Aproveitei o fim de semana de feriado para ler As alegrias da maternidade. Ganhei o livro editado pela Tag de presente e não sabia do que se tratava. A escritora nigeriana Buchi Emecheta descreve em mais de 300 páginas a história de Nhu Ego, filha de um líder africano que, apesar de viver em função da maternidade, experimenta poucas vezes as alegrias desse momento. Fui ingênua ao me deixar enganar pelo título. Passei pelas páginas sobressaltada por infortúnios e dessabores que pareciam não ter fim. O livro me tocou profundamente e, por isso, recomendo a leitura. Nem precisaria, já que o título foi indicado para a editora por ninguém menos que Chimamanda Adichie. Eu, que buscava uma leitura aprazível sobre mães, me enfiei em buraco profundo. Bem-feito! Bom para desligar esse botão automático que associa a maternidade à leveza e à doçura. O lugar de mãe carrega consigo uma demanda de saber, de responsabilidade, uma expectativa de “mulher completa” (como diz muitas vezes a protagonista do livro) que, para além de inatingíveis, beiram a crueldade. É claro que não estou aqui comparando a Nigéria colonial de décadas atrás (onde se passa a história) com o Brasil de hoje. Ainda assim a perspectiva de que a mulher se tornará “naturalmente” uma mãe plena quando seu bebê nascer nos coloca em um terreno perigoso. Maternidade é construção. O mal-estar de As Alegrias da Maternidade me foi, por fim, muito útil, um presente de verdade. Ele me pôs a pensar, logo no primeiro dia do ano, sobre esse tema que é, afinal, o que me move. Viver é construção. Feliz 2018, e boas surpresas!