A expressão “deixa pra lá” é utilizada diariamente, de maneira corriqueira, no entanto, é uma expressão potente. Existe algo vitalmente importante a ser aprendido na prática de “deixar pra lá”. Deixar pra lá significa exatamente isto: deixar, largar. É um convite a deixar, a parar de apegar-se, de unir-se, aderir a qualquer coisa, seja uma idéia, um objeto, um evento, a um tempo ou situação em particular; a um ponto de vista ou a um desejo. É uma decisão consciente de soltar, liberar com total aceitação ao momento presente. Deixar pra lá significa parar de coagir, de forçar, de resistir e de lutar, em troca de algo mais forte e saudável, que revela-se à medida que permitimos qualquer coisa ser aquilo que deve ser. Deixar pra lá não se aplica somente a desejos, eventos ou objetos seguros em nossas mãos, mas também ao que seguramos em nossas mentes e em nosso coração. Nos fixamos, nos prendemos a conceitos - “Se você nasceu menina, você é menina” - ou a situações: “se você cresceu como menina, você só pode ser menina”. Isso acontece por acreditar, normalmente e desesperadamente, em desejos e esperanças pré-estabelecidos. Deixar pra lá significa escolher tornar-se transparente à forte influência de nossos desejos. E tornar-se transparente aos nossos desejos exige de nós que tragamos à superfície de nossa consciência as inseguridades e aflições passadas e presentes. Deixar pra lá requer a aceitação da possibilidade de estarmos desinformados; requer a aceitação de estarmos sendo obtusos, negligentes, insensíveis; requer a aceitação da possibilidade de outras possibilidades, cores e formatos; requer a aceitação de que estamos procurando obter algo em benefício próprio e em detrimento de outros. Discernimento e sabedoria surgem quando estamos dispostos a tranquilizar nossas mentes no momento, não tendo que procurar, segurar ou rejeitar nada. Quando uma parte de você desejar continuar segurando, tente e avalie se esse “deixar pra lá” vai realmente lhe trazer a profunda satisfação espiritual e mental que está procurando. Deixar pra lá requer reafirmar a nossa condição de seres imperfeitos em estado de transformação, mostrando sempre que temos um coração do tamanho do mundo e integridade para aceitar todos como são, e não como queremos que sejam. Oportunamente, é o que estamos aprendendo com os personagens Nonato e Ivana/Ivan na novela da Globo, “A Força do Querer”.