Orgulho e amor é uma dupla se encontra frequentemente nas relações. Pelo orgulho nos separamos, pelo amor nos unimos. Para garantir uma saudável união é importante ter uma dose de amor próprio que pode ser vista como um certo orgulho de quem se é, do que se fez e conquistou na vida. Orgulho demais, porém, garante o desamor. Amor e orgulho são como o lado feminino e masculino de cada um de nós: um se doa, o outro se preserva. O amor é entrega e abertura, o orgulho é foco em si. Amor é do coração, orgulho é do ego. Sem um ego estruturado, o amor é dependência e fraqueza. Sem amor, o ego é duro e ranzinza. Na relação de casal, encontrar um equilíbrio entre amor e orgulho pessoal é um desafio, isso porque há sempre ocorrências que nos desestabilizam. Um casal é formado por duas pessoas que têm personalidades diferentes, formas diversas de resolver problemas ou, simplesmente, atitudes imaturas que decepcionam e ferem, e podem ser difíceis de superar. Uma das tendências para superar as crises é o perdão, mas quando este é auto imposto não funciona. Quantas vezes o perdão está fundamentado na realidade viva da pessoa? Quantas vezes não se trata de mera repressão em nome do querer agradar e ser aceitos? O processo de cura começa com o aceitar a ferida, aceitar o ego ferido. Isso significa aceitar a dor! É preciso passar por ela para depois, superando-a, tendo chorado todas as lágrimas e gritado toda a revolta, cansar-se, esgotar o tempo, sentir que é hora de ir adiante, hora de voltar em si. E, aí, perdoar, ou seja, deixar para trás, continuar a caminhada sem apegos visíveis ou invisíveis ao passado. Há casais que entram em crise e um deles, sentindo-se ofendido (ou rejeitado, ou enganado) e tendo, assim, o orgulho ferido resolve romper a relação. Dizer “Basta!” parece postura máscula e forte, digna de alguém que tem amor próprio. Quem dera fosse tão fácil. A verdade é que muitas vezes o corte não resolve coisa alguma. Os orgulhosos vivem na ilusão de poder controlar seu coração. Mas o amor não está nem aí com o orgulho. Amor e orgulho pertencem a esferas diferentes. E pode nem ser amor de verdade, aquele belo amor, companheiro e parceiro. Pode ser uma relação de dependência colorida de amor. Entretanto, na medida em que qualquer forma de amor existir nenhum corte funciona. E o orgulho se encontra, assim, num beco sem saída, e mais irritado do que nunca. O orgulho tende a se prender a fatos e afundar em feridas. Orgulho ferido quer dizer pessoa ferida, o que significa que a pessoa precisa de: a) um reconhecimento, e b) de um tempo para se recompor. Esse tempo é aquele de lamber a ferida e deixar sarar. Se, no lugar disso, se tomam ações intempestivas (como romper a relação ou se jogar em outro relacionamento), a ferida não vai cicatrizar nunca. Diante do orgulho ferido, o amor e precisa aprender alguma coisa nova. Aprender a reinventar a forma de amar: um ato corajoso e necessário para manter a saúde do amor. Assim, às vezes, o orgulho atua como um remédio que, na dose certa, funciona para restabelecer o equilíbrio. Antes de condenar o orgulho e fazer a moral com base em conceitos abstratos, observemos com atenção e cuidado (com amor), o que está em jogo e o que está de fato precisando melhorar. E antes de se deixar hipnotizar pelo orgulho e todas suas razões reais ou imaginárias, acordemos do transe e pensemos no todo, e no tipo de pessoa que queremos ser.