Depois de muitos festivais, 600 Millas chega às salas americanas

Por JANA NASCIMENTO NAGASE

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Chegando nos cinemas na próxima sexta-feira, dia 5 de fevereiro, o filme 600 Millas (600 Miles, título em inglês), do roteirista e agora diretor mexicano Gabriel Ripstein, que recebeu os prêmios de Melhor Filme na última edição do Festival de Berlim e também no Festival Internacional de Cinema de Guadalajara. Uma coprodução entre México e Estados Unidos, 600 Millas (Pantelion Films) evita algumas das convenções mais escabrosos do subgênero, oferecendo um pensativo argumento sobre a ligação indissolúvel na fronteira entre os dois países no mundo dos cartéis e tráfico de armas, principalmente.

Durante a mesa redonda com o diretor Gabriel Ripstein e com os atores, o britânico Tim Roth e o mexicano Krystian Ferrer, na semana passada, em Los Angeles, para promover o longa, Gabriel disse que não pretende apontar culpados, mas sim mostrar a necessidade de uma mudança na fronteira entre os dois países.

Considerado um dos melhores atores contemporâneos, Tim Roth afirmou que não existe um controle de vendas de armas. O ator, que foi já foi dirigido também por Quentin Tarantino em The Hateful Eight, Pulp Fiction e Reservoir Dogs, ficou muito feliz quando o roteiro chegou em suas mãos. “Desde que recebi e li a história, sabia que era um roteiro incrível e por isso concordei em participar”, disse. “O acesso a armas continua sendo um sério problema e segue sendo impulsionado pelo dinheiro, e isso tem causado a morte de milhares de pessoas inocentes”, lamentou  Tim, durante a mesa redonda. “É óbvio que, depois de participar deste filme, ficou muito mais claro para mim que devemos ter uma urgência em promover o controle de armas e impedir a sua compra tão fácil aqui, nos Estados Unidos”, disse ele.

No filme, Tim atua como um agente americano de Bebidas Alcoólicas, Tabaco, Armas de Fogo e Explosivos (ATF), que acaba se envolvendo com um jovem mexicano traficante de armas, interpretado por Krystian Ferrer.

“Ganhamos o prêmio em Berlim e seguimos para mais 40 festivais internacionais e quase fomos representar o México no Oscar do ano passado, disse Gabriel, que senta pela primeira vez na cadeira de diretor. “Recebemos também vários prêmios de atuação, de direção e, em geral, o filme teve uma incrível distribuição internacional e aceitação do público”, acrescentou.

O filme reflete uma complexa relação entre dois países e mostra de uma maneira bem orgânica, sem muitos tiros, a relação entre um policial e um traficante e como não existe nenhum controle na fronteira, além da corrupção da guarda na divisa desses países.

Krystian disse que a sua participação em 600 Millas veio para consolidar a sua carreira, já que havia trabalhado em outros filmes tais como Sin Nombre, Days of Grace e Guten Tag, Ramon, que também tem mensagens sociopolíticas e crítica social.

“Eu sempre falo que os filmes servem para exorcizar alguns demônios que existem no ser humano. Aí quando você vai ao cinema e assiste ao seu filme e vê essa mensagem, em seguida, você está criando uma nova sociedade”, frisou. “Quando li o roteiro, eu achei uma proposta bem interessante e foi fundamental para chamar a atenção para o acesso abominável e a forma terrível que uma bala entra no corpo.

Quando perguntado se esse filme era para denunciar o que acontece na fronteira, Gabriel afirmou que nunca quis fazer um filme de denúncia ou atribuir a responsabilidade, mas sim expor uma realidade perturbadora.  “Desde o início queria expor o comércio de armas, o acesso fácil que existe nos Estados Unidos e o apetite por parte do crime organizado no México. Essa combinação de fatores já acarretou em milhares de mortes nos dois países”, finalizou.