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Brasileiros "presos" pela pandemia nos EUA lutam para voltar para o Brasil
Por causa da pandemia de coronavírus, a maior parte dos países fechou suas fronteiras, inclusive Estados Unidos e Brasil, resultando em cancelamentos em massa ou redução de voos, deixando milhares de brasileiros - pegos de surpresa - presos nos países onde já estavam. Viagens de férias, a trabalho, estudo – quase 7 mil brasileiros estão espalhados em 80 países diferentes e tentam voltar para casa sem sucesso, pela falta de voos e de recursos, segundo o portal Viagem e Turismo em consulta ao Itamaraty. Uma das saídas em meio à restrição do espaço aéreo e o cancelamento constante dos voos comerciais é a repatriação – voos especiais, negociados pelo governo brasileiro junto às empresas e às autoridades de outros países. Nesses casos, a retirada dos cidadãos é feita por voos fretados ou operados pelo próprio governo, como foi o caso de brasileiros resgatados por aviões da Força Aérea Brasileira no Peru e na China, cita o portal. No entanto, a estratégia não está sendo adotada em massa. Segundo o Itamaraty, a prioridade é acomodar brasileiros em voos comerciais ainda em operação. Lembrando que muitas companhias aéreas suspenderam os voos e vão retomá-los aos poucos em maio - medida sujeita a alteração conforme a situação da pandemia. Questionado sobre os brasileiros em situações de dificuldade fora do país, o ministério de Relações Exteriores afirmou que quem se encontra nessas condições deve entrar em contato com o consulado ou embaixada da região. Segundo o órgão, em várias ocasiões, representantes fizeram repasses de dinheiro para os necessitados, entraram em contato com alojamentos e têm buscado facilitar o acesso a remédios controlados para quem precisa. Gabinete Consular de Crise Por causa da pandemia, foi criado, no Ministério das Relações Exteriores, Gabinete Consular de Crise (G-CON) para assistência a viajantes brasileiros afetados no exterior. O próprio órgão menciona que o número de brasileiros nessa situação (no exterior, sem poder retornar ao Brasil) é alto, e pede que os interessados preencham formulário com seus dados pessoais e de contato e outras informações relevantes. "Os dados reunidos serão utilizados na busca de soluções para todos os brasileiros atualmente impedidos de retornar ao Brasil. Para informações específicas, não deixe de verificar a página eletrônica da Repartição consular brasileira mais próxima", orienta o site oficial. "Um empurra para o outro" Com quadro crítico de ansiedade e pânico, o retorno da produtora de eventos Daniele Buruaem, 38 anos, que está em Lake Charles, Louisiana, tentando voltar há quase um mês para São Paulo, não se resolve apesar de contatos e tentativas com a companhia aérea e órgãos brasileiros, inclusive com o Gabinete Consular de Crise. Segundo ela,"um empurra para o outro" e foi informada pelo consulado em Houston que "enquanto houver voos comerciais aqui, não haverá repatriação".
BRASILEIROS NA FL SE UNEM PARA AJUDAR PESSOAS EM NECESSIDADE DURANTE PANDEMIA
"Minha passagem foi comprada ida e volta (29 de janeiro com retorno para 8 de abril), mas por causa da pandemia, a Aeroméxico remarcou primeiramente para 9 de abril, só um e-mail de recolocação. E de lá pra cá só cancelam", conta. Desde então, com vários cancelamentos e remarcações da passagem, a produtora de eventos não sabe mais a quem recorrer. "O governo brasileiro me informou que o problema é mesmo da cia (sic) aérea e não deles. Agora, a Aeroméxico, companhia que eu vim e tenho passagem comprada pra voltar está cancelando e remarcando pela terceira vez, disse que não tá tendo voo para eu sair dos EUA e ir para o México, onde é a conexão", afirma. De acordo com a paulista, o pedido sempre foi que eles (cia aérea) arcassem com os custos da estadia inesperada ou a colocassem em algum voo imediato, "nem que seja endosso - por outra cia aérea". Mas tudo isso foi negado. " Desde o início, eles ignoram e disseram que eu tinha que comprar outra passagem e me virar", desabafa. E alega que a companhia mentiu sobre voos para o Brasil. "Desde o início dos cancelamentos, me disseram que não estava tendo voo algum para o Brasil e alegaram que o governo brasileiro proibiu estrangeiros de entrarem no país. Mas expliquei a eles que a regra é clara quando diz que tripulantes e passageiros em conexão podem e brasileiros poderiam voltar para o seu país. O que também dava para saber que era mentira porque a Azul e a United estavam atuando normalmente nessa pandemia". Estresse emocional Segundo ela, além do prejuízo financeiro por não ter mais dinheiro para se manter, a situação desencadeou um grande estresse emocional a ponto de precisar ser acompanhada por psicólogos de um programa gratuito específico para a ocasião. "Todos estes momentos estressantes acarretaram em mim uma vulnerabilidade emocional. Hoje estou cadastrada num programa gratuito para brasileiros de psicólogos e psiquiatras que atendem pessoas que estão em quarentena no exterior", menciona. Autônoma, Buruaem conta que trabalha com produção de eventos, coordena projetos sociais e atua como modelo. Apesar de estar hospedada na casa de uma amiga, não estava preparada para se manter por mais um mês. "Sofro de intolerância à lactose, enxaqueca e ansiedade, consigo controlar tudo isso com atividade física e alimentação balanceada, mas aqui e nessa situação, não estou conseguindo". Como última informação vinda da cia aérea, o seu retorno foi remarcado para 15 de maio. O Gazeta News entrou em contato com a Aeroméxico no Brasil e foi informado de que os voos entre Estados Unidos e Brasil estão sendo operados uma vez por semana em cada rota, saindo dos EUA somente às sextas-feiras e na rota contrária aos domingos. E entende que o caso da brasileira seja devido à redução dos voos. Passagens de 12 mil reais O que era pra ser um passeio de três semanas na Flórida, já está se estendendo para o segundo mês. O casal de Curitiba, Pablo Cortes e Meliani Veiga, aguarda na casa de uma amiga em Boca Raton o retorno que deveria ter ocorrido no início desse mês. "Viemos pela Copa Airlines. O voo de volta estava marcado para o dia 2 de abril. Eles dizem que o espaço aéreo do Panamá está fechado, por isso eles não podem voar". Segundo Cortes, a princípio, os voos seriam liberados até o dia 21 de abril, mas a última informação que recebeu passou a data para até 1° de junho. "Estamos na casa de uma amiga, de favor e não sabemos o que fazer mais. Sem dinheiro e sem informações sobre a volta. E pra comprar outra passagens, as poucas que têm de outras operadoras estão absurdamente caras!", analisa. Músicos, o casal trabalha com eventos no Brasil e estava com alguns marcados. "Não sei se aconteceriam por causa da pandemia, mas mesmo assim, já estamos tendo prejuízo porque não viemos para ficar mais tempo que o programado. A maior dificuldade é estar fora de casa, sem dinheiro, na casa dos outros, e sem informações", conta.BRASILEIROS FALAM SOBRE O IMPACTO NA ROTINA E NOS NEGÓCIOS POR CAUSA DO CORONAVÍRUS
Como chegaram na primeira semana de março, as medidas restritivas estavam ainda no início. Questionados se não ficaram preocupados, eles disseram que não imaginariam que a situação fosse ficar extrema. "Acho que ninguém poderia imaginar isso que aconteceu. Já procurei o consulado de Miami, mas não me responderam, nem as ligações nem os e-mails. Liguei nos aeroportos e não consigo retorno. Liguei no Itamaraty no Brasil e me falaram que eu tenho que comprar outra passagem pela Azul ou United, as únicas que parece que estão operando, porém os valores para duas pessoas chegam a custar 12.000 reais, um absurdo!", desabafa. "Só mandam a gente 'aguardar'" Pilar Franco, 67 anos, veio de Santos (SP) visitar a filha e o genro que moram em Miami e era pra ter retornado também no início deste mês. "Quando os locais começaram a ser fechados já fazia 15 dias que eu estava na Flórida. Cheguei dia 1° de março e teria que voltar dia 3 de abril. Minhas passagens foram compradas pela American Airlines. Devido ao cancelamento das viagens internacionais, fiz contato com a empresa várias vezes e não obtive retorno, só recebia mensagens que era pra aguardar. Faltando dois dias pro (sic) embarque recebi e-mail dizendo que meu voo havia sido cancelado que era pra aguardar. Depois disso remarcaram o voo para o dia 8 de maio, ou seja, 34 dias depois!", detalha. Além da distância e preocupação com o resto da família que está em Santos, como trabalha com vendas de joias e semi-joias, Franco disse que ainda não parou para calcular o prejuízo financeiro. "Tive que desmarcar reuniões com os representantes das fundições quando seria pra escolher as mercadorias para o dia das mães - uma data que vendo muito", relata. Como os milhares de brasileiros que aguardam mundo afora o retorno, Franco disse que jamais imaginaria que chegaria a esse ponto. "Não havia nada referente a contaminação nos EUA ou Brasil ainda quando eu vim. Nem de longe imaginava que iria passar por tudo isso! Ninguém poderia pensar na proporção que essa pandemia alcançou! Eu nem viria pra cá sabendo disso, iria transferir a passagem pra outra data, afinal minha família toda está em Santos e fico muito preocupada", desabafa. "Minha filha está grávida e eu sou pessoa de risco pela idade, estamos em quarentena direto. Eu me pergunto, se não tivesse lugar pra ficar, como seria?", finaliza. O Gazeta News entrou em contato com o Consulado do Brasil em Miami para saber sobre a situação dos brasileiros que aguardam na Flórida o retorno, mas não houve resposta até a publicação desta edição. Brasileiros pelo mundo aguardam repatriação E não é só nos EUA que brasileiros pedem ajuda para voltar ao Brasil. São pelo menos 7 mil que ainda aguardam repatriação ou voo de volta. Um grupo de 30 brasileiros ficou acampado no aeroporto de Lisboa sem assistência e sem data de retorno ao Brasil desde o dia 25. Os que estavam em situação mais grave de saúde foram colocados em voos que ainda operam após muita insistência com o consulado e o Itamaraty, mas até o momento, ainda há integrantes do grupo aguardando repatriação, segundo informação do UOL. Medida provisória em votação para ajudar na repatriação dos brasileiros O Plenário do Senado está para votar em sessão remota, a medida provisória apelidada de “A Hora do Turismo” (MPV 907/2019) que reformula a Embratur, transformando-a numa agência de serviço social autônomo, e a Câmara dos Deputados incluiu no texto a possibilidade de a Embratur contribuir na logística de repatriação de brasileiros que não conseguem voltar ao país por causa da pandemia da covid-19. Se aprovada, a MP precisará passar por sanção do presidente da República. Os números de contato de emergência no exterior estão disponibilizados no link (http://www.portalconsular.itamaraty.gov.br/no-exterior/plantao-consular-3) Leia também