Adriana Nogueira: Crianças desorientadas, crianças agressivas
Essa perspectiva faz uma grande diferença. Nos diz que a agressividade vem do sentimento de estar desorientado, confuso, perdido. Estamos desorientados quando não sabemos o que fazer, por onde ir, como entender e se entender. O que está nos acontecendo? O que é isso que eu sinto? Como lidar com uma situação nova, inesperada, difícil? Sem orientação, sentimo-nos perdidos. As crianças precisam de líderes. Sem a direção, sentem medo. E têm raiva. E dirigem sua raiva para os adultos que delas deveriam cuidar, os pais em primeiro lugar.
Agora, os pais, por sua vez, podem nem saberem o que está acontecendo com eles mesmos! Pouquíssimos tiveram uma criação que gostariam de repassar aos filhos, e muitos não têm sequer tempo para parar e pensar no que suas crianças precisam – além de tudo o que já dão. Entretanto, cabe a nós, adultos, arregaçarmos as mangas e fazermos espaço em nossa agenda para nossos filhos, cujas necessidades mudam a cada fase do desenvolvimento e a cada mudança na vida familiar, na escola, entre os amigos, etc. Se não nos darmos esse trabalho, o boomerang retornará contra nós, sem a nossa guia, as crianças irão buscá-la junto aos amigos. E podemos, um dia, descobrir que temos em casa um estranho que nos trata com o mesma falta de consideração com a qual ele se sentiu tratado por nós.
Voltamos então a Payne, autor de diversos livros voltados para ajudar os pais a criar crianças resilientes e famílias mais unidas e fortes. A direção que as crianças precisam deve ser dada de forma firme, mas tranquila, sem críticas e sem fazer a criança se sentir errada ou inferior. É normal que ela não saiba, que precise de ajuda e que nem sabe que precisa de ajuda. Cabe-nos ir ao encontro e, metaforicamente ou não, pegá-las pela mão.
E nisso entram os limites, que muitas vezes os pais não sabem dar. Existe um pudor em dar limites, o que é errado. A negação deve ser encarada, diz Payne, como uma definição de valores. Dizemos “não” a atitudes, linguagem, modos, gestos que não pertencem aos valores da nossa família. O que remete por sua vez à questão da identidade: quem somos? O que queremos ser? Os pais precisam se perguntar isso e definir sua identidade como família. A partir dela, certos comportamentos serão incluídos e outros excluídos. Simples.
Agora, é importante prestar atenção num detalhe. Quando a criança está “acting out”, ou seja, está se comportando mal, ela está comunicando algo aos seus pais em primeiro lugar, isto é que ela está se sentindo desorientada, e que por isso está com medo, e que do medo vem a agressividade, e ela está pedindo ajuda. A tarefa dos pais é compreender o que ela precisa. E aqui está o ponto: cada um olha o mundo a partir de seu horizonte. Se não abrirmos um pouco mais a cabeça, não só em largura como em profundidade, continuaremos sem entender nossos filhos. Não basta usar uma linguagem educada e controlada quando as crianças são malcriadas, se por dentro nos sentimos explodir. A criança vai perceber e se ligar na explosão. Tenhamos cuidado para não cair na “educação politicamente correta”, que teme olhar de frente para o furacão. Educação funciona com amor e honestidade.
John Payne dará a palestra "Exclusion: So Hurtful, So Subtle", nesta sexta, 20 de janeiro, em Delray Beach, no Duncan Center Chapel, na 15820 Military Trail. Interessados contatem: Paula Betancur, no 561.654.4037.