Crise no Brasil aumenta a oferta de imóveis no sul da Flórida
Miami, que até pouco tempo contava com 80% de seus compradores vindo da Venezuela, Brasil, Argentina e outros países da América do Sul, viu esse mercado diminuindo por causa da crise econômica, em paralelo com o surgimento de novos apartamentos de luxo sendo colocadas no mercado. Ou seja, a oferta está bem acima do que o número de compradores.
Para a corretora Sandra Key, da United Realty Group, que trabalha nos condados de Miami, Broward e Palm Beach, mesmo com a alta do dólar e a crise no Brasil, o brasileiro continua acreditando que investir em um imóvel nos EUA é mais seguro, mas a proporção e os valores que esses brasileiros podem investir diminuiu bastante.
Sandra trabalha com um público local, americanos, investidores, brasileiros e latinos também. “Eles continuam investindo nem que seja menos, $100 mil, $200 mil, $300 mil dólares. A ideia é ter algo seguro aqui”, conta.
“Este ano está muito mais favorável para os investidores conseguirem bons negócios no mercado de Miami. Em Broward e Palm Beach, ainda é favorável para quem está vendendo. Temos pouco inventário porque os donos estão segurando sem saber o que vai acontecer com a economia. Os preços estão altos comparados ao ano passado, até porque os aluguéis subiram drasticamente então é vantagem alugar os imóveis em vez de vendê-los”, diz Sandra.
Segundo ela, há bastante casas no mercado hoje, mas os preços ainda estão bem altos – principalmente em Broward e Palm Beach. “Muita gente resolveu segurar mais, esperar as eleições. Agora essas pessoas estão avaliando o que é melhor fazer. Tenho clientes que colocaram propriedades para vender e tiraram do mercado, com a esperança de vender mais caro após as eleições. E essa parece ser a tendência: do jeito que está, os preços estão subindo”.
O preço médio de casas (single family homes) no condado de Broward em janeiro era de $311 mil dólares (10% a mais que há um ano), de acordo com o Greater Fort Lauderdale Realtors Association. Em Palm Beach, o preço médio era $310 mil dólares (9% a mais que há um ano), segundo o Realtors Associaition de Palm Beach. Miami-Dade também viu um aumento de 15% em relação ao ano passado, com o preço médio de $310 mil dólares.
“Hoje, uma casa de três quartos e dois banheiros, em uma área de boas escolas, de classe média, entre Deerfield, Coconut Creek e Boca Raton não se encontra por menos que $300 mil dólares. Apartamentos de dois quartos nessas categorias começam por $150 mil dólares em Coconut Creek”, explica Sandra.
Financiamentos “O que está acontecendo para favorecer o mercado para compradores são novos meios e oportunidades para facilitar o financiamento, tais como o Florida Grant, que garante 5% de entrada para o comprador de média/baixa renda; e o Conventional Lenders Finance, onde o comprador da 1% de entrada e o banco dá os outros 2%”.
Mesmo com preços altos, comprar ainda é a melhor opção frente aos aluguéis em alta. “Em relação aos clientes locais, se você está pagando um aluguel de $1.600 dólares (por dois quartos, hoje em dia) e tiver condição de receber uma ajuda e conseguir um financiamento com juros baixos, em que sua prestação ficará menor que o aluguel, sem sombra de dúvidas é melhor você pagar pelo seu imóvel do que pela prestação de outra pessoa”, avaliou Sandra. “Não tem matemática – é a lógica. Aluguel é bom negócio para o proprietário do imóvel, somente”.
Miami Segundo Folko Weltzien, broker imobiliário e cofundador da Miami Realty Solution Group, em Downtown Miami, e da LUX Realty Solution, em Sunny Isles, “o estrangeiro não parou de procurar e comprar em Miami, mas houve uma redução”. “Os preços agora estão baixando, já que o estrangeiro que comprou há quatro anos agora está procurando revender. Só que, para isso, ele tem que dar um desconto que está mais ou menos 20% do valor pago no auge de 2014, um pouco antes de começar a crise no Brasil e o fortalecimento da moeda americana”.
Entre 2011 e 2016, 45 novos prédios foram construídos na cidade de Miami e 94% das 5.802 novas unidades colocadas no mercado foram vendidas. No entanto, de acordo com levantamento da Related ISG, publicado no segundo semestre de 2016, há 62 prédios (11.158 unidades) ainda sendo construídos, com 80% das unidades vendidas até a publicação do relatório, além de 26 prédios ainda na planta (2.574 unidades), das quais 20% das unidades já foram vendidas. O total chegará a 130 prédios (19.534 unidades).
De acordo com Folko, compradores estrangeiros, que antes representavam 80%, hoje são 50% dos compradores ante 50% locais. “Ainda temos bastante estrangeiros atrás da segunda casa, ou aqueles que querem se mudar para cá porque estão cansados de seus países, mas o número baixou bastante”, disse. “Como sabemos, grandes empresas de milionários no Brasil estão em crise e isso refletiu bastante na redução do mercado de luxo aqui – não só por causa do Brasil como o mundo todo, que não está no melhor momento econômico”.
Com escritório em Key Biscayne desde 1989, a decoradora de interiores residenciais, Adriana Sabino, viu uma queda drástica na sua quantidade de projetos, já que tem trabalhado somente com brasileiros nos últimos anos. “A crise no Brasil é certamente um dos fatores mais importantes no esfriamento do mercado imobiliário de Miami. O ano passado foi péssimo para os agentes imobiliários e a consequência natural foi a falta de trabalho na minha área. Se as propriedades imobiliárias não são vendidas, não tenho como trabalhar. Tive cliente que suspendeu o projeto por causa da crise no Brasil”. Apartamentos
Em janeiro, houve uma queda de 10% nas vendas de apartamentos em Miami-Dade, de acordo com o Miami Realtors Association. Isso acontece por causa da quantidade de novas unidades no mercado, o que está baixando os preços também.Imóveis cujo pé quadrado custava $2.600 dólares, hoje estão saindo a $1.600 dólares, segundo Sandra Key.
“Miami vive sem dúvida um ‘buyers market’ em relação ao mercado de luxo. Para investidores e pessoas com o sonho de ter um apartamento em Miami-Dade, em Sunny Isles, por exemplo, esse momento é excelente com grandes barganhas. Apartamentos que antes não saíam por menos de $1 milhão de dólares, agora podem ser encontrados por $700 mil dólares”, disse Sandra.
“Vai ter muito apartamento saindo no mercado. A questão é que agora vai começar um período de absorção desses imóveis novos, mas tudo depende da economia estrangeira, o valor do dólar, quanto esses estrangeiros estão ganhando em seus países para poderem investir aqui, etc”, disse Folko. Ainda é cedo para dizer em qual direção o mercado imobiliário irá após a eleição de Trump, mas Folko diz que o clima é de otimismo. “Estamos otimistas, sim, que ele vá fazer alguma coisa pelo mercado imobiliário, já que esse é o mercado onde ele fez a própria fortuna. Por isso acreditamos que ele vai favorecer o mercado imobiliário”, conclui.
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