Foi uma corrida daquelas para os fãs da Fórmula 1 registrarem em fita e, de tempos em tempos, revê-la. O GP do Japão, disputado hoje em Suzuka, já entrou para a história: pela vitória extraordinária de Kimi Raikkonen, da McLaren - carregada de vontade de responder quem foi o melhor da temporada - e várias ultrapassagens, do próprio Raikkonen e de Fernando Alonso, da Renault, terceiro, que daqui a bons anos ainda se falará nelas. Também, não é para menos, foram, na maioria, em cima de Michael Schumacher, da Ferrari, 7.º.
Se a FIA pudesse estabelecer que, a partir de agora, o resultado das sessões de classificação para o grid seria invertido, ou seja, o mais veloz largaria em último e assim por diante, com certeza as corridas de Fórmula 1 seriam espetaculares, semelhantes à de hoje no Japão. Claro que não faria sentido punir os mais capazes, mas o fato de Raikkonen ter largado em 17.º e Alonso em 16.º, bem como Schumacher em 14.º, por conta da chuva, sábado, colaborou decisivamente para a penúltima etapa do calendário apresentar, em cerca de uma hora e meia, o que há muito se busca na Fórmula 1, até com fórmulas mirabolantes: emoções fortes, da largada à bandeirada.
Raikkonen conquistou a sua mais linda vitória na Fórmula 1, a 7.ª do ano e 9.ª na carreira. O capítulo final da sua trajetória ao longo das 53 voltas envolveu Giancarlo Fisichella, da Renault, primeiro colocado ao abrir a última volta. Os dois desceram a reta dos boxes lado a lado, com as rodas dos carros perigosamente separadas por milímetros em alguns instantes. “Eu não sabia direito o que fazer para ultrapassá-lo porque o lógico seria escolher a trajetória interna, mas Fisichella deslocou o carro para lá”, explicou o finlandês. “Coloquei, então, minha McLaren para o lado externo da curva 1, a fim de ultrapassá-lo por fora para vencer. Fui, fui e consegui, estou realmente muito feliz”, disse Raikkonen, com um sorriso amplo, fato raro no seu comportamento.
Mas se o piloto da McLaren não deixou dúvida alguma quanto a correr com a faca entre os dentes para ratificar o que muitos pensam - o título ficaria melhor nas suas mãos -, o verdadeiro campeão do mundo, Alonso, não desejava nada diferente. As duas ultrapassagens em Schumacher resgataram momentos épicos da competição, como a de Nelson Piquet, com Williams, em Ayrton Senna, Lotus, no GP da Hungria de 1986, a de Nigel Mansell, Ferrari, em Gerhard Berger, McLaren, no México em 1990, ou Jacques Villeneuve, Williams, em Schumacher, Ferrari, no GP de Portugal de 1996, todas também por fora, dentre outros exemplos. Na 20.ª volta, Alonso ultrapassou o alemão na curva 130R, tão desafiadora quanto a Eau Rouge, em Spa, segundo os pilotos, contornada em 7.ª marca a mais de 300 km/h.
Alonso, contudo, era a própria cara da decepção depois da prova; “Erramos na estratégia. Eu ultrapassava Schumacher e em seguida tinha de fazê-lo de novo porque eu parava, ele também, e, de repente, lá estava ele de novo na minha frente”, falou o espanhol. “Alonso nos havia prometido correr agressivamente, agora que definiu o título, e nos ofereceu um show”, resumiu o chefe de engenharia da Renault, Pat Symonds. “Ao menos esse resultado nos permitiu reassumir a liderança entre os construtores”, comentou Alonso.
Como a McLaren não pode mesmo, em geral, contar com seu segundo piloto, Juan Pablo Montoya - bateu, hoje, na primeira volta -, e a Renault conseguiu 8 pontos com Fisichella, segundo, e 6 com Alonso, a Renault soma, agora, 176 pontos diante de 174 da McLaren. As duas vão disputar domingo, em Xangai, na China, no encerramento da temporada, o título de construtores. Os pilotos brasileiros não estiveram bem: Rubens Barrichello, Ferrari, errou na largada, teve de parar nos boxes e acabou em 11.º. Felipe Massa, Sauber, reclamou da falta de velocidade do carro, ficou em 10.º, enquanto Antonio Pizzonia, Williams, errou ainda no início e abandonou.