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Brasileiro relata rotina dentro de prisão de imigração nos EUA
Detido pela polícia no dia 27 de abril em Clearwater (FL), o carioca Cheligran Henriques, 38 anos, contou com exclusividade ao Gazeta News sobre a rotina dentro de uma prisão para imigrantes nos três meses e meio em que ficou detido até sua deportação, no dia 15 de agosto. Ao voltar do trabalho e já próximo de casa, parado no semáforo, a polícia viu que o carro do brasileiro estava sem a placa e o parou. A placa havia caído e ele não percebeu. Como não estava legalmente no país e com histórico de outras quatro infrações por dirigir sem carteira, mesmo tendo pago fiança de $250 dólares, o carioca foi parar no Krome Immigration Detention Center – o Centro de Detenção de Imigrantes em Miami. Henriques conta que tinha uma companhia que fazia serviços de calçamento, popularmente conhecido como ‘brick” entre os imigrantes, e tentou de tudo para juntar o dinheiro da fiança estipulada pelo juiz de imigração: $10 mil dólares. “Tentei amigos, familiares, conhecidos. Mas ninguém pode me ajudar. Eu tinha dinheiro para receber lá fora, inclusive de uma camionete que vendi, mas o camarada disse que não ia me pagar porque eu seria deportado mesmo. É isso aí. Quando a gente mais precisa não tem com quem contar. Alguns amigos até tentaram, mas é difícil”. Ainda na prisão da imigração em Tampa, antes de ser transferido, Henriques conta que houve uma pressão para que ele assinasse logo os documentos da deportação. “O agente ficava tentando por pressão pra eu assinar logo a deportação, dizendo que seria mais fácil e que era perda de tempo não assinar. Eu disse que não assinava nada sem falar antes com advogado ela então disse que ia me mandar pro Krome em Miami”, relata. Segundo as palavras de Henriques, como um criminoso, algemado nos, pés, cintura e mãos, ele foi transferido. “Achei isso um verdadeiro desrespeito. Ser tratado como um criminoso perigoso. Porque é assim que fazem a gente se sentir com esse monte de algema toda”. Suprema Corte para deportação de brasileiro e abre precedentes Chegando ao centro de detenção em Miami, foi preciso esperar para ser atendido e fazer a parte burocrática da “entrada”. “Eles jogam a gente primeiro numa sala com bancos de cimento e ‘megagelada’ e ficamos horas lá, sofrendo e esperando ser atendido. Depois dali, eles põem a gente dentro do presídio”, disse. Por três meses e meio, Henriques conta que jogou carta, viu televisão e tomou banho de sol enquanto lutava para sair. “Lá dentro eu fiquei três meses e meio lutando pra sair com a pouca ajuda que recebi dos poucos amigos. Achei que tinha amigo, mas, infelizmente, brasileiro é uma raça desgraçada na hora de ajudar”, desabafa. “Vamos, animais” Henriques conta que antes dele ser deportado tinham cerca de 12 brasileiros no centro de detenção. “Toda hora entra e sai gente”, relata. O carioca faz questão de falar sobre as condições que os imigrantes são tratados lá dentro. Para ele, é muito humilhante o modo como alguns agentes agem com os internos. “Lá é como um grande galpão com áreas divididas: algumas onde ficam as camas, outra área dos jogos, de televisão, refeitório. Nos acordam às 6 da manhã e ligam a televisão na maior altura. Parece que fazem de sacanagem mesmo. Um dos agentes fica chamando os detentos de animais. ‘Vamos, animais’, quando vai chamar para sair ou para o café. A gente tem que arrumar as camas e esperar para sair para o café às 7 ou 7h30. Nesse meio tempo tem alguns que arrumam e outros que não. Depois do café, a gente volta e tem que limpar a área”, conta. Brasileiro é condenado à prisão por reentrada ilegal após deportação Recreação obrigatória De acordo com Henriques, todo mundo é obrigado a sair para a recreação. “Uma das coisas que estranhei foi que, mesmo doente, eles me obrigaram a ir para a área externa. Eu disse que estava com febre e muito gripado, ele disse que não queria saber e mesmo assim tive que ir. Nessa recreação ficamos por umas horas, onde tomamos sol. Depois eles nos colocam para dentre de novo para o almoço, por volta de 11h30”, detalhou. Henriques salienta ainda que, depois do almoço sempre fazem uma checagem dos detentos. "Isso dura 1 hora mais ou menos e depois eles liberam para a recreação onde dão jogos e quebra-cabeça. Podemos jogar cartas e ver televisão", conta. Para cortar o cabelo ou a unha, é preciso agendar com antecedência e Henriques conta que alguns passam meses sem cortar porque não conseguem ou não lembram de agendar a tempo e precisam esperar meses. “Tinha gente lá com a unha tão grande que raspava no chão porque não conseguia agendar”, conta. A deportação Sem documentos, porque, segundo Henriques, não devolveram o seu passaporte vencido, e sem roupas e dinheiro, e mesmo dizendo que sua família mora no Rio de Janeiro, ele foi mandado para São Paulo. “A imigração me mandou pra SP sendo que tinha voo pro Rio e eu falando que não tinha contato com minha família e eles não sabiam que eu estava sendo deportado. Eu não tinha um centavo. A minha sorte que o irmão de um rapaz que também estava preso depositou 50 dólares na minha conta e foi o que me salvou. Além disso, outros pertences pessoais como celulares, roupas e cartão de banco também ficaram para trás”, completou. Para Henriques, a mudança de governo apertou bem mais para os imigrantes que não estão legalmente no país. “Fui pego outras vezes, quando era do governo Obama, mas fui ao tribunal, paguei multa e saí. Acabou ali”, disse. Mesmo assim, ele questiona a justiça de imigração nos EUA: “Quem oferece mais risco para a sociedade? Eu que fui pego dirigindo sem carteira quatro vezes ou um mexicano que foi pego sete vezes sem carteira e dessas, três vezes estava bêbado?” indaga. Apesar de ter sido deportado, Henriques afirma que, se pudesse, voltaria. “Sei que provavelmente nunca mais voltarei aí. Eles não me dariam visto de novo”, conclui. Leia também Brasileiro informante do ICE ganha recurso contra processo de deportação