A avaliação negativa dos empresários brasileiros sobre a corrupção e o desperdício de gastos públicos no país derrubou o Brasil do 57º lugar, em 2004, para a 65ª posição, em 2005, no ranking de competitividade divulgado nesta quarta-feira pelo Fórum Econômico Mundial.
“Esses dois fatores foram fundamentais em uma perda significativa de competitividade do Brasil nesse estudo”, afirma o professor Carlos Arruda, diretor de desenvolvimento da Fundação Dom Cabral e coordenador da pesquisa do Fórum Econômico Mundial no Brasil.
O comunicado que anuncia a divulgação do ranking diz que “os escândalos de corrupção e outros eventos que atingiram a ‘imagem’ do setor público minaram a confiança dos empresários e desviaram as atenções dos legisladores de tarefas importantes na preparação da economia brasileira para os desafios da concorrência internacional”.
Arruda destaca, no entanto, que as opiniões dos empresários entrevistados no Brasil foram coletadas entre janeiro e abril deste ano, antes do início da atual crise política desencadeada pelas denúncias do "mensalão" e de irregularidades nos Correios.
“Os dados confirmam uma preocupação, que agora nós já sabemos, mas, na época, era desconhecida, de que havia uma quebra de confiança do empresariado com o governo federal”, avalia o coordenador da pesquisa.
Instituições públicas
O Relatório de Competitividade Global foi elaborado a partir de consultas a 11 mil líderes empresariais de 117 países entre janeiro e maio de 2005. No Brasil, 209 executivos de 19 empresas nacionais foram entrevistados.
O ranking de competitividade é baseado em dados públicos e na opinião dos executivos sobre três fatores: ambiente macroeconômico, instituições públicas e tecnologia.
A maior queda do Brasil foi registrada na categoria instituições públicas: o país caiu 20 posições (do 50º para o 70º lugar). Os indicadores nessa categoria incluem rankings sobre corrupção, pagamentos irregulares e favorecimento de funcionários públicos no desenvolvimento de políticas e decisões de compras.
“O nosso índice mostra uma piora nos ânimos da comunidade empresarial nos últimos seis meses, refletindo as preocupações sobre a falta de níveis adequados de transparência do setor público”, afirma Augusto Lopez-Claros, economista-chefe e diretor do programa de competitividade global do Fórum Econômico Mundial.
“Enquanto os fundamentos da recuperação econômica brasileira ainda são fortes, o governo precisa agir rapidamente para enfrentar problemas em áreas importantes como a educação, a infra-estrutura e o emprego”, acrescenta Lopez-Claros.
Corrupção e macroeconomia
No ranking do relatório que aponta as nações com menor nível de corrupção na opinião dos empresários locais, o Brasil despencou da 45ª posição para o 62º lugar.
Um dos poucos aspectos positivos sobre o Brasil aparece no trecho do relatório dedicado ao ambiente macroeconômico: o país pulou de 97º para 81º lugar no ranking de estabilidade macroeconômica.
De acordo com Carlos Arruda, o índice é fruto do controle da inflação, do aumento das exportações e de outros indicadores positivos da economia.
O pesquisador acrescenta, no entanto, que a conquista nesse item acabou superada por outras avaliações negativas incluídas no relatório.
No ranking dos países que, na visão de executivos, menos desperdiçam recursos públicos, por exemplo, o Brasil caiu 39 posições (da 72ª para a 111ª colocação entre 117 nações).
Os entrevistados também foram convidados a indicar os cinco fatores, de uma lista de 14, que mais atrapalham a realização de negócios em seus países.
Os principais problemas citados no Brasil foram os impostos, a regulamentação tarifária, a burocracia, o acesso a financiamentos e as restrições da legislação trabalhista.
Chile e Finlândia
Essa é a quinta queda consecutiva do Brasil no ranking de competitividade do Fórum Econômico Mundial, organização não-governamental que presta consultoria à ONU e promove o encontro anual de Davos, na Suíça.
Na lista deste ano, o Brasil aparece logo atrás de Gana, Trinidad e Tobago, Cazaquistão, Croácia, Namíbia e Costa Rica.
O país da América Latina que ocupa a melhor posição no ranking é o Chile, em 23º lugar. Em seguida, aparece o Uruguai, que ultrapassou o México e ocupa a 54ª posição.
O relatório destaca que a distância entre o primeiro e o segundo colocado na América Latina aumentou de 26 para 31 colocações e afirma que essa é “uma característica que não se observa em qualquer outra região do mundo”.
Já a liderança global do ranking ficou, pela quarta vez nos últimos cinco anos, com a Finlândia. Os Estados Unidos aparecem em segundo lugar, seguidos por Suécia, Dinamarca e Taiwan.