O caso de Viviane envolve também violência doméstica e as leis de imigração dos Estados Unidos.
Mais um caso de abdução infantil que envolve o Brasil e os Estados Unidos está na justiça esperando um final feliz. Um pouco mais complicada, o caso da brasileira Viviane Leite, 30 anos, envolve também custódia internacional, violência doméstica e as leis de imigração dos EUA.
Natural de Tiros, cidade do interior de Minas Gerais, há três anos Viviane voltou para morar nos Estados Unidos. Atualmente em Ocean Township, Nova Jersey, a mineira luta na justiça para conseguir autorização para trazer os filhos Christyan, 9 anos e Gabriel, de 7 anos, que estão com os avós paternos em São Gotardo (MG), cidade natal do ex-marido Antonio Carlos Dias Jr, que os levou para o Brasil sem sua autorização em 22 de fevereiro de 2016.
Como não estava legal no país, assim que soube que o pai havia levado os meninos para o Brasil, Viviane entrou com pedido para o U- Visa (visto de não-imigrante reservado para vítimas de crimes que cooperam com a aplicação da lei) para legalizar a sua situação e a do filho mais novo, uma vez que ele nasceu no Brasil e não tem visto. “Já consegui permissão de trabalho e estou aguardando a resposta sobre o visto”, explica.
Além do pedido de visto, a mineira também pediu a devolução das crianças e o caso foi enviado para a justiça brasileira pela Convenção de Haia – tratado internacional destinado a proteger as crianças contra abduções internacionais e retenções ilícitas, inclusive as que foram cometidas por um dos pais – onde, há quase um mês, obteve o resultado favorável. Logo após a decisão, Viviane, que atualmente trabalha com limpeza em NJ, entrou então com o pedido para o Humanitarian Parole – um visto de emergência – para que ela possa buscar os filhos e o filho mais novo possa entrar nos Estados Unidos.
Agora, a brasileira corre contra o tempo para pegar as crianças. “O juiz no Brasil expediu o mandado de entrega dos meninos e eu preciso estar lá ou ter alguém para trazê-los o mais rápido possível, sob o risco de perder a guarda. Pedi para adiarem a entrega deles, mas o meu maior medo é o visto aqui ser negado”, desabafa.
Questionada sobre alguém da família poder representá-la e pegar as crianças no Brasil ou ela simplesmente voltar para o país natal, Viviane explica que sua família não possui visto americano e não tem muito contato com as crianças e ela prefere, por segurança dos filhos, trazê-los para os Estados Unidos, onde estarão mais seguros. “Aqui eles terão mais oportunidades com melhor ensino e qualidade de vida”, defende.
Violência doméstica
Viviane entrou pela primeira vez nos Estados Unidos em 2004. Conheceu o ex-marido em New Jersey e teve o filho mais velho em 2008. Seis meses depois, o marido foi deportado e ela também voltou para o Brasil. Em 2010, mesmo sofrendo agressões domésticas, teve o segundo filho no Brasil e em 2014 a família voltou aos Estados Unidos.Ainda sofrendo agressão, Viviane denunciou o ex-marido à polícia de NJ, que o prendeu por violência doméstica, mas soltou mediante fiança. ela então entrou com pedido de ordem de restrição, mas quando o ex-marido foi buscar seus pertences para sair da casa, mesmo acompanhado por policiais, conseguiu pegar junto todos os documentos dos filhos que estavam numa pasta. "Foi quando ele conseguiu pegar as crianças e fugir para o Brasil, em fevereiro de 2016", relata. Seis meses depois, o ex-marido retornou sozinho aos Estados Unidos pela fronteira e como era procurado pelo sequestro dos filhos, foi preso em New Jersey, onde aguarda o processo.
Em contato com a justiça brasileira responsável pelo caso de Viviane, Lalisa Froeder Dittrich, Coordenadora do Núcleo de Subtração Intermacional de Crianças da Autoridade Central Administrativa Federal, informou ao GAZETA que o processo tramita em sigilo e por lei não pode dar informações específicas quanto ao caso. Segundo a coordenadora, o processo está com o poder judiciário e “o governo brasileiro, assim como o norte-americano, estão tomando as providências para que sejam emitidos documentos que permitam que as crianças retornem aos EUA”.