Cresce número de mulheres com filhos na faixa dos 40 nos EUA

Por Arlaine Castro

marcha EUA Foto REUTERS Leah Millis
As mulheres não estão somente esperando mais tempo, mas tendo mais filhos. É o que indica uma *análise do Pew Research Center com dados do US Census Bureau que aponta o aumento na última década nos Estados Unidos no número de mulheres na faixa dos 40 anos que são mães. A proporção de mulheres nessa faixa etária é semelhante ao que era no início dos anos 90. A proporção aumentou em todos os grupos raciais e étnicos, com as hispânicas liderando em 90% a maternidade após os 40, seguidas de 85% das mulheres negras, 86% das asiáticas e 83% das brancas. Esse padrão é semelhante ao das mulheres no final de seus anos férteis em meados dos anos 90. Em 2016, cerca de 86% das mulheres com idades entre 40 e 44 anos eram mães, comparadas com 80% em 2006, de acordo com a análise do Pew Research Center. Em meados da década de 1990, cerca de uma em cada cinco mulheres com 40 e poucos anos (22%) tiveram um filho antes dos 20 anos; em 2014, essa participação caiu para 13%. E os atrasos na gravidez continuaram entre as mulheres na casa dos 20 anos: enquanto pouco mais da metade (53%) das mulheres em seus 40 anos em 1994 tinham se tornado mães aos 24 anos, essa parcela era de 39% entre aqueles que estavam nessa faixa etária em 2014. Uma brasileira que faz parte da estatística americana é a mineira Claudineia Cardinali, hoje com 46 anos, que mora em Mount Vernon (NY) e teve seu primeiro filho, Robert Cardinali-Douches, hoje com 15 meses, aos 44 e sem medo algum, tanto pela fertilidade quanto pela idade considerada por muitos “avançada” para ter o primeiro bebê. “Venho de uma família onde todos casaram cedo, mas primeiro eu queria estudar, formar e poder trabalhar na minha área. Não pensava em casar ou ter filhos até os 30 anos. Quando era bem nova que, ouvia as pessoas falaram que, mulher ter filhos aos 40 era perigoso, decidi que desafiaria a natureza e teria filhos nesta idade”, conta. Há 18 anos nos Estados Unidos, a jornalista e animadora profissional, Claudineia priorizou a carreira e a vida de solteira e nunca teve medo de não poder ter filhos. “Se eu não pudesse, faria tratamento. Mas, aos 43 anos decidi que aquela seria a hora. Casei aos 41 anos. Meu marido, Robert Douches, era divorciado e já tinha dois filhos. Tive uma gravidez maravilhosa! Trabalho em hospitais como voluntária e trabalhei sem parar. Tive um nenê, muito saudável, esperto e inteligente! Ele nunca ficou doente, nunca tomou antibiótico”, destaca. De acordo com a pesquisa, as mulheres não só estão mais propensas a serem mães do que no passado, como também estão tendo mais filhos. No geral, as mulheres têm em média 2,07 crianças durante suas vidas - acima de 1,86 em 2006, o menor número já registrado. E entre aquelas que são mães, o tamanho da família também aumentou. Em 2016, as mães no final da idade reprodutiva tinham cerca de 2,42 filhos, em comparação com uma baixa de 2,31 em 2008. O período da Grande Recessão intensificou essa mudança em direção ao adiamento da maternidade, que tem sido impulsionada a longo prazo pelo aumento do nível educacional e pela participação das mulheres na força de trabalho, bem como pelos atrasos no casamento, segundo a pesquisa. É o caso da paulista Carmen Guedes, hoje com 43 anos, que sempre teve a vida voltada para o trabalho. “Moro na Flórida há 20 anos e trabalhava como auditora uma média de 12 horas por dia, incluindo viagem de business, não teria tempo pra dispor e me dedicar ao bebê. Então quando vi que o relógio biológico caminhava mais rápido, decidi ficar grávida e troquei de profissão”. Hoje, a corretora da fazenda que teve a filha, Summer, há 7 meses, está realizada. “Honestamente para mim está sendo uma maravilha de vida, tenho minhas obrigações com a carreira e vida pessoal está totalmente resolvida. Minha baby Summer não poderia ter vindo em melhor época da minha vida quando me encontro realizada em todos os aspectos” destacou. Sobre a tendência das mulheres terem filhos mais velhas, a corretora da fazenda analisa como mito que já está sendo quebrado. ”Acredito na superação de mitos que diziam ‘depois dos 38 gravidez era altamente de risco’quando na verdade tudo depende do bom estar, saúde e psicológico da mulher para então poder ter de fato uma gravidez normal mesmo depois dos 40”. Outra brasileira já entrava para a estatística como mãe depois dos 40 nos Estados Unidos em 2006. A paulista Cristina McGuire, que mora em Clermont (FL) há 20 anos, conta que teve o terceiro filho quatro meses antes de completar 42 anos. “Eu me casei tarde (aos 35) dai a razão dos filhos virem tarde também. O primeiro foi aos 36, depois aos 38 e o último com quase 42. Acredito que muitas mulheres adiam a maternidade por causa da carreira. Hoje em dia a tecnologia avançou muito. Se os filhos não vierem pelos métodos naturais, as mulheres partem para inseminação ou fertilização in vitro”, conclui. Solteiras e com filhos Outro fato interessante do estudo é que mais da metade dessas mulheres mães na faixa dos 40 ou mais nunca se casaram. Como na população dos EUA como um todo, a proporção de mulheres na reta final de fertilidade que nunca se casaram aumentou - de 9% em 1994 para 15% em 2014. Entre essas mulheres, a maioria (55%) teve pelo menos uma criança. Isso marca uma mudança dramática em relação às duas décadas anteriores, quando cerca de um terço (31%) das mulheres nunca casadas de 40 e poucos anos haviam dado à luz. Ao mesmo tempo, a proporção de mulheres que se tornam mães entre as que foram casadas permanece alta: 90% em 2014, comparado com 88% em 1994. Nível educacional A pesquisa aponta também que a proporção de mulheres nunca casadas de 40 e poucos anos que são mães aumentou em todos os níveis educacionais. As taxas de maternidade mais do que duplicaram para mulheres com alguma experiência universitária e que nunca se casaram bem como aquelas com um grau de bacharel ou superior. A partir de 2014, 82% das mulheres no final de seus anos férteis com grau de bacharel eram mães, em comparação com 76% em 1994. E enquanto 79% das mulheres em seus 40 anos que têm um mestrado também têm pelo menos um filho, essa parcela foi de 71% 20 anos antes. Em 2014, 38% das mulheres com idades entre 40 e 44 anos com mestrado se tornaram mães aos 29 anos e 77% se tornaram mães aos 39. O aumento mais dramático da maternidade ocorreu entre o grupo de mulheres de 40 e poucos anos com Ph.D., onde 80% são mães; contra 65% nas décadas anteriores. A paulista Ana Paula Baroni, 44 anos, mora em Seattle, Washington. Nos Estados Unidos desde 2007, a health coach e personal trainer é mãe de Sophia, hoje com quase 4 anos e do Noah, que acabou de completar 1 ano em fevereiro. Ana Paula conta que sempre quis ser mãe, mas primeiro priorizou a carreira e viagens. “Tive a oportunidade de poder parar de trabalhar para cuidar dos meus filhos, o que nessa idade também é um desafio pela volta ao mercado de trabalho depois. Eu só me senti muito pressionada durante a gestação, pois ainda existe uma preocupação enorme quanto à saúde da mãe e bebê por conta da idade. Com relação à maturidade, tem mulheres maduras o suficiente pra serem mães aos 20, outras não” pondera. *A presente análise é baseada em uma medida cumulativa de fertilidade ao longo da vida, no número de nascimentos que uma mulher já teve