Brasileiras dão exemplo de superação na Flórida

Por Arlaine Castro

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As brasileiras têm conquistado cada vez mais espaço e vêm aumentando a participação ativa na Flórida. Na contagem geral da população do estado, o gênero feminino ultrapassa o masculino e com a comunidade brasileira não é diferente. As brasileiras representam *57% da população brasileira no estado, segundo levantamento do American Community Survey de julho de 2017. Em 2017, as mulheres representavam 51.1% da população total estimada em 20.984.400 do estado. Com mais de 10 milhões de mulheres na Flórida, o universo brasileiro conta com pelo menos 50 mil mulheres, segundo a pesquisa. As mulheres somam 10.193,189 em todo o estado, com a diferença de 451.927 mulheres a mais que a população masculina. A maior parte desse conjunto é de mulheres adultas - 2,744,569 - na faixa etária de 45 a 54 anos. A segunda faixa etária com maior número de mulheres são jovens entre 25 e 34 anos. Na comunidade latina ou hispana há 4.806,854 de mulheres. Brasileiras na Flórida O levantamento do American Community Survey aponta um total de 84,772 brasileiros em 2016, sendo 57.2% mulheres e 42.8% homens. A maior parte das brasileiras está na fase produtiva - 60.8% estão na faixa de 35 a 64 anos; 90.5% possui escolaridade média ou superior e cerca de 23, 324 possuem mais de 16 anos e estão empregadas. Na parte profissional, 39.1% - a maior parte - trabalha no setor de serviços; 33.6% ocupa a área de negócios , e 24.1% trabalham na área de vendas e escritório. Em ganhos anuais para trabalhadores de tempo integral, as brasileiras são em maior número que os brasileiros - enquanto eles são 13,231, elas são 13,456. No universo brasileiro, 15% das mulheres mantêm sozinhas a família, são provedoras sem presença masculina na casa. Dentre as milhares de brasileiras na Flórida, boa parte possui uma história de vida de superação, de luta, seja por ter que manter os filhos sozinha, por ter se tornado vítima de violência doméstica ou em caso de saúde, por acompanhar sozinha o filho em tratamento, a história de luta representa a força que as mulheres têm para enfrentar os problemas em um país diferente e seguir adiante. Histórias inspiradoras As histórias inspiradoras de três brasileiras que vivem na Flórida servem como exemplo para tantas outras mulheres. Na primeira delas, a Gecilene Oliveira Matos, conhecida por muitos como mãe do menino Matheuzinho que veio em junho de 2016 para fazer um transplante de intestino no Jackson Memorial Hospital em Miami. Sozinha com o filho na Flórida, Gecilene conta que se divorciou pouco antes de vir para Miami com o filho e teve medo de não dar conta da situação sozinha, mas contou com o apoio de familiares e amigos que a ajudaram a encarar a realidade sem esmorecer e, principalmente, sem deixar de lado a vida pessoal e o lado mulher. Desde que eu cheguei, vim sozinha e estou sozinha. O pai do Matheus acompanha o tratamento do Brasil e vem sempre que pode para ficar ao lado do filho, mas não pode ficar direto. Meu irmão mais velho veio pra me ajudar, mas só pode ficar quatro meses. Porém estamos seguindo bem, somos dois guerreiros. Matheus contribui muito, pois segue à risca tudo o que o médico pede, e é muito obediente como filho. Esse instinto de mulher, de proteção que temos é muito maior do que opiniões negativas e os obstáculos. Quando a campanha aumentou e eu me dei conta de que conseguiria o transplante para o Matheus em Miami, prometi ao meu filho que faria de tudo para vê-lo longe dos fios. Me sinto vitoriosa por não ter desanimado em momento algum e hoje o meu filho está muito melhor. Opiniões contrárias foram muitas, tanto em rede social como de pessoas próximas, que diziam que ele não sobreviveria. E hoje somos exemplos para outros tipos de mães e crianças. “Quando fiquei sabendo que meu filho teria que ficar ligado a um aparelho toda a vida, cheio se sondas e fios, eu entrei em desespero. Fiquei triste, mas busquei força em Deus. Contei com duas amigas que me encorajaram e me preparam emocionalmente para tudo que estava por vir. Acho que quando a gente confia em Deus e temos pessoas que nos apoiam, a gente consegue”. Ser mulher: a importância da autoestima Desde que o Matheus nasceu, as pessoas me julgavam porque eu sempre estava arrumada mesmo com um filho doente. Elas acham que quem tem um filho doente tem que se entregar, adoecer junto. Penso que, para eu fazer o meu filho ficar bem, eu teria que estar bem comigo mesma primeiro. No hospital mesmo eu procurava fazer exercício físico, fazia unha, cabelo, o que precisasse para me sentir bem. Era importante pra mim, dava força a mim e automaticamente ao meu filho. Em momento algum eu quis desistir. Nem dele e nem de mim”, relata emocionada. Algumas mães que passam por situação parecida de filho doente a procuram. “Faço questão de ajudar outras mulheres porque tudo o que a gente precisa é de apoio, parece que tudo fica um pouco mais leve. Fico feliz de hoje a história ser inspiração para outras crianças e famílias”, relata. A gente sempre acha que não vai dar conta, mas graças a Deus, a gente consegue com apoio superar tudo. Consegui até hoje cuidar dele e cuidar de mim também e passei a ver que os outros problemas são bem menores. Matheuzinho “Ele é uma criança especial mesmo, é maravilhoso, tem uma força incrível por tudo que passou”. Gecilene explica que o cuidado com Matheus ainda é grande por causa da alimentação. "Ele vai usar os medicamentos para o resto da vida e precisa ter uma boa alimentação e hidratação. Os exames dele estão bem, mas ele ainda fará uma nova cirurgia de intestino para fechar a colostomia e nos olhos que pode possibilitar melhora na visão. A luta não acabou, mas me sinto muito mais forte para enfrentar tudo isso. Mais confiante e mais valorizada também. A gratidão pelas pessoas que ajudaram e ainda ajudam será eterna”. “Me sinto uma mulher agraciada e muito mais forte por ter realizado o sonho de vê-lo comer. O meu desejo agora é ver meu filho realizar todos os sonhos como crescer como qualquer criança e que também inclui nossa felicidade e recomeço”, ressalta. Violência e abuso

Outra brasileira exemplo de superação e que hoje atua para ajudar outras mulheres é Kariza Fernandes , 37 anos, natural de Goiânia, mora em North Miami e em outubro de 2016 foi agredida pelo marido, o italiano Michele Marongiu, indo parar no hospital depois de pular do carro em movimento para fugir das agressões. Fisicamente irreconhecível, Kariza sofreu fratura no maxilar, corte no queixo, otorragia, escoriações no corpo e rosto, além de quatro dentes quebrados. Passou por cirurgias na face e hoje ajuda outras mulheres que vivem em situação de violência doméstica.

“Eu vivia sob tensão psicológica e ameaças do ex-marido, além de tentativas frustradas de separações”, conta. Depois do acidente, o ex-marido de Kariza foi preso e deportado para a Itália.

Hoje ela atua em casos de violência contra a mulher. “Hoje mesmo fui ajudar uma amiga que estava apanhando do namorado, e como as situações são semelhantes, não conseguia terminar o relacionamento por medo das ameaças. Fiquei lá e junto com a polícia, fui ajudá-la a sair de casa. Isso acontece quase todo dia”, relata. A designer de joias busca dar um suporte direto para mulheres que precisam. “Vejo muitos casos ao meu redor e hoje não fico mais quieta, já entro no meio e compro a briga, porque sei que não é fácil para uma mulher sair sozinha de um caso de violência”, pondera. Kariza encaminha e acompanha as mulheres ao SafeSpace, uma ONG que abriga e apoia as vítimas nesse tipo de situação. (veja mais sobre em SafeSpace.org). Gravidez na adolescência e limpeza voluntária Outra brasileira com história que serve de inspiração para muitas mulheres é Geovana Espineira, que completa 40 anos no próximo domingo, 11 de março, e tem motivos de sobra para comemorar. Com apenas 16 anos e grávida de cinco meses, Geovana veio para a Flórida porque, segundo ela, a família do ex-marido já morava aqui e resolveram tentar uma vida melhor para formar a família. Com um semana foi operada às pressas com apendicite e logo depois nasceram os gêmeos. “Não foi fácil, ainda mais com bebês e num país diferente”, diz. Na Flórida há 24 anos e trabalhando como “house clean” há 22 anos, Geovana faz serviço voluntário de limpeza para pessoas em necessidades, com alguma doença. “Acredito que a limpeza dá um novo ânimo sabe, traz alegria, esperança de dia melhores”, explica animada. A brasileira conta que na maior parte das vezes os trabalhos são para vizinhos, filhos de cliente, e outras pessoas que la vai vendo em necessidade. “Não tenho dinheiro para dar, mas doei e continuo doando minhas mãos e meu tempo, pois isso todos podemos”, conclui a brasileira que também trabalha com crianças na igreja. Hoje, com dois filhos casados e duas netinhas em New York, além de dois na Flórida, a família aumentou. “Casei novamente e estou tendo uma nova oportunidade de vida aos 40 depois de tudo que passei. Fiz há pouco tempo uma redução de estômago e já perdi 80 libras. É um prazer dizer para as mulheres que a esperança é que esse país é abençoado e é para todas”, conclui. * Os números informados pela empresa de pesquisa não refletem, porém, os números reais da população brasileira no estado, tendo em vista que os indocumentados muitas vezes não entram nas estatísticas.