pontos de reflexão. Crer ou não num destino pré-existente, numa força que comande esses cruzamentos é algo pessoal, relacionado à religiosidade. O ser humano necessita de explicações e, diante de situações extraordinárias como essas, vai buscá-las no sobrenatural. Esse contato pode nos fazer pensar melhor a vida e nossas relações, comenta ela. A leitura espírita, por sua vez, não acredita na gratuidade dos acasos. Para o espiritismo, nossos caminhos são tão bem engendrados por Deus que não haveria espaço para coincidências. “Todos os encontros, todas as vivências, têm as suas razões de existir e acontecer como acontecem”, diz o estudioso de religião Fábio Perez.
Já a astrologia prefere associar esses acontecimentos à sincronicidade. Graziella Somaschini lembra que um eclipse solar ocorreu na mesma data do funeral do Papa João Paulo II. Para os, estudiosos de ocultismo, isso é um exemplo da chamada sincronicidade.
Ela entende que “os acontecimentos são sincrônicos porque acontecem ao mesmo tempo e são conectados entre si, mesmo que isso não apareça à primeira vista, à luz da razão”, explica a astróloga. Para ela, “devemos prestar atenção a essas pequenas seqüências de acontecimentos que podem nos preparar para um grande momento de reflexão na nossa vida.
A Cabala diz que um acontecimento maior sempre vem acompanhado de alguns acontecimentos menores do mesmo tipo e gênero, que devem servir de aviso.
“São essas sincronicidades que nos preparam para os acontecimentos e nos fazem ir além em nossas interpretações lógicas”, encerra ela.
O que as religiões e doutrinas pensam sobre destino? Ele existe?
Espiritismo
Se estivesse escrito não haveria o livre arbítrio e o homem não teria responsabilidade e seria uma máquina. O espiritismo ensina que os atos que o homem pratica não “estavam escritos”.
Judaismo
Sim. Existe um destino que pré-determina o comportamento humano, mas ao mesmo tempo é dada a liberdade ao ser humano para poder fazer algo com aquele destino.
Testemunhas de Jeová
Não há nenhuma evidência bíblica de que isto aconteça.
Islamismo
Sim, o islamismo aprova que o destino de cada um já foi escrito antes do seu nascimento.
Catolicismo
Se o destino fosse responsável pelas coisas boas ou ruins que acontecem, nós seríamos marionetes, que acabam fazendo o que os fios de barbante os mandam fazer. Em um mundo assim, ninguém pode ser punido pelo mal que faz, ninguém pode ser premiado pelas boas ações.
Igreja Presbiteriana
Nós escrevemos nossa história e não devemos culpar a Deus ou ao destino pelos atos que somos responsáveis, caso contrário, não deveríamos ser culpados ou premiados pelos referidos atos.
Umbanda e Candomblé
Todos somos regidos durante uma encarnação por um orixá, o qual imprimirá o ritmo e o rumo de nossa vida no corpo físico, mas sempre nos deixando uma certa liberdade onde exercitaremos nosso livre arbítrio, sem o qual não é possível um amadurecimento e conscientização.
Igreja Adventista do Sétimo Dia
Não. O destino de uma pessoa está traçado no sentido desta ser salva.
Se fosse previamente escrito o destino de uma pessoa, isto seria o mais terrível modo de Deus avultar o nosso livre arbítrio.
Assembléia de Deus
Não podemos predestinar algumas pessoas à perdição ou salvação, não no sentido absoluto. Isso limitaria a expiação de Cristo, e sabemos que ele morreu por todos. Também faria nulo o arbítrio do homem e constituiria fatalismo, o qual é erro puro.
Igreja Batista
Sim, Deus ensina que todos os nossos dias foram escritos antes mesmo de nós nascermos.
Budismo
Em nenhum texto budista é citado o termo “destino”.
Seicho-No-Ie
O destino é algo que a pessoa pode controlar e mudar o rumo dos acontecimentos, de acordo com a sua vontade.
Hare Krishna
O Karma, lei de ação e reação como a física também fala, é o “destino” de cada um. Ele vai sendo escrito conforme suas atividades. A sua vida futura também pode ser determinada com suas ações presentes.
Fonte: www.edeus.org