Como manteve o crescimento da rede de serviços?
Carlos Lula: “Aceleramos a reestruturação da nossa rede de serviço. Anteriormente, nós tínhamos uma rede que foi criada com um erro essencial: ela rivalizava com estruturas municipais de serviços. No mesmo período, a gestão anterior adotou a ‘invenção’ dos hospitais de 20 leitos, mesmo contra a orientação do Ministério da Saúde. A concepção equivocada gerou uma estrutura de hospitais montadas uma ao lado da outra, sem considerar o aspecto da regionalização.
Carlos Lula: Desse modo, a gente tinha uma rede que era ineficiente. Na ocasião, havia uma rivalidade entre as competências do Estado e as competências que eram dadas aos Municípios.
Carlos Lula: De modo que, muitas vezes, o Estado chegou a ingressar em competências Municipais.Na nossa gestão, apostamos no caminho inverso. Construímos redes que dialogassem com a estrutura primária, já existentes nos municípios, mas que desse ao Estado a competência que lhe é atribuída pela Constituição.
Carlos Lula: Reestruturamos nossa rede com hospitais regionais de média e alta complexidade. Aqui, a competência cabe verdadeiramente ao Estado. Os hospitais de Pinheiro, Caxias, Imperatriz, Bacabal, Santa Inês, Balsas, Chapadinha, além do Hospital de Traumatologia e Ortopedia, em São Luís, passaram a funcionar de maneira resolutiva.
Carlos Lula: As novas unidades são hospitais de maior porte e com especialidades que normalmente os municípios não oferecem, geralmente por conta do custo médio mensal de R$ 5 milhões”.
O que mudou com a regionalização?
Carlos Lula: “Primeiro, houve um upgrade da rede. Os destaques são a melhoria dos indicadores de saúde. Um exemplo é o Hospital Regional de Balsas. Antes do hospital, havia um cenário de mortalidade materna e infantil.
Carlos Lula: Em janeiro deste ano, completamos um ano de funcionamento da unidade e sem casos de mortalidade materna na região. Isso dependia somente dos municípios?
Carlos Lula: Não. Dependia de uma rede de assistência, que não era dada a esses municípios, e é o que a gente passou a ter com a instalação do hospital.
Carlos Lula: Assim aconteceu em todos os hospitais regionais, seja Pinheiro, Caxias, Santa Inês, Bacabal, Chapadinha e Imperatriz, enfim, em todas as cidades a gente teve um incremento dos serviços de saúde com a estruturação dessa rede pensada e estruturada segundo os preceitos do SUS.
Carlos Lula: Inovamos e agora é a hora de reestruturar a rede de serviços, porque não tem sentido o Maranhão ser o único estado da federação a ter que administrar mais de seis dezenas de unidades hospitalares.
Já há reflexos desse trabalho?
Carlos Lula: “Nosso foco é a repactuação com os municípios, porque não faz sentido a gente ter reconstruído toda a rede de serviços e, ainda assim, continuar com duas redes – Uma que rivaliza com os municípios e outra que os auxilia. O sentido da gestão é auxiliar os municípios, e assegurar a cada ente da federação a competência que lhe é devida”.
E como fazer isso?
Carlos Lula: “Devemos entender as dinâmicas que vamos adotar no futuro com os gestores municipais. A agenda com os gestores será mantida, ela continua sendo uma frente aberta e democrática.
Carlos Lula: Não vamos ter nenhum tipo de imposição. Isto não é imposição ou ideia do Lula, secretário da Saúde, muito pelo contrário. É uma construção que é uma consequência dos quatro anos da gestão estadual.
Carlos Lula: O SUS é a política pública no Brasil mais democrática e a mais decidida em fóruns – e não somente decidida pelos gestores.
Carlos Lula: Nós temos uma rede montada. Colocamos hospitais nos quatro cantos do estado. Agora é hora, também, da gente continuar ajudando os municípios, porém assegurando a cada um à sua competência.
Carlos Lula: É preciso estabelecer, e notar, que muitas vezes não faz sentido a gente continuar com a rede tão extensa, querendo rivalizar com o município, pelo contrário.
Carlos Lula: O sistema é único. Cada ente funciona com as suas devidas competências: União, Estados e Municípios. Entretanto, o Estado continuando a prestar auxílio aos municípios, porque eles precisam neste momento de dificuldade. Do contrário, é impossível a manutenção dos serviços”.
E o financiamento do SUS? O Governo Federal tem investido na Média e Alta Complexidade?
Carlos Lula: “De todos os hospitais regionais que a gente inaugurou, só a UTI do Hospital Regional da Baixada Maranhense Dr. Jackson Lago, em Pinheiro, recebeu recursos de Média e Alta Complexidade do SUS até 2018.
Carlos Lula: Alguns poucos foram habilitados este ano, a maior parte da nova rede não recebeu habilitação do Ministério da Saúde. Com isso, temos que considerar dois cenários.
Carlos Lula: O primeiro é que Brasil vive uma grande crise econômica. Se fosse mantida a perspectiva de receber durante os últimos quatro anos, o mesmo que se recebia de Fundo de Participação dos Estados, em dezembro de 2014, a gente tem uma perda estimada de R$ 1,5 bilhão. Dito publicamente pelo governador, os números são claros, os números são transparentes.
Carlos Lula: A consequência é danosa para qualquer gestão, não só na gestão do Maranhão. Isto aconteceu com diversos estados. Por outro lado, a gente tem uma política imposta ao Governo Federal que é o novo regime fiscal, da Emenda 95.
Qual o impacto do novo regime fiscal da Emenda Constitucional 95/2016?
Carlos Lula: “Em relação a saúde e a educação, a Emenda nº 95 muda a regra dada pela Emenda nº 86/2015 – introduz o conceito de Receita Corrente Líquida. O RCL, por exemplo, corresponde ao somatório das receitas tributárias líquidas de um governo. São contribuições patrimoniais, industriais, agropecuárias e de serviços, deduzidos os valores das transferências constitucionais.
Carlos Lula: A emenda 95 muda a regra que era dada pela emenda 86, que já havia mudado regra com a emenda 23 - esta responsável pelo aumento do financiamento do SUS nos anos 1990 até os anos 2000. Ano após ano, o SUS vinha recebendo um aporte maior de recurso.
Carlos Lula: A partir da emenda 95, a gente vai ter que fazer duas projeções.
Carlos Lula: A União não pode mais investir recursos, mesmo com investimento dos estados em novas unidades de saúde. A União fica proibida de utilizar mais recursos, além do que a emenda 95 os permite.
Carlos Lula: Se a gente fizesse uma projeção da Emenda 95, e considerar em 20 anos, no cenário de crescimento econômico de 2% ao ano, o SUS perderá mais de 400 bilhões de reais.
Carlos Lula: Com a Emenda 86, considerando o mesmo percentual de crescimento do país, a aplicação seria de R$ 69 bilhões nos primeiros 10 anos e depois R$ 347 bilhões nos 10 anos seguintes, segundo cálculo do Banco Central.
O que fazer diante do cenário de retração de investimentos do governo federal?
Carlos Lula: “A gente espera que a economia brasileira cresça, que a gente tenha um governo que traga mais bonança e, como consequência, o crescimento do país também possa vir a trazer mais recursos para a saúde, e eventualmente até mesmo a revogação da emenda 95, que é uma emenda de ajuste fiscal.
Caso esse cenário não ocorra a gente tem que se preparar. Como?
Carlos Lula: Racionalizando a rede, estruturando melhor o sistema que a gente tem, eventualmente delegando a municípios estruturas que estão hoje sob a gestão estadual, mas que são claramente de gestão municipal. E se preparar para o que vem, pois não vamos fechar serviços ou impor consequências sobre salários das pessoas.
Carlos Lula: Mas é certo dizer, que para o futuro, a gente tem um cenário que não é um cenário de tranquilidade econômica. A gente tem que se preparar para um regime fiscal que tá aí, ele traz consequências severas para os estados, e contra ele a gente não pode se insurgir.
Carlos Lula: Se eu não vou mais receber recursos do Ministério, e se eu tenho por consequência um aumento de serviços do Estado, esse dinheiro vai ter que sair de algum lugar e, eventualmente, ele deve sair dessa nova estruturação da nossa rede de serviço”.
Qual sua meta à frente da SES para a próxima gestão do governo Flávio Dino?
Carlos Lula: “A agenda para os próximos anos é uma agenda de eficiência. A gente continua com o incremento de novos serviços. A repactuação é uma das agendas centrais, além do planejamento do surgimento das policlínicas. A gente precisa ter inteligência para conseguir fazer as policlínicas, incrementar esses novos serviços na rede, e ao mesmo tempo não aumentar o custeio mensal – Tudo indica que será muito difícil contar com o auxílio do Ministério da Saúde.
Carlos Lula: Então, o nosso redesenho com os municípios será para reestruturar novos serviços e definir o melhor modelo para as policlínicas, sem provocar aumento de receitas”.
O diálogo com o governo federal será mantido?
Carlos Lula: “Vamos continuar dialogando com o governo federal sobre o aumento de investimentos de recursos públicos em saúde. Quando consideramos o gasto público em percentual, dados de 2012, por exemplo, mostra que o Brasil adotou no financiamento do SUS 47,5%, o Canadá 70,1%, a França 77,4%, a Itália 77,3%, a Noruega 85%, a Espanha 71,7%, e o Reino Unido 84%.
Carlos Lula: Por incrível que pareça o maior gasto com saúde no país ainda é o gasto privado e não gasto público em saúde. Menos de metade dos recursos, segundo a Organização Mundial da Saúde, no Brasil são de recursos públicos com saúde.
Carlos Lula: Então, a gente precisa aumentar a participação do estado, no sentido amplo, nos gastos com saúde, já que o SUS é o nosso grande plano de Saúde.
Carlos Lula: No Maranhão nós temos 7 milhões de habitantes. Menos de 300 mil pessoas têm plano de saúde, segundo dados da saúde suplementar.
Carlos Lula: No Maranhão, o grande plano de saúde do Estado é o SUS. Pra isso, ele precisa de aporte de recursos, seja da União ou do Estado. O estado tem feito sua parte. Enquanto o Ministério da Saúde repassa uma média de R$ 25 a R$ 30 milhões por mês, o Estado nos repassa uma média de R$ 115 a R$ 120 milhões por mês.
Carlos Lula: Então, não dá pra gente continuar fazendo saúde dessa forma que sobrecarrega o cofre estadual”.
O que mais o governo estadual pretende fazer?
Carlos Lula: “A gente tem indicadores que melhoraram. A política de saúde demanda algum tempo para que objetivamente toque a população. Para o futuro, o que a gente tem é uma política de estado.
Carlos Lula: Sempre tenho dito e repetido: o Maranhão precisa de uma agenda que não seja apenas governamental. Tocar a política de saúde como uma política de Estado e não política de governo.
Carlos Lula: Precisamos projetar para 20, 30 anos a continuidade das políticas públicas implementadas hoje.
Carlos Lula: Desta forma é possível melhorar o quadro dos indicadores como o da mortalidade infantil e materna. No quesito vacinação, hoje, estamos entre os primeiros estados com cobertura da meta.
Carlos Lula: A agenda de 2019 prevê aumentar a eficiência do sistema com o que se tem. Isto não significa imobilização.
Carlos Lula: Vamos adotar soluções estratégicas e criativas para desenvolver ações e serviços dentro das mesmas balizas orçamentárias. Isto significa continuar oferecendo novos serviços para população.
Carlos Lula: Não virão recursos a mais da União. Vamos trabalhar com os recursos que temos hoje. Como fazer isso? Mudando estratégia, observando dados, analisando os parâmetros que nós tivemos nos últimos anos e projetar para o futuro.
Carlos Lula: Há coisas que deram certo e outras não. A gente tem que ter humildade para reconhecer e apontar um novo caminho que eventualmente nos leve a mais resultados em prol da saúde pública da população maranhense.