Quando as células de um organismo vivo começam a se multiplicar desordenadamente, forma-se um aglomerado, que é o que chamamos de tumor. Esse tumor pode ser benigno ou maligno, e impede o funcionamento normal dos órgãos ou tecidos atingidos, levando a graves problemas de saúde. De uma forma geral, os tumores benignos são menos agressivos e mais fáceis de controlar; já os tumores malignos têm consequências mais graves, como por exemplo, a capacidade de se espalhar para outras áreas do corpo e comprometer o funcionamento normal de órgãos distantes do foco primário. Por isso, sempre que um tumor for detectado, o mesmo deve ser investigado e devidamente tratado. Os tumores malignos são também chamados comumente de câncer.
O câncer na espécie felina está se tornando um diagnóstico cada vez mais comum, não somente devido ao avanço e sofisticação dos métodos diagnósticos, mas também porque os gatos estão vivendo mais tempo. Os donos dos gatos de hoje buscam cuidados veterinários com mais frequência, o que leva à impressão de que a prevalência do câncer nessa espécie é mais alta do que antes.
Mas, na verdade, a prevalência de alguns tipos de câncer em gatos mudou, como mudou a vida moderna. Por exemplo, a alguns anos atrás, antes da utilização em grande escala da vacina contra o vírus da leucemia felina, o câncer de mediastino (um tipo de linfoma que se desenvolve dentro da cavidade torácica) era muito mais comum, pois a principal causa deste tipo de câncer é o próprio vírus da leucemia felina. Hoje em dia, a ocorrência de leucemia felina é mais baixa, pois os gatos muitas vezes vivem exclusivamente dentro de casa sem se expor ao vírus, e além do mais, os donos estão conscientes de que a vacinação contra a leucemia é de fundamental importância e tratam de manter os bichanos em dia com sua prevenção (especialmente para os gatos que tem acesso à rua, permitindo contato com outros gatos que podem transmitir o vírus). Testes para diagnosticar o vírus da leucemia felina hoje em dia são realizados no próprio consultório veterinário, com resultados em mais ou menos dez minutos. É importante fazer o teste antes de introduzir um novo gato na casa, para que o vírus não seja transmitido aos outros gatos da família.
Em muitas partes do mundo, o câncer mais comum em gatos é o linfoma. Existem diferentes formas de tratamento para este tipo de câncer, incluindo quimioterapia, remoção cirúrgica do tumor e radiação. O linfoma é considerado o tipo de câncer felino mais susceptível à quimioterapia, mas o prognóstico depende muito da fase em que o tratamento for iniciado. Animais que são considerados em estágio avançado no inicio do tratamento tem menos chances de cura.
Classificação do Linfoma
O linfoma é classificado de acordo com a localização anatômica do tumor e, em gatos, o linfoma intestinal é o mais comum.Muitos gatos que desenvolvem algum tipo de câncer podem apresentar um tumor óbvio, mas nem sempre este é o caso. Alguns gatos são diagnosticados com base em testes realizados simplesmente porque algo subjetivo anda mal, como por exemplo perda de peso sem motivo aparente, vômito, diarreia ou letargia. O gatinho doente se submete a exames e as células malignas são descobertas, muitas vezes numa biópsia, aspirado de massas anormais, aspirado de células da medula óssea, ou, às vezes, exames de sangue. Radiografias para detectar tumores macroscópicos e metástases (tumores que se alastram para outros tecidos, principalmente os pulmões) são parte da bateria de exames que devem ser feitos.
Uma forma pouco invasiva de chegar ao diagnóstico de câncer em felinos que apresentam sintomas gastrointestinais é o exame de ultra som, que pode detectar massas anormais dentro do abdômen ou da cavidade torácica e, com uma agulha fina, obtém-se um aspirado para um exame de citologia. A citologia pode dar informações clínicas preciosas a respeito da massa encontrada, o que ajuda o médico veterinário a selecionar uma forma de tratamento adequada. O ultrassom também é muito útil para medir a espessura das paredes do estômago e dos intestinos, que quando engrossadas sugerem o diagnóstico de linfoma alimentar. Para o diagnóstico definitivo, muitas vezes, se necessita fazer uma cirurgia exploratória do abdômen para coleta de amostras para biópsia. Obviamente, a cirurgia exploratória é um método bastante invasivo, mas o valor das informações obtidas por este método pode significar um diagnóstico mais preciso do que a citologia obtida com a agulha fina, e pode fazer a diferença que irá salvar a vida do animal.
Carcinoma espinocelular
Outra forma de câncer encontrada com relativa frequência nos gatos é o carcinoma espinocelular, um tipo de câncer de pele que afeta principalmente as orelhas e o nariz de gatos de cor clara. Esse tipo de câncer é causado pela exposição da pele à luz solar, e por este motivo, é recomendável passar protetor solar (especialmente formulados para uso em animais) se o gatinho tem a pelagem clara e gosta de um banho de sol.O carcinoma espinocelular é um tipo de câncer extremamente agressivo e que se alastra com facilidade. Os sintomas mais comuns são vermelhidão da pele (geralmente em qualquer parte da cabeça, mas principalmente nas orelhas, pálpebras e nariz), crostas com ou sem sangramento espontâneo, e úlceras que parecem não se curar nunca. O tratamento mais efetivo para esse cancer é a remoção cirúrgica da área afetada, mas infelizmente, muitas vezes as lesões reaparecem. Quimioterapia nestes casos não é recomendada pois os resultados são inconsistentes e frustrantes. Terapia com radiação pode ajudar na cura, e em muitos casos, é usada em combinação com a cirurgia.
A vacinação contra a raiva e contra a leucemia felina, apesar de importantíssima, também está implicada no aparecimento de um tipo de tumor maligno, chamado fibrosarcoma. Especificamente no caso do fibrosarcoma causado pelas vacinas, o tumor é denominado “fibrosarcoma associado à vacina”. O mecanismo que desencadeia o desenvolvimento deste tipo de câncer não é muito bem explicado, e pesquisadores desconfiam que não somente as vacinas contra a raiva e contra a leucemia são as causadoras, mas sim qualquer tipo de injeção em gatos.
Fibrosarcoma
O fibrosarcoma associado à vacina é um tipo de tumor extremamente agressivo, que se infiltra profundamente no local e cresce rapidamente, destruindo os tecidos à sua volta. O tumor é tão invasivo que atualmente os veterinários aplicam as vacinas nos membros traseiros abaixo do nível do joelho do gato, pois se o tumor aparecer, a amputação do membros salva a vida do animal. Existem alguns veterinários que aconselham a administração das vacinas na cauda do gato, pois uma amputação de cauda seria menos traumática. A administração de vacinas na cauda tem a desvantagem de que a injeção causa muita dor, pois a pele dos gatos não é muito flexível neste local.Gatos também podem apresentar-se com lesões malignas dentro da cavidade oral, e os tipos de câncer mais comuns neste local são o carcinoma de células escamosas e o fibrosarcoma oral. O carcinoma de células escamosas é o tumor oral mais comum em gatos, altamente maligno e com poucas opções de tratamento efetivo. O tumor cresce até o ponto em que sangra espontaneamente, e é aí que o dono nota que o gatinho tem uma lesão dentro da boca. Neste ponto, de uma forma geral, a doença já está em estágio avançado e as opções de terapia não oferecem muita ajuda. Como as lesões são dolorosas, o controle da dor é fundamental para ajudar a manter a qualidade de vida do paciente.
Fibrosarcoma oral
Já o fibrosarcoma oral é um tumor maligno que, se descoberto em estágios iniciais, pode ser removido com sucesso. É importante ressaltar que a possibilidade de recidiva (ou seja, de o tumor “voltar”) é muito alta. Radiação e quimioterapia também são alternativas de tratamento para esse câncer, mas sempre em combinação com a cirurgia.Vale a pena lembrar que as limpezas dentárias profissionais são extremamente importantes, e se o felino vai ao veterinário pelo menos uma vez ao ano para a sua limpeza, a cavidade oral é examinada detalhadamente na ocasião da limpeza. Isso ajuda na detecção de tumores orais em fase inicial, dando ao gato uma vantagem e maiores chances de cura e longevidade.
Qualquer tipo de tumor, inchaço ou bolotas que sejam notadas pelos donos em seus gatinhos merece atenção veterinária. Quanto antes melhor no tratamento e possível cura desta doença tão misteriosa e devastadora que é o câncer.
Dr. Paula Ferreira - Ferreira Animal Hospital | www.ferreiravetcare.com