Consumo de gordura é o principal fator de risco, segundo a OMS
O Brasil pode perder até US$ 49,2 bilhões (cerca de R$ 111 bilhões) nos próximos dez anos em razão de mortes prematuras provocadas por doenças crônicas como problemas cardíacos, câncer, derrames e diabetes.
O alerta é da OMS (Organização Mundial da Saúde), que está lançando mundialmente nesta quarta-feira o relatório Preventing Chronic Disease: A Vital Investment (Prevenindo Doenças Crônicas: Um Investimento Vital).
A intenção da OMS é chamar a atenção das autoridades mundiais para a importância de promover políticas de prevenção dessas doenças, que devem matar somente neste ano 35 milhões de pessoas em todo o mundo, o equivalente a 60% de todas as mortes.
A meta da organização é conseguir reduzir em 2% o número de mortes por doenças crônicas a cada ano até 2015. Isso significaria 36 milhões de mortes a menos em uma década, metade delas de pessoas com menos de 70 anos.
Análise profunda
O Brasil é um dos nove países escolhidos pela OMS para uma análise mais profunda no relatório. Os outros, escolhidos de acordo com seu perfil econômico e social, para fornecer um quadro amplo de exemplos, são Canadá, China, Índia, Nigéria, Paquistão, Rússia, Grã-Bretanha e Tanzânia.
Segundo o documento, diferentemente do senso comum, as mortes prematuras por doenças crônicas afetam mais os países com renda baixa ou média – 80% das mortes mundiais provocadas por esse tipo de doenças ocorrem nos países em desenvolvimento.
No Brasil, elas devem ser responsáveis neste ano por 72% de todas as mortes, ou 928 mil de um total de 1,289 milhão de mortes.
A OMS estima em US$ 3 bilhões a perda anual da economia brasileira com as mortes por doenças crônicas. Segundo o relatório, uma redução anual de 2% nesse tipo de morte nos próximos dez anos poderia levar a um ganho de US$ 4 bilhões para o país.
Se nada for feito, porém, a organização prevê um aumento de 22% nas mortes no Brasil provocadas por doenças crônicas. Somente as mortes em decorrência de diabetes podem crescer 82%, de acordo com a organização.
As perdas econômicas acumuladas em dez anos por conta das mortes provocadas por doenças crônicas podem chegar a US$ 558 bilhões na China, US$ 303 bilhões na Rússia e US$ 236 bilhões na Índia, segundo a OMS.
Prevenção
"Uma grande parte das doenças crônicas pode ser prevenida a partir de uma ação efetiva nos fatores de risco que determinam essas doenças, que são basicamente tabaco, inatividade física e principalmente alimentação inadequada", disse à BBC Brasil a médica Denise Coitinho, diretora do Departamento de Nutrição da OMS, em Genebra.
De acordo com o relatório, pelo menos 80% das mortes por doenças cardíacas, diabetes e derrames e 40% das mortes por câncer podem ser prevenidas por meio da adoção de hábitos mais saudáveis.
A organização considera que os fatores de risco para esse tipo de doenças estão aumentando, com as pessoas se alimentando cada vez mais de comidas com grandes quantidades de gordura e com o estilo de vida moderno levando as pessoas a praticar cada vez menos atividades físicas.
O número atual de pessoas obesas ou acima de seu peso normal em todo o mundo é estimado em 1 bilhão, podendo chegar a 1,5 bilhão até 2015 se nenhuma medida de prevenção for adotada.
A estimativa da OMS é de que 55% dos homens e 62% das mulheres no Brasil estão acima do peso recomendado atualmente. A projeção para 2015 é de 67% de homens e 74% das mulheres acima do peso.
O relatório indica que algumas medidas fáceis e baratas podem produzir grandes benefícios para cortar o número de mortes por doenças crônicas.
Entre as medidas propostas estão a redução do sal nas comidas industrializadas, a melhora da qualidade nas merendas escolares e o aumento da taxação do tabaco.
Vontade política
Segundo Denise Coitinho, as medidas de prevenção dependem em grande parte da vontade política dos governos envolvidos. "O que queremos enfatizar é que para a responsabilidade individual ser exercida, o ambiente tem que ser favorável, para que uma escolha saudável seja uma escolha fácil", diz.
"São necessárias políticas governamentais que ajam no ambiente que a pessoa vive para favorecer que as escolhas das pessoas possam ser facilmente escolhas saudáveis", afirma.
Coitinho afirma ainda que não basta que os governos promovam campanhas de conscientização. "O indivíduo pode até ter muita informação sobre o que é uma dieta saudável, mas a dieta saudável tem que estar disponível, tem que ser acessível em termos de custo", diz.