Para Luiz Souza, de 51 anos, o maratonista conhecido dos brasileiros no sul da Flórida, seus 30 anos de Estados Unidos renderam, além de centenas de medalhas, 21 imóveis, comprados em Governador Valadares (MG) e Teixeira de Freitas (BA). Depois desses anos todos trabalhando com construção nos EUA, Luiz resolveu que era chegada a hora de voltar para o Brasil e desfrutar de anos de investimentos.
“Durante a minha trajetória nos EUA, mesmo sem orientações profissionais, tive a oportunidade de fazer investimentos em setores de menos riscos, como o imobiliário, tanto urbano como rural. Como sabemos, este tipo de investimento sempre superou as crises aqui no Brasil, principalmente quando é em longo prazo, como foi o meu caso, pois fechava os negócios sem pensar em vender”, explica. “Hoje, sinto-me realizado e muito feliz, não só pelos negócios estarem dando certo, mas por estar mais perto dos meus pais, reagindo bem à readaptação no sistema econômico brasileiro, assim como à cultura, que sempre foi um grande desafio para as pessoas que retornam após anos vivendo fora”.
Luiz atua, agora, como produtor rural e no setor imobiliário, na venda e aluguel de imóveis. Sua história é exemplar aos seus conterrâneos de Valadares e de outras regiões do estado de Minas Gerais, origem de grande parte dos brasileiros que vivem nos EUA. Nem todos conseguiram a mesma realização, pelo menos por enquanto.
Bruno Martins, 25 anos, natural de São Gotardo (MG), vive em Deerfield Beach desde 2006, onde trabalha com construção civil. Entre 2008 e 2009, época em que a crise econômica nos EUA enxugou os trabalhos de construção, muitos de seus amigos e familiares resolveram voltar para o Brasil. Bruno até pensou em fazer o mesmo, mas como não ficou completamente sem trabalho, continuou tentando, até que a economia foi se recuperando e, hoje, ele está novamente trabalhando seis dias por semana.
Desde 2009, Martins resolveu investir em gado em sua terra natal. “Eu sempre trabalhei com gado no Brasil, meu pai sempre fez isso também. É o que gosto de fazer”, disse ele. “O que mais penso é em, daqui 5 a 10 anos, dependendo da situação no Brasil, voltar para a minha terra e me aposentar. Não vejo a hora”.
Bruno e o pai são sócios. Ele investe nos bezerros, o pai cuida, vende e reinveste. “Só assim que tenho confiança, e meu pai melhorou de vida. Se não fosse para ficar em família, eu não faria. Não daria para confiar”.
Arrependimento
Edvânia Pena é uma das pessoas que se arrependeu de voltar para o Brasil. Em maio de 2008, depois de terminar um namoro, sentindo-se sozinha e com medo por sua situação imigratória, resolveu voltar para Governador Valadares. “Na época, vivia em Denver, Connecticut, e ouvi dizer que muitos estavam sendo deportados. Fiquei com medo e fui embora. Mas, pelo menos não fui deportada e voltei por livre e espontânea vontade”, relata ela. “Mas foi uma loucura minha e tudo o que mais quero é voltar”.Em três anos nos EUA, onde viveu em Pompano Beach e Denver, Edvânia conseguiu investir dinheiro em sua casa própria. Hoje, ela trabalha como secretária cinco dias por semana, 8 horas por dia, com um salário de $900 reais. “Eu vivo no sufoco. Se não tivesse minha casa eu estaria passando fome. Se eu pudesse, voltaria para Denver, onde tem ótimas condições de se viver e trabalhar. Aqui você trabalha, trabalha e não consegue nada”.
Recentemente, Edvânia tentou o visto para os EUA novamente, mas foi negado. “Fiquei aflita e acabei mentindo sobre o tempo que fiquei morando nos EUA. Mas eles descobriram mesmo assim”, disse a mãe de um menino de 4 anos. “Meu sonho é poder levar meu filho para conhecer a Disney”.
O avanço do dólar e o aumento do custo de vida no Brasil tem despertado o desejo de muitas pessoas, como Edvânia, de voltar para os EUA.
O cabeleireiro Waltency Vieira, de 54 anos, morou cinco anos nos EUA, onde trabalhou com faxina e em salões de beleza.
“Houve época que tirei $300 dólares (R$ 900) por dia. No Brasil, como cabeleireiro, faço menos de R$100 ($33,3 dólares)”, comparou o morador de Governador Valadares, em entrevista ao jornal “Estado de Minas”, em matéria publicada no dia 25 de maio. O desejo de Waltency é voltar para os EUA, levando a mulher e os três filhos.
Alta do dólar
“Muita gente que foi para os Estados Unidos retornou à região (com a crise de 2008). Agora, com a alta do dólar, vários estão indo novamente para lá”, disse Paulo Costa, presidente da Associação dos Parentes e Amigos dos Emigrantes (Aspaemig). “A alta do dólar é ruim para o Brasil, mas para Governador Valadares é boa”.A remessa de dólar é uma das principais engrenagens da economia da região. A construção civil é uma das áreas que mais sentem isso. José Elias da Costa, um mestre de obras de 55 anos, construiu cinco casas geminadas em Valadares neste ano, de pessoas que moram nos EUA e enviam dinheiro para a construção de residências para alugar. José Elias diz que quer fazer o mesmo.
Luiz Souza está festejando a alta do dólar desde que voltou. “A cidade de Governador Valadares continua sobrevivendo com os dólares enviados pelos familiares que estão fora. Com o aumento da moeda, as pessoas gastam mais e fica mais fácil fazer negócios. Mesmo com a crise imobiliária aqui, me senti beneficiado. Afinal, com a queda na venda de casas, os aluguéis aumentaram”, disse Luiz.
Luiz continua visitando os EUA pelo menos três vezes ao ano. “Não considero que voltei totalmente”, explica ele, que tem duas filhas e três netas nos EUA.
De volta ao Brasil, o maratonista conhecido como Pinga, que coleciona em seu currículo aproximadamente 700 provas disputadas, das quais ficou em primeiro lugar em 350, tem como uma de suas novas metas incentivar o esporte em sua cidade natal. “Isso é, na verdade, o que me faz sentir menos o desgaste emocional por estar fisicamente longe de um país tão maravilhoso como os EUA, onde realmente consegui atingir os meus objetivos”.