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Brasileiros relatam bullying sofrido pelos filhos em escolas da Flórida
Pode ser um apelido que vira piada entre os colegas ou a entrega de um material sob ameaça, o bullying acontece de várias formas e praticamente todos os dias nas escolas, mas, além da violência, o bullying é um grande responsável pelo abandono escolar, reprovação, mudanças constantes de escola e problema de saúde como depressão, fobia e síndrome do pânico. Pais brasileiros contam o que filhos sofreram ou ainda sofrem, como lidaram lidam com o problema e o que a escola fez a respeito. Feia e gorda A pequena Sophie Pereira, hoje com 9 anos, era bem mais nova quando começou a ficar deprimida também por causa da escola. “Ela já tinha ficado abalada quando o pai dela e eu nos separamos. Foi quando ela começou a engordar” conta a mãe, Maria Pereira, que revela que a filha sofreu bullying há três anos de amiguinhas da escola na região centro-oeste da Flórida onde moram e mais recente na escola atual . “No primeiro caso, ocorrido em uma Elementary school em Westchase, no condado de Hillsborough, região central-oeste da Flórida, ela estava com seis anos e ficou deprimida porque as amiguinhas da sala a chamavam de gorda e feia. Eu então pedi ao diretor para que ela (a filha) falasse sobre isso e como ela se sentia. Depois que ela falou na sala as coisas melhoraram. Foi bom porque ela fez um desenho falando como ela se sentia triste quando eles faziam o bullying com ela e as crianças compreenderam que a atitude não era legal”, aponta Pereira. Nessa outra escola, uma elementary school em Carrolwood onde está há um ano, ela também foi vítima. As meninas também a chamavam de gorda e chegaram a agredi-la. “Ela ficou com medo de voltar no outro dia depois da agressão , tive que levar ao conhecimento da psicóloga da escola que já estava fazendo terapia devido ao bullying anterior. Ela relutou em me dizer porque não queria que eu fosse na escola com receio de as crianças abusarem mais ainda”, relata Pereira. Em abril, a mãe foi chamada pela psicóloga da escola e alertada inclusive sobre possibilidade de suicídio. “Me pediram para eu assinar uma carta confirmando que eu tinha ciência disso”, disse. O episódio mais recente foi dentro do ônibus escolar antes das férias em maio, quando uma menina mais velha, a mesma que a agrediu no ano passado, ameaçou bater se ela não desse a capinha do celular. Denúncia A mãe salienta que todos os episódios foram reportados à escola e também em um site do governo local pela própria Sophie. “É bom enfatizar que se a escola não der atenção, têm sites em que os pais podem reportar diretamente e daí a escola faz algo. A minha filha mesmo foi no site e denunciou porque a escola não dava atenção. Fizeram reunião e a trocaram de sala”, destaca. Diálogo e livro Vendo o sofrimento da filha, Pereira decidiu levá-la para comprar livros sobre o assunto e o resultado foi tão bom que inspirou a garota a escrever para ajudar outras crianças. “A psicóloga pediu a ela para escrever o que acontecia e o que ela sentia. Ela então começou a escrever, mas a ideia do livro só veio depois que viu outros já publicados sobre o assunto”, detalha. Hoje, Sophie escreve o “Stop bullying it is mean” e para ajudar outras crianças. Bullying por ser “brasileira” Em outro caso recente, no final de abril, a filha do brasileiro Jander Loureiro, que mora com a família em Jupiter, também foi vítima de bullying na escola.Segundo o pai, a garota de 11 anos estava em seu 5º ano na Hobe Sound Elementary School quando colegas começaram a chamá-la de imigrante desnutrida por ser brasileira. “Somos brasileiros, porém ela, o irmão e a mãe são cidadãos americanos”, pondera Loureiro que é de Manaus (AM). Loureiro conta que a filha já não estava querendo ir para aula por três dias. Os pais indagaram atá que a menina contou a verdade. “No dia seguinte, minha esposa mandou um bilhete para a professora e foi até à escola. Os professores então chamaram os pais dos colegas para conversar, mas eles não deram a mínima para o que estava acontecendo. Minha esposa disse então que, caso isso voltasse a acontecer, medidas drásticas seriam tomadas contra os pais. Depois disso, os alunos envolvidos foram suspensos e um deles foi transferido de escola, por não ser a primeira e nem a segunda vez que ele causava problemas. “Foi resolvido com sucesso, inclusive um dos alunos envolvidos mudou seu comportamento perante os demais alunos e a escola”, salienta. O filho mais novo de seis anos também chegou a defender vários coleguinhas de sala em situações que remetem a bullying pela nacionalidade. “Ele se envolveu em uma briga e quando fomos à escola, ficamos sabendo que ele estava defendendo outros colegas, hispanos e americanos, de americanos”, relata. Isolamento No terceiro caso, a filha de 10 anos de uma brasileira, que preferiu não se identificar, estuda em uma charter school em Coral Springs, e umas oito colegas da classe começaram a abusar e isolar sua filha. “Fui até à escola, conversei com as mães de algumas das meninas e tentei, inclusive, que elas se tornassem amigas, explicar o que estava acontecendo. Uma das meninas melhorou o comportamento, mas as outras não. Essa que melhorou passou a brincar com ela e inclusive dormiu na minha casa e até chegou a sair junto com a gente para passear. Depois de um tempo essa menina também se juntou às outras e passou a ignorar novamente minha filha”, conta. A mãe então procurou a escola e relatou o que estava acontecendo, porém, não adiantou muito. “Minha filha sentava sozinha na hora do recreio enquanto as outras estavam juntas. O disciplinador disse que aquilo não era bullying, era atitude normal de crianças e que iria verificar”, relata. Nesse meio tempo, além do isolamento, a mãe detalha que as meninas também xingavam de mentirosa e chegaram a empurrar a menina algumas vezes. Em um desses momentos, que foi registrado por câmeras, as alunas apareciam mandando bilhetes para quem estivesse perto dela dizendo que ela era mentirosa, só para os outros também se afastarem. “Insisti e a escola viu as imagens. Só aí confirmaram que de fato estava acontecendo um bullying”, desafaba. A menina passou a ligar da escola para a mãe buscá-la mais cedo fingindo que estava passando mal, "mas era por causa do que estava acontecendo”, disse. Segundo a mãe, depois das imagens, as meninas filhas de latinos melhoraram o comportamento por medo, mas duas americanas continuaram. A escola então colocou uma profissional para acompanhar sua filha, dizendo que ela teria que aprender a se defender ao invés de chamar pela mãe e voltou a insistir que não era bullying porque uma das meninas era agressiva também com outros alunos. “Eu disse à escola que procuro educar minha filha para respeitar e não fazer maldade com as outras pessoas e a instituição deixa isso acontecer como se fosse ‘normal’. Eles conhecem o comportamento da menina e disseram que ela não iria à viagem de final de ano como punição, pois ela foi”, relata indignada. Como acontece quase sempre, a mãe conta que tentou mudar a menina de classe, mas como era fevereiro, não conseguiu e vai tentar quando retornar o ano letivo. Traumatismo craniano e ameaças de morte “Meu filho tinha 10 para 11 anos quando as agressões começaram assim que ele entrou na Middle School. O ano passado foi particularmente desafiador para ele porque foi severamente intimidado, inclusive fisicamente que culminou com um traumatismo craniano, e durante quase todo o ano escolar depois de tentar ajudar outro garoto que também estava sendo intimidado. Como os meninos que o agrediram moram próximos, a nossa liberdade também foi ameaçada. Hoje, ele tem se isolado cada vez mais dizendo que ninguém gosta dele e ele realmente não tem amigos. A escola te ouve, mas não faz nada. Não tirei o filho da escola porque dentro ele estava se saindo muito bem, a turma é outra e ele não tem problemas dentro da escola, somente no ônibus escolar. O menino que agrediu meu filho não foi punido, mesmo com laudo médico indicando o traumatismo e nem a justiça pode fazer nada. A escola não pune ou corrige à altura os meninos que cometem o bullying. Fica o alerta para outras famílias”, relata uma outra mãe do sul da Flórida e que, pela segurança de toda a família, prefere não ser identificada. Estatísticas e lei Em 2017, a Flórida registrou 6.107 incidentes de bullying, o equivalente a 3% em todo o país, com 600 escolas sem nenhum registro, segundo o National Center for Education Statistics. Em todo o estado, o índice é de apenas um estudante em 1.000 é alvo de bullying. Entretanto, 64% de todas as vítimas de bullying nunca denunciam à polícia ou aos professores, o que pode “mascarar” o número real. Segundo a organização, o bullying LGBT nas escolas está em ascensão e as vítimas são menos propensas a denunciá-lo devido à culpa e vergonha. A Flórida tem a lei Anti?Bullying/Harassment s. 1006.147, F.S.? assinada em 2008 como a “Jeffrey Johnston StandUp for All Students Act” e que “proíbe o assédio moral e / ou assédio durante qualquer programa ou atividade educacional conduzida em instituição escolar K-12; em qualquer tipo de escola ou programa patrocinado pela escola ou atividade ou em um ônibus escolar de uma instituição pública de ensino K-12; bem como a partir de sistema de computador ou rede de computadores de uma instituição pública de ensino mencionada. A Lei Estadual requer que os distritos escolares adotem uma política com 14 componentes específicos que incluem meios de denúncia (incluindo anonimamente); meios de investigação; meios de notificar os pais; meios de comunicação de dados para o estado (BUL, HAR, UBL, UHR); instrução para alunos, pais, professores, escola, administradores, equipe de aconselhamento e voluntários escolares identificar, prevenir e responder ao bullying ou assédio e divulgação no Código de Conduta do Estudante e nos Manuais do Professor. Para mais informações sobre a lei, acesse www.fldoe.org/core/fileparse.php/7690/urlt/0070044-bullying.pdf Lei HB 7055 Mais de 100 projetos de lei sancionados pelo governador Rick Scott entrarão em vigor no próximo domingo, dia 1º de julho e dentre eles está a lei HB 7055 – que amplia a concessão de bolsas escolares pelo Florida's Hope Scholarship – dedicadas a alunos que enfrentam bullying ou assédio nas escolas públicas e que poderão ser transferidos para escolas particulares. É possível evitar O comportamento que leva à prática do bullying pode ser evitada com a observação atenta dos pais e da escola, e ambos acompanhando o dia a dia das crianças. Psicólogos e especialistas da área apontam para o foco especialmente nas crianças mais “fechadas”, tímidas e com dificuldade para fazer amigos. Elas tendem a ser o alvo do bullying com maior frequência. Essas crianças costumam ter dificuldade para pedir ajuda aos adultos e acabam não conseguindo se livrar das situações incômodas, ou até mesmo, tornando-se violentas e passando de agredida a também um agressor. O Gazeta News entrou em contato com o Florida Department of Education para se pronunciar sobre o assunto, mas até o momento da publicação não houve retorno.