Área da fisioterapia destina-se ao diagnóstico e tratamento da “tontura”

Por Marisa Arruda Barbosa

Vertigem

A “tontura” ou a “labirintite” podem apresentar aproximadamente 300 tipos de problemas e duas mil causas possíveis. O que poucos sabem é que existe uma área da fisioterapia chamada “Fisioterapia Vestibular” – cujo termo se refere a uma estrutura anatômica do próprio labirinto – dedicada ao diagnóstico e tratamento desse mau que aflige muitas pessoas. Dr. André Luís dos Santos embarcou nessa especialização em 1997. Com 22 anos de carreira, ele trabalha há 17 na área de fisioterapia vestibular, no Rio de Janeiro. Com especialização na Emory University, em Atlanta, Geórgia, ele ministra cursos de formação em fisioterapia vestibular em várias cidades brasileiras, na Argentina e em Portugal, além de coordenar a primeira pós-graduação lato sensu em fisioterapia vestibular, pela Faculdade Redentor/FisioworkRS, em Porto Alegre.

“O meu interesse nessa área de atuação surgiu em 1997, depois que li um excelente artigo da fisioterapeuta e pesquisadora norte-americana, a professora Susan J Herdman, PT, PhD”, explica o fisioterapeuta. “Até então, não imaginava que a fisioterapia poderia combater os sintomas de vertigem e náuseas provenientes de problemas do labirinto”.

GAZETA - Conte-nos um pouco sobre a área da fisioterapia vestibular. Dr. André Luis dos Santos - O termo genérico “labirintite” pode representar aproximadamente 300 tipos de problemas e duas mil causas possíveis. Sabemos que existem dois tipos de tontura: a rotatória ou vertigem, cujo relato é que o ambiente gira ao redor da pessoa e a não-rotatória ou instabilidade postural, o ambiente está fixo e o indivíduo relata desequilíbrio, sensação de “cabeça vazia”, etc. Durante a anamnese (entrevista) do paciente, que considero a etapa mais importante da avaliação, buscamos identificar os sinais e sintomas mais comuns nos pacientes, ou seja, a vertigem, a náusea/vômito, o desequilíbrio e o nistagmo, que significa movimento rítmico e involuntário dos olhos no decorrer da crise. O diagnóstico pode ser determinado no mesmo dia. (O seguinte site explica de maneira mais detalhada os sintomas e o tratamento para cada tipo de sintoma: www.fisioterapiavestibular.com.br/o-que-e-fisioterapia-vestibular). A disfunção mais frequente é a vertigem posicional paroxística benigna (VPPB), onde há uma súbita e intensa vertigem sempre que ocorre mudança de posição da cabeça no espaço como, por exemplo, girar deitado na cama ou levantar a cabeça para pegar uma roupa no varal. Pode ser uni ou bilateral, esta mais rara. Essa crise ocorre pelo deslocamento de cristais de carbonato de cálcio (otocônias) no interior do labirinto, cuja causa é desconhecida em 70% dos casos. Os sintomas duram segundos e podem associar instabilidade postural, náusea e nistagmo. Ao chegar a um diagnóstico, o profissional pode realizar uma manobra no próprio consultório. Normalmente, a melhora é imediata com uma só manobra e pode ser mais eficaz que medicamentos. Muitas vezes, portadores do vírus herpes simples tipo 1 podem sofrer de um quadro médico denominado neurite vestibular ou inflamação do nervo vestibular por esse ataque viral. Depois de determinar qual lado está afetado, o profissional passa exercícios ao paciente. Em muitos casos, quando há hipofunção bilateral, uma condição mais rara, o paciente sofre uma perda anatômica e funcional dos dois labirintos. Geralmente, a causa é o uso de certos diuréticos ou antibióticos bactericidas, que destroem terminações nervosas sensoriais no interior do labirinto. Nesses casos não há vertigem, mas uma intensa tontura não-rotatória ou desequilíbrio, com risco de queda. Nesses casos, são sugeridos, por longo prazo, exercícios de recuperação do equilíbrio.

GAZETA – Quais as causas que levam a problemas com o equilíbrio? Quedas? Acidentes? Esportes? Dr. André: Dentre as quase duas mil causas dos problemas de labirinto, nas síndromes vestibulares periféricas, temos como causas mais comuns as inflamações de vias aéreas superiores, a redução do fluxo de artérias que passam pelo pescoço e ajudam a irrigar o labirinto e quedas com traumatismo craniano sem lesão cerebral, sobretudo, pela possibilidade de deslocar os cristais e abrir o quadro de VPPB. Venho observando, também, um aumento de crises de VPPB relacionadas com atitudes posturais. Por exemplo: pessoas que dormem de barriga para cima ou por causa de algumas posturas com hiperextensão da cabeça (para trás) no pilates, etc, posturas que não recomendo por tempo prolongado. Nos casos de origem central, temos os tumores e os acidentes vasculares cerebrais naquelas regiões centrais representativas do labirinto. Duas situações do ponto de vista central chamam atenção atualmente. O aumento dos casos de enxaqueca afetando o sistema labiríntico e a concussão cerebral. Esta última está relacionada ao choque da cabeça, especialmente em esportes de contato corporal, como em lutas, futebol americano e até em crianças em atividades escolares. Com os traumas frequentes, danos cerebrais por alterações neuroquímicas e neurometabólicas podem afetar o labirinto a médio e longo prazos.

GAZETA – Com o que se costuma confundir os problemas de vertigem e tontura? Dr. André: O universo relacionado ao sintoma tontura é enorme e pode significar alteração em diversos órgãos e sistemas do corpo humano. A origem da tontura pode estar relacionada aos sistemas cardiovascular, neurológico, metabólico, hormonal, músculo-esquelético, etc. Outra importante preocupação é estabelecer se o problema é periférico, do próprio labirinto e suas conexões, ou central, que significa de origem cerebral. Em quadros da queda da pressão quando se levanta rapidamente, jejum prolongado que, com a redução do açúcar, a hipoglicemia, algumas pessoas podem referir tontura não-rotatória também, mas é afastada a possibilidade de origem labiríntica. O fisioterapeuta deve estar preparado para diferenciar essas possibilidades, tendo em mente que existem apenas dois tipos de tontura: a rotatória ou vertigem, giro do ambiente ao redor da pessoa e a não-rotatória ou instabilidade postural, o desequilíbrio, sensação de “cabeça vazia”. Infelizmente, no dia a dia, não é incomum o paciente relatar “tonteira”, ter um diagnóstico de “labirintite” e ser medicado com anti-vertiginoso, mesmo que o problema não tenha a ver com o labirinto. Outro problema frequente á a automedicação. Centenas de pacientes se automedicam com supressores vestibulares e podem apresentar complicações que vão desde engordar até a doença de Parkinson secundária. O uso contínuo e desordenado desses medicamentos pode prejudicar a capacidade cerebral de compensar o sistema vestibular.

GAZETA - Em quanto tempo se vê a recuperação do paciente? Dr. André: Nos casos de VPPB, o mais eficaz é a manobra de reposição dos cristais, após um diagnóstico preciso do problema (tipo de VPPB, lado afetado, canal semicircular comprometido). Diretrizes internacionais chegam a contraindicar medicamentos supressores, exceto em casos com resposta vegetativa acentuada. Na maioria dos casos, o sucesso pode ser obtido no mesmo dia com manobras no consultório, em outros, os exercícios são feitos a longo prazo, dependendo da disciplina e participação ativa do paciente, que deve incorporar esses exercícios na rotina.

Serviço

Para mais informações sobre esses profissionais, visite o site da associação mundial da qual Dr. André faz parte, a Vestibular Disorders Association: www.vestibular.org, ou o site do Brasil: www.fisioterapiavestibular.com.br.