Alguns brasileiros que perderam a cidadania italiana após a comuna de Ospedaletto Lodigiano, na Lombardia, anular todos os registros provenientes do Brasil dizem terem ficado surpresos com a decisão do município italiano. A pequena cidade, que tem 1.574 moradores, tinha 1.118 brasileiros inscritos como residentes. Um grupo de quase 200 pessoas se uniu para tentar reverter a decisão, de acordo com O Globo.
O curitibano Márcio, que pediu para não ter seu verdadeiro nome revelado, disse que não sabia que estava fazendo algo ilegal. Em depoimento a RFI Brasil, Márcio disse que pagou € 3 mil pelos serviços da agência de migração Monza, que pertence a um casal de brasileiros que foram presos, em 2015. “Não tinha por que desconfiar. O trabalho foi correto”, declarou o curitibano.
As cidadanias foram canceladas depois do escândalo envolvendo pagamento de propina a um policial da cidade de Ospedaletto Lodigiano.
O brasileiro conta ter vivido 45 dias na pacata cidade. Depois de uma semana da apresentação do processo, a polícia foi até sua casa para reconhecer o endereço declarado.Ele ainda não recebeu nenhuma comunicação oficial das autoridades italianas e não procurou o Consulado-geral da Itália na capital paranaense para obter mais informações.
Vera Donnangelo, cujo nome consta na lista, declarou ao jornal O Globo que está perplexa com a decisão. Ela afirma que seguiu todos os procedimentos normais e nega qualquer ilegalidade.
Vera, que é filha de italianos, disse que fez o pedido através de um escritório de advocacia em Brasília. Ela disse que nem tentou fazer pelo Consulado, pois o processo demoraria de 10 a 12 anos. “Teve essa opção de fazer lá, o que a maioria das pessoas está fazendo”, afirmou.
Fixar residência na Itália é um dos requisitos para todos os estrangeiros que têm direito à cidadania italiana “Iure Sanguinis”, ou seja, por descendência direta, e que pedem o reconhecimento em território italiano.Porém, a lei não é clara sobre quanto tempo é necessário para ser considerado um morador de fato. A prática de pedir o reconhecimento na Itália é muito comum para evitar a morosidade dos consulados italianos no Brasil, que podem ir bem além dos dois anos previstos por lei para finalizar o processo.
Este foi o motivo que levou *Márcio a optar pelo reconhecimento na Itália. Em Curitiba, o Consulado-geral levaria até 10 anos para o reconhecimento. O brasileiro queria ter a cidadania rapidamente reconhecida para “aproveitar das oportunidades que a Europa oferece”.
Segundo ele, a revogação foi ilegal, e ele nem foi intimado para prestar esclarecimentos.
A prefeita de Ospedaletto Lodigiano, Lucia Mizzi, afirma que o atestado de residência dos brasileiros foi falsificado pelo comissário de polícia local e que por isso o funcionário da prefeitura não poderia ter reconhecido a cidadania.
A prefeita decidiu revogar a cidadania depois de uma sentença do Tribunal de Lodi, que levou à prisão de 4 pessoas. Entre elas está um casal de brasileiros dono de uma agência de migração em Monza, além do comissário de polícia local e um funcionário da prefeitura, que eram subornados pelo casal. A revogação inclui processos reconhecidos entre julho de 2015 e julho de 2017. Com informações de O Globo e G1.