
O início
Em 2016, uma mulher de 32 anos, que tinha nascido sem útero por causa de uma síndrome (Mayer-Rokitansky-Küster-Hauser), recebeu o órgão de uma doadora já falecida. Outros transplantes de útero com doadoras falecidas já tinham sido realizados no mundo, mas nenhum bebê tinha nascido depois desse procedimento — até o caso brasileiro. “É um feito histórico — o primeiro caso sempre marca”, diz Wellington Andraus, também primeiro autor do estudo e coordenador do serviço de transplante de fígado do Hospital das Clínicas. Ele foi um dos médicos que realizou o transplante.Pioneirismo
Para os cientistas, o caso vem marcar, mais uma vez,o pioneirismo brasileiro em transplantes. O Brasil fez o primeiro transplante de fígado entre pessoas vivas e um dos primeiros transplantes de coração do mundo. Já o transplante do útero em 2016 foi o primeiro na América Latina. Para os médicos, ele tem três novidades na forma que foi feito: O tempo de isquemia — período em que o órgão fica sem oxigenação —, que foi o maior já registrado: 7 horas e 50 minutos. A quantidade de ligações de vasos que foram feitas. Andraus ligou duas artérias e quatro veias. Em procedimentos anteriores, eram ligadas duas artérias e duas veias. Um tempo menor até a transferência do embrião para dentro do útero. Antes, os médicos esperavam cerca de um ano, depois do transplante, para transferir o embrião. No caso brasileiro, foram 7 meses do transplante até a transferência. A diminuição nesse tempo faz com que a paciente tenha que ficar menos tempo tomando medicações imunossupressoras — que "restringem" o sistema imunológico — o que reduz os custos e também os riscos de algum efeito colateral. Segundo Andraus, o único que a paciente sofreu foi uma infecção urinária — mas que costuma ser comum em mulheres grávidas. Depois do nascimento,os médicos retiraram o útero. Desde o transplante feito em 2016, eles realizaram uma nova tentativa, em fevereiro de 2017, mas o órgão teve que ser retirado por conta de uma trombose que a paciente sofreu. Para os cientistas, o transplante simboliza mais uma possibilidade não só de tratamento de infertilidade, mas também de melhora na qualidade de vida das pacientes. "A adoção é uma opção para ter um filho, mas não é uma opção para ter um filho biológico. E tem gente que faz questão. A barriga de aluguel não está disponível para todas as mulheres. A mulher que quer ser mãe muitas vezes quer engravidar também, porque faz parte do processo. É difícil julgarmos a opção de cada um", opina Andraus. Com informações do G1 e Reuters.