Brasileiras denunciam francesa por exploração de modelos na Índia
As duas contaram à “BBC Brasil” que tiveram que trabalhar em uma festa servindo uísque na boca dos homens, sofrendo assédio e trabalhando até de madrugada, algo que não estava previsto no contrato e se repetiu diversas vezes. A partir daí, a situação foi se agravando, e segundo as modelos, em vez dos $2,1 mil dólares que deveriam receber por mês, da agência Be One Talent, gerida pela francesa Sabrina Savouyaud, ganhavam apenas $160 dólares.
Savouyaud, que era a dona da casa onde estavam hospedadas, passou a maltratá-las e a casa não tinha nenhuma higiene. As duas então buscaram informações sobre a agente na internet e encontraram relatos na imprensa indiana de outras modelos que acusavam a francesa de maus-tratos.
Ajuda do consulado Quando resolveram procurar o consulado brasileiro, em fevereiro, pouco após completarem um mês na Índia, as modelos tiveram mais uma surpresa, ao descobrirem que os contratos que haviam assinado ainda no Brasil, em inglês, previam multa de $500 mil dólares caso abandonassem o trabalho antes do prazo de seis meses.
Segundo Menezes, durante a assinatura do contrato, a agência teria explicado que elas ganhariam 50% dos trabalhos que fizessem, mas não disse nada sobre as festas nem da multa.
Os diplomatas brasileiros lhes disseram que o exagerado valor da multa invalidava os contratos e ofereceram ajuda para hospedá-las caso quisessem deixar a casa da agente. Antes, porém, as duas procuraram Savouyaud para exigir os cachês pelos trabalhos, que, conforme o contrato, só seriam pagos no final da viagem, mas ela disse que por quebraram o contrato não receberiam nada, e ainda cancelou os bilhetes de volta ao Brasil. Menezes calcula que tinha $5 mil dólares a receber; Kaminski, $10 mil dólares.
As duas deixaram a casa e se hospedaram no hotel pago pelo consulado. A passagem de Kaminski foi comprada por seus pais; a de Menezes, por um empresário indiano que se compadeceu ao ouvir a história.
Alerta do Itamaraty Segundo informou ao “BBC Brasil”, Luiza Lopes da Silva, diretora do Departamento Consular e de Brasileiros no Exterior, ao menos 20 modelos brasileiras relataram ter sofrido maus-tratos na Ásia. “Calculamos que entre 100 e 200 modelos brasileiras possam estar nessa situação na Ásia, neste momento”. Além da Índia, país com maior número de queixas, já foram registrados casos na China, Coreia do Sul, Filipinas, Malásia e Tailândia.
Segundo Lopes, o Itamaraty tem orientado sua rede consular a colher o máximo de informações sempre que receber denúncias de modelos no exterior, para identificar outras brasileiras que estejam na mesma situação. Os esforços do órgão, no entanto, têm se concentrado na prevenção.
Para evitar novas ocorrências, o Itamaraty lançou, em maio, uma Cartilha de Orientações para o Trabalho no Exterior. A publicação, disponível na internet e distribuída à rede consular brasileira, têm como principais públicos-alvo modelos e jogadores de futebol.
A cartilha faz uma série recomendações a quem receber oferta de trabalho no exterior, como preferir a negociação com empresas de grande porte e registrar-se na Embaixada brasileira assim que chegar ao país de destino. O compêndio também lista entidades privadas e representações diplomáticas que podem auxiliá-lo se enfrentar dificuldades.