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Brasileiros estão confinados em navios de cruzeiro há mais de 2 meses na costa da Flórida
Brasileiros relatam drama por estarem confinados em navios de cruzeiro há mais de 2 meses na costa da Flórida Dois meses após o desligamento da indústria de cruzeiros em meio a repetidos surtos de COVID-19 em navios, mais de 100.000 tripulantes permanecem presos no mar com poucas informações confiáveis ??sobre o que lhes acontecerá, contabiliza o Miami Herald. Os tripulantes a bordo - muitos já não recebem salários - aguardam notícias sobre quando voltarão para casa e verão suas famílias novamente. Do sul de Miami até Cuba e no nordeste das Bahamas, dezenas de navios de cruzeiro navegam de um lado para o outro. De vez em quando, eles chegam aos portos da Flórida para reabastecer. 200 brasileiros Só em um desses navios estão quase 200 brasileiros que aguardam repatriação. Uma delas, ancorada no Porto de Miami desde março, é a chef de cozinha Luíza Lucchesi, 29 anos, que conta cada minuto que passa para voltar para Belo Horizonte (MG). Há mais de dois meses confinada, a mineira contou com exclusividade ao Gazeta News que o navio tem quase três mil pessoas - todos tripulantes- dentre eles uns 200 brasileiros, e que os dias têm sido de luta para manter a saúde mental até poder voltar para casa.
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Segundo ela, houve recentemente uma troca de navios e todos os brasileiros que trabalham na empresa Norwegian Cruise Line estão a bordo no navio. "Somos quase 200 agora". "Eu estou no Norwegian Cruise Line Epic. Somos quase 3 mil membros. Eu estou em uma cabine de passageiros sozinha, mas alguns estão em cabines de tripulante (que são muito menores e bem mais desconfortáveis) e outros estão dividindo cabine", explica. Impacto na saúde física e mental Segundo Lucchesi, a mudança física nas pessoas é visível por causa da alimentação e pela ansiedade. Ela deveria ter retornado ao Brasil no dia 4 de abril, mas foi impedida por critérios do Centers of Disease Control (CDC) e não sabe quando poderá desembarcar. "Há 80 dias não ponho o pé em terra firme. A comida de um modo geral não é muito boa, é sempre a mesma e pouco nutritiva, são poucas opções de proteína, é praticamente carboidratos e gordura. Comparando com o início do lockdown quase todas as pessoas que estão aqui ou engordaram ou emagreceram muito, é visível a mudança", menciona. Suicídios O Gazeta News conversou também com Patrícia Lucchesi, mãe de Luiza, que mora em Belo Horizonte e contou que está preocupada pela saúde da filha. "O retorno dela para o Brasil estava previsto para o dia 4 de abril. De passagem comprada e com todos os procedimentos para desembarque realizados, ela recebeu a notícia do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) de que, justamente a partir daquele dia, tripulações de navios estariam proibidas de embarcar em voos comerciais", conta. Ela disse também que soube por meio do contato no Itamaraty que o CDC liberou desde o dia 11 o retorno de todos os brasileiros no navio, mas a empresa ainda não informou a eles quando isso vai ocorrer. "A situação fica cada dia mais tensa, inclusive com racionamento de comida, eles não dão notícias à tripulação para não criar ainda mais expectativas, pois a cada dia o CDC cria mais dificuldades, ninguém sabe ao certo o que está acontecendo, nem eles, no navio, nem os familiares. Eles estão enfrentando muitas filas para o restaurante, há aglomerações, e inclusive houve um surto de gastroenterite recentemente, o que é relativamente comum em navios. O mais preocupante são os relatos de três casos de suicídio em uma única semana", conta. O que fazem as autoridades sobre o problema Apesar dos problemas, a jovem embarcada acredita que as autoridades estão empenhadas em tirá-los dessa situação. "A empresa está trabalhando duro para nos mandar para casa, o problema maior tem sido as restrições do CDC. Estamos em contato direto com o Consulado aqui em Miami, sabemos que eles estão fazendo pressão constante nas empresas de cruzeiro e no CDC para que possamos voltar logo", afirma. O Gazeta News entrou em contato com o Consulado do Brasil em Miami que orientou a procura ao Itamaraty no Brasil, e até o momento dessa publicação, não houve retorno. Medidas preventivas Em relação às medidas de segurança impostas pelo CDC, a companhia de cruzeiros tem feito tudo certo e mantido a higienização de áreas e vigiado o distanciamento social, segundo Lucchesi.Governador se opõe a deixar navio com 189 doentes atracar no sul da Flórida
"Cumprimos o distanciamento social, mesmo nas filas do restaurante e do crew mart, estamos operando em código vermelho, o que significa que no buffet nós somos servidos para evitar várias pessoas tocando o mesmo talher. Os corredores e corrimãos são sanitizados várias vezes ao dia e os banheiros das cabines cerca de uma vez por semana. Além disso, a minha cabine tem uma varanda a estibordo, então eu vejo quando o navio recebe carregamentos, e os pallets são todos higienizados com produtos antes de entrar no navio. Qualquer pessoa com sintomas de gripe é isolada imediatamente por 14 dias e temos as nossas temperaturas checadas ao menos duas vezes ao dia". A única área pública do navio aberta aos tripulantes é o deck da piscina, que com o número de pessoas a bordo está sempre lotado, por isso, ela diz que prefere evitar e fica mais na cabine. Filas enormes e dificuldades Segundo Luiza, a empresa fornece um crédito diário para que eles comprem produtos de higiene, mas as filas são enormes e desanimadoras. "O crew mart está sempre lotado, ontem fiquei duas horas na fila para comprar shampoo e condicionador!", desabafa. "Voltarei a trabalhar em navios" Mesmo em meio à incerteza causada pela pandemia e a consequente situação, a chef de cozinha diz que o lado positivo de tudo isso são os laços de amizade criados e que talvez em outra circunstâncias não seriam tão fortes. "Principalmente entre os brasileiros, nós nos apoiamos e tentamos cuidar uns dos outros quando vemos que alguém não está legal. Esses são alguns dos aspectos positivos que eu vou levar dessa pandemia que já causou tanto stress e sofrimento no mundo todo. Apesar das dificuldades e dos problemas que estamos enfrentando depois do lockdown eu gostaria de continuar a trabalhar em navios, penso em voltar assim que for possível", salienta. "A gente já não acredita mais, porque estão sempre cancelando os voos" O casal Jéssica Furlan e Caio Saldanha está em situação semelhante só que em navio de outra empresa. O Gazeta News foi procurado por familiares que estão preocupados. O navio em que estão os dois tripulantes saiu da costa da Flórida e segue em direção ao Caribe. "Eles estão confinados em navios desde o dia 14 de março. Foram para trabalhar no navio Celebrity Infinity da Royal Caribbean, depois de 2 meses lutando para vir para casa, sem sucesso, foram para o navio Celebrity Reflection. Estão em uma cabine, mas o navio está muito lotado de tripulantes. Estão muito abalados psicologicamente", conta a mãe de um deles (não identificada a pedido) e que também está desesperada pela situação. "Minha filha foi trabalhar como apresentadora e o meu genro como DJ". Segundo informações da mãe, eles seguem em direção a Barbados, uma ilha do Caribe oriental, com previsão de voo para o Brasil no dia 27/05 saindo de lá. "Mas a gente já não acredita mais, porque as outras vezes cancelaram os voos", afirmou. De acordo com Rosemeire, depois que mudaram de navio, a filha e o genro disseram que estão um pouco melhor, com um pouco mais de conforto na cabine e melhor comida. O que preocupa mesmo é a ansiedade. “Estão desesperados para voltar para casa pois já estão 65 dias confinados", desabafa. Ao Gazeta News, Caio disse que "os dias confinados estão sendo muito longos", e confirmou a data prevista para de retorno ao Brasil para o dia 27 de maio, "porém, não há confirmação até o momento. Essas datas são possibilidades", disse. O CEO da Royal Caribbean International, Michael Bayley, anunciou inicialmente que funcionários de vários países seriam transportados de volta dos EUA, mas até então a empresa só concordou em repatriar 20 pessoas usando o processo CDC - todos cidadãos americanos. No dia 8 de maio, Bayley disse que algumas tripulações internacionais serão levadas de Barbados para casa, em vez dos EUA. É o caso de Jéssica Boni Furlan e Caio Saldanha.