Por Gene de Souza
Caetano Veloso, um dos maiores nomes da cultura brasileira, se apresenta em Miami com o show “Cê”, destacando o repertório do novo álbum , e misturando grandes sucessos de sua carreira.
O título do disco é uma redução da palavra “você”. Para gravá-lo, Caetano Veloso formou uma banda de apenas três músicos, encabeçada pelo guitarrista Pedro Sá, que o apresentou a Ricardo Dias Gomes (contrabaixo) e a Marcelo Callado (bateria).
Entre as quase 30 músicas escolhidas para o show, estão todas as faixas de “Cê”, de longe o melhor álbum de Caetano desde o início dos anos 80 com novidades como “Outro”, “Rocks”, “Odeio” e “Minhas Lágrimas”. No meio do show a banda deixa Caetano sozinho com seu violão para cantar canções que marcaram sua carreira e vida como “Sampa” e “Desde Que o Samba É Samba”, e referências como Lou Reed, Bob Dylan, Raul Seixas e Rita Lee, entre outros. Na apresentação de mais de duas horas e meia, Caetano também deve cantar a música “Como Dois e Dois”, que ficou famosa na voz de Roberto Carlos, nos anos 70. Dois discos do cantor baiano, feitos em épocas diferentes, também emprestam faixas para esse show. De “Transa” (1972), haverá as faixas “Nine Out of Ten” e “You don’t Know Me”. De “Velô” (1984) veio “O Homem Velho”. Ainda estão no repertório “London London”, de 1971, e “Chão da Praça”, de Moraes Moreira, registro da história da guitarra elétrica no Carnaval da Bahia, que se soma às outras homenagens ao rock. Parceiro de Caetano desde o show “Estrangeiro”, Hélio Eichbauer assina a cenografia de “Cê”, inspirada, segundo ele, pelo disco e pela expressão musical contida no rock.
Caetano Veloso é reconhecido internacionalmente como um dos músicos mais originais dos últimos tempos. O New York Times o chamou de “um dos melhores compositores do século”. Ele tem sido um artista de ponta da cultura brasileira por mais de 30 anos, adorado como um cantor popular e respeitado como uma figura erudita. Apesar de uma longa carreira, Caetano continua inovando e criando obras modernas e rele-vantes. Ele nunca hesita em dar mérito aos que o inspiram a criar sua arte.
Caetano nasceu em Santo Amaro, Bahia em 1942, e começou sua carreira profissional em São Paulo, em 1965. Suas primeiras canções foram no estilo bossa-nova, inspirado pelo mentor João Gilberto, mas rapidamente se transformou em algo novo. Caetano, junto com Gilberto Gil, Gal Costa, sua irmã Maria Bethania, e outros artistas, criaram o movimento Tropicália, uma combinação de elementos psicodélicos da cultura jovem dos anos 60 com elementos brasileiros, poesia e modernismo avant-garde. O impacto da Tropicália foi tão revolucionário, que Caetano e Gil foram exilados em 1968 pela ditadura militar da época. Eles voltaram ao Brasil, em 1972, como heróis da música popular.
Apesar da grande influência da Tropicália na careira de Caetano, sua música tomou caminhos variados com o passar dos anos. Usando elementos de rock, reggae, fado, tango, samba, baião e rap - com letras tão ricas quanto a de qualquer poeta da língua portuguesa - a música de Caetano, por vezes tradicional, por vezes contemporânea, porém, sempre nova. Caetano possui a capacidade de emocionar com a mais bela canção de amor, e de inspirar com canções de protesto e revolta. Ele é um dos poucos artistas que consegue transmitir uma mensagem universal, sendo indiscutivelmente brasileiro.
Em 1999, Caetano Veloso ganhou o Grammy com o CD Livro (Nonesuch Records) e logo depois gravou a trilha sonora do filme Orfeu de Carlos Diegues. Em 2001, lançou Noites do Norte, uma obra sobre raça, escravidão, e a busca de uma identidade nacional. Também lançou Omaggio a Federico e Giulietta - gravado ao vivo em Rimini, em 1997, para homenagear dois mestres do cinema italiano, Federico Fellini and Giulietta Masina. O ano de 2002, foi o mais ativo de Caetano Veloso no mercado americano, com a publicação do livro Tropical Truth: A Story of Music and Revolution in Brazil, pela editora Knopf, o lançamento do CD duplo Live in Bahia (Nonesuch Records) e uma turnê pelas principais cidades do continente.Também em 2002, Caetano foi reconhecido internacionalmente por suas participações em filmes: “Cucurrucucú Paloma” de Habla con Ella (Talk to Her) de Pedro Almodóvar (melhor filme estrangeiro do Oscar), e um dueto com a mexicana Lila Downs do filme Frida, indicado ao Oscar de melhor canção.
Em abril de 2004, Caetano Veloso foi convidado pelo Teatro Carnegie Hall em New York a participar da série Perspectives, onde o artista principal dirige vários dias de espetáculo com convidados para melhor expressar a sua visão. Foi a primeira vez que a série convidou um artista que não toca música clássica. Perspectives: Caetano Veloso, foi uma viagem pelas influências que formaram a carreira de música, poesia, filme e ativismo político do cantor.
Em entrevista exclusiva ao Gazeta, Caetano falou de seu novo show.
Gene: Você se surpreendeu com o sucesso de “Cê”?
Caetano: Até certo ponto, sim. Eu confiava no apuro do nosso gosto e da nossa técnica como banda. Mas o mero fato de ser um disco “de banda”, de ser o lançamaento de uma nova banda, com seu som, seu estilo particular e as composições novas que fiz pensando nela, fazia do projeto algo um tanto difícil de digerir. Bem, há quem só sinta a dificuldade. Há quem trate com desdém. Mas há muita gente que admira a qualidade e a verdade do que estamos fazendo.
Gene: Depois de trazer para o público dos Estados Unidos o “A Foreign Sound” que de certa forma era particularmente íntimo para esse público, como você imagina que “Cê” será recebido?
Caetano: Não faço a mínima idéia. Os shows de “A Foreign Sound” sempre causavam boa impressão. Mas o projeto foi recebido com frieza, desconfiança e perplexidade: não era um álbum de nostalgia “Tin Pan Alley”, não era uma antologia do pop pós Beatles, não era um trabalho experimental. O disco soava pretensioso antes de ser ouvido. E o caminho entre “The Carioca” e “Come As You Are”, via Cole Porter e Bob Dylan, se tornava duro de seguir para o ouvinte. Para mim, era autobiografia. E também um modo particularmente brasileiro e particularmente meu de por esse grande repertório da música americana em perspectiva. Infelizmente não fizemos um DVD do show: o show deixava tudo isso claro, por cuasa do modo como Morelenbaum, os músicos e eu agíamos em cena. Já o “Cê” é todo de canções novas tocadas pelo que seria uma banda de rock. É bem feito e muito pessoal, mas não sei até que ponto um público americano encontraria interesse nessa nova banda brasileira liderada por um brasileiro velho de quem talvez esse público acredite já saber o que esperar.
Gene: Você tem uma platéia relevante e eclética, tanto brasileira quanto hispânica e norte-americana nos Estados Unidos. Isso de alguma forma muda o design de seus shows aqui?
Caetano: Não mudamos o design do show desde que estreamos em Brasília no ano passado. Podemos trocar uma ou outra canção em cima da hora. Quando pedem bis, eu escolho o que cantar no momento - e isso tem a ver com o modo como o público à minha frente reagiu ao show.
Gene: Sendo um dos poucos artistas brasileiros que consistentemente excursiona ao exterior, como você explicaria um certo desinteresse de muitos de nossos músicos e cantores por uma carreira internacional?
Caetano: Não sabia que há tal desinteresse. Mas é fato que o Brasil é muito grande, ainda meio pobre, fala português, e está habituado a viver olhando para dentro. Antigamente, os brasileiros mal acreditavam na existência do mundo exterior.
Gene: Além das canções de “Cê” o que a turnê USA de 2007 incluirá?
Caetano: Canções minhas dos anos 70, 80 e 90, e umas poucas canções de outros autores anteriores aos anos 60.
Gene: Existe alguma cidade ou platéia nos Estados Unidos que lhe encanta particularmente? Porque?
Caetano: Nova York. Porque foi a primeira cidade americana que conheci. Por muitos anos foi a única onde eu cantava e cuja imprensa mostrava interesse pelo que eu fazia. Foi também com artistas de Nova York que tive os primeiros contatos importantes e profundos com a cena americana.
Gene: Caetano Veloso, dizem, tem o mais bem guardado segredo de longevidade artística e capacidade de surpreender. Você acha que esta receita existe?
Caetano: Não.
Caetano Veloso é o artista brasileiro com o maior número de troféus Latin Grammy
No dia 8 de novembro em Las Vegas, Caetano foi reconhecido com os seguintes prêmios:
Melhor Álbum Cantor Compositor
- Cê - Caetano Veloso
Melhor Canção Brasileira
(Língua Portuguesa)
-Não Me Arrependo- (Caetano Veloso)
Não me arrependo
eu não me arrependo de você - cê
não me devia maldizer assim
vi você crescer
fiz você crescer
vi cê me fazer crescer também
pra além de mim
não, nada irá nesse mundo - apagar
o desenho que temos aqui
nem o maior dos seus erros,
meus erros, remorsos, o farão sumir
vejo essas novas pessoas
que nós engendramos em nós
e de nós
nada, nem que a gente morra,
desmente o que agora
chega à minha voz.
The Rhythm Foundation apresenta
Caetano Veloso
sábado, 24 de novembro, 8 pm
Carnival Center for the Performing Arts, Knight Concert Hall
1300 Biscayne Blvd., Miami
Ingressos pelo telephone (305) 949-6722 ou www.carnivalcenter.org
Info: www.rhythmfoundation.com
Patrocínio: Fastway Moving
Uma produção da Rhythm Foundation, comemorando 20 anos de sucesso