Brasileiros perdem bolsa de estudos por não conseguirem entrar nos EUA

Por Ana Carolina Aguiar

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Alguns dos estudantes brasileiros que estão no Brasil impedidos de entrar nos Estados Unidos por causa da medida imposta pelo governo americano de barrar a entrada de brasileiros durante a pandemia da Covid-19, já perderam suas bolsas de estudos.  Em maio, o governo de Donald Trump anunciou a proibição da entrada de estrangeiros vindos do Brasil, com exceção para residentes permanentes, cidadãos americanos e outros, prejudicando não só parte dos 20 mil brasileiros que estudam nos EUA que tinham voltado ao Brasil durante as férias, mas também os que foram aprovados e iniciariam os estudos nesse outono. O semestre de alguns estudantes já começou, significando que eles já estão perdendo aulas. Outros começam no final do mês. Ansiosos e sem resposta, os estudantes se juntaram em um grupo que implora ao governo brasileiro uma solução.  We The Foreigners Daniel Setton, de 20 anos, é estudante de Administração e Marketing na University of Evansville, em Indiana. Ele criou a página We The Foreigners no Instagram, movimento para divulgar a situação dele e de estudantes como ele. O grupo conta com 200 estudantes buscando por respostas do governo brasileiro.  Daniel contou ao Gazeta News que ele e os estudantes do movimento diariamente tentam chamar a atenção de jornalistas e políticos nos posts da página criada por ele, para que recebem o máximo de ajuda possível. Em relação a respostas do Itamaraty, Daniel explica que “eles só divulgaram informações para a imprensa. Sempre falam que é uma questão de soberania de outro país, mas isso todo mundo sabe. O que nós reivindicamos é que o a diplomacia do Itamaraty negocie uma concessão para os estudantes brasileiros, o que é obrigação deles”. Daniel explica que das seis disciplinas que precisa cursar nesse semestre, cinco são presenciais. “Os professores não vão adaptar as aulas para serem online, porque eles não têm essa obrigação”, conta ele. Se ele não conseguir fazer o mínimo de quatro aulas no semestre, pode perder sua bolsa e ter de adiar sua graduação. As aulas de Daniel voltam dia 26 de agosto, e o voo de volta para os EUA estava marcado para terça, dia 18. Daniel perdeu o voo e ainda não tem respostas sobre o resto de seu semestre. No caso do estudante David Caldas, de 19 anos, é preocupante o fato de suas aulas de laboratório serem presenciais, porque seu curso de Neurociência e Antropologia Médica na Creighton University em Nebraska, exige. Ele também faz parte de iniciativas de laboratórios de pesquisa na instituição, e sua ausência o irá prejudicar. David contou ao Gazeta News que faz parte do programa de honra da universidade, e é presidente da Associação de Alunos Internacionais, e da maior organização da universidade: o governo residencial (Inter Resident Hall Government). “Todos estes cargos e ocupações necessitam da minha presença no campus para usufruir não só da carga intelectual que elas me provêm, mas também das bolsas de ensino que vem com elas e possibilitam minha estadia nos EUA”, explica David, que, com tantos cargos acadêmicos, sua ausência vai muito além da sala de aula. David explicou que descobriu sobre o We The Foreigners nas redes sociais, e decidiu entrar em contato com Daniel, já que tinha muitas conexões políticas que poderiam beneficiar o movimento. Se não conseguirem voltar, David reflete que os estudantes podem perder além de bolsas de estudo, oportunidades de trabalho, cargos executivos e posições de pesquisa. Sem a bolsa de estudos  As estudantes Carol Nakata e Bruna Pacheco também participam do movimento e contam que já perderam bolsas de estudo que haviam conseguido. Carol, de 20 anos, está no último ano do curso de Psicologia e Comunicação na Malone University, em Ohio. Segundo ela, o início de suas aulas é dia 24 de agosto, e precisaria voltar por conta de seu trabalho como Assistente Residencial (RA), no qual um treino é necessário e já começou dia 12 de agosto. Como ela não conseguiu voltar, a substituíram e deram sua bolsa para a menina que a substituiu. Bruna Pacheco, de 24 anos, perdeu uma bolsa de mestrado por não conseguir voltar. Ela se formou em Comunicação enquanto era estudante atleta de Tênis. No final de agosto, Bruna  começaria seu mestrado em Global Business em Fulton, Missouri, na Universidade William Woods com 100% de bolsa, mais moradia e alimentação. “Ganhei essa oportunidade maravilhosa pois, enquanto fizesse mestrado, eu iria também trabalhar para a Universidade na área de Esportes”, explica Bruna. A oportunidade foi perdida e agora a estudante terá de procurar outro mestrado em outra faculdade, além de outro emprego. As novas buscas de Bruna irão começar em janeiro de 2021. Não são poucos os estudantes brasileiros que perderam oportunidades que mudariam suas vidas. E os que não perderam tudo, terão de lidar com as muitas complicações que o fechamento da fronteira causou. O que dizem as autoridades brasileiras e dos EUA Em contato com o Itamaraty, a informação dada na terça-feira, 18, é de que "o governo brasileiro está em permanente contato com as autoridades norte-americanas em busca de soluções para esses e outros casos decorrentes de restrições migratórias e sanitárias impostas durante a pandemia de COVID-19. É necessário, porém, compreender que, em todo o mundo, a autorização de ingresso em território de país estrangeiro é competência exclusiva e soberana das autoridades imigratórias do respectivo país". Na segunda-feira, 17, Trump disse em coletiva de imprensa que considera suspender a proibição de entrada dos estudantes brasileiros ao país. “Estamos olhando para isso muito de perto. Estamos cuidando de todos eles”, afirmou ao ser questionado sobre a possibilidade de conceder uma permissão de entrada para os brasileiros. Estudantes da Europa e de outros países tiveram a entrada liberada pelos EUA após pedidos dos seus representantes. Em vídeo divulgado no Instagram, o grupo de alunos brasileiros faz um apelo às autoridades brasileiras para que intercedam por eles junto ao governo americano. 
17 de Ago, 2020 às 12:36 PDT

*Matéria produzida com colaboração e supervisão de Arlaine Castro. 
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