Todos nós, imigrantes que vivemos nos Estados Unidos e que temos a compreensão do grande valor desse país, de seu sistema jurídico e das inúmeras coisas positivas que a sociedade norte-americana tem, também temos consciência das contradições que se aprofundaram gravemente nos recentes anos.
De país admirado pelo fabuloso ciclo de riqueza e prosperidade da era-Clinton, os Estados Unidos mergulharam num ciclo de rejeição mundial devido a sua bélica política externa, da atitude pró-guerra do atual governo e como conseqüência, de uma atitude de “soberba” que faz com que o sentimento anti-americano se dissemine pelo planeta.
Um sentimento que, superficialmente se justifica pelo misto de rancor, incompreensão e até certas doses de inveja.
Mas seria tolice atribuir apenas à inveja, o fato de que o índice de admiração mundial pelos Estados Unidos esteja caindo a níveis baixíssimos, muito próximos de zero.
Antes da atual fase anti-americana, embora sempre existisse o coeficiente de inveja em relação não só aos Estados Unidos como a todos os países ricos e desenvolvidos do mundo, o que mais ressaltava da América para o mundo, era admiração e exemplo.
Os oito anos de administração Clinton foram de tamanha prosperidade que, não fosse o moralismo hipócrita gerado pelo “caso Monica Lewinsky” e que influenciou decisivamente na derrota de Al Gore – vice-presidente de Clinton e seu candidato à sucessão – o país teria, certamente, um destino completamente diferente.
Os horrendos atentados de 11 de setembro de 2001 foram a plataforma de indignação e revolta popular que possibilitaram ao governo Bush deslanchar uma das mais desastrosas políticas externas da história norte-americana, transformando a imagem do país, de exemplo dourado da superioridade do capitalismo, numa referência de empáfia, soberba, intervencionismo e desrespeito às demais nações. Um caos.
E o povo Americano, como a maioria dos povos do mundo, está realmente muito mais preocupado é com o próprio bolso e se houver meios de garantir sua segurança e fartura internas, os outros que cuidem de si.
Diz a lei de Darwin (aquela que os próprios direitistas radicais querem expurgar das escolas, desejando impor a nossas crianças a quase cômica idéia de Adão e Eva como explicação para a origem da raça humana) que só os mais fortes sobrevivem e é justamente sob essa lei que as nações que historicamente dominaram o mundo, vivem e se regojizam.
Mas se existe uma Lei de Darwin, existe uma Lei de Einstein também. Que é uma Lei da ciência que poderia muito bem ser uma Lei da Fé. A Lei da Relatividade.
Potência maior e mais determinante do planeta, os Estados Unidos estão sendo alvos agora de uma força devastadora, a qual não tem a mínima condição de reagir, até mesmo por jamais ter priorizado a segurança de seus próprios habitantes.
A Mãe-Natureza, com furacões, tufões, ciclones e temporais, está expondo uma das feridas abertas desta nação que nós, imigrantes, amamos e escolhemos para ser a nossa segunda pátria.
A destruíção de New Orleans expôs as feridas do racismo e da miséria falsamente escondidas dentro dos Estados Unidos.
Os escombros em Biloxi e a devastação em Houston e no litoral do Texas (a terra de Marlboro e de Bush) expuseram a enorme fragilidade a que estão submetidos, não só o povo norte-americano, mas todos os povos do mundo quando confrontados pelos elementos da Natureza.
Não há como não se comover com o drama das famílias separadas, a violência que brota da miséria combinada com a extrema violência que brota dos segmentos pobres e analfabetos da sociedade norte-americana. O “budget” para armamentos e guerra nunca foi tão grande. O “budget” para educação e obras públicas nunca foi tão pequeno.
Em meio disso tudo, outra lição da Natureza se agiganta como um fantasma: a escassez do petróleo.
Desde a primeira crise do petróleo, na década de 70, o sinal estava claro. Haveria de ter sido iniciada ali, a drástica mudança de atitude dos Estados Unidos em relação a sua voracidade por petróleo. Em vez disso, vimos aflorar como reflexo absoluto da infantilidade do país, o culto as SUV e veículos “bebedores” de gasolina.
Estamos presenciando um momento histórico muito especial. O momento em que a Natureza mostra ao homem, prepotente, estúpido, infantil e via de regra ignorante, que a noção de Liberdade não poderá jamais existir se não for radicalmente casada com o exercício da racionalidade e senso coletivo.
Como nação que (ainda) tem o maior poder de fazer as cabeças do mundo, graças à combinação dos poderes econômico, militar e de Hollywood, os Estados Unidos têm a chance de provar que, como se exige de um líder que os norte-americanos pretendem ser, dêm o exemplo de humildade e mudem a rota de suas políticas. E parem de prover combustível para terroristas e radicais mundo afora.
Enquanto é tempo. Rezemos.