Evitar o convívio apenas entre brasileiros é a chave para um aprendizado mais rápido da língua inglesa

Os Estados Unidos continuam sendo o país que mais atrai brasileiros imigrantes. Porém, o domínio do inglês entre os brasileiros que moram no exterior é baixo e a dificuldade com a língua é um dos maiores obstáculos à adaptação e ao crescimento profissional. Uma pesquisa do U.S. Census Bureal, organização que levanta dados sobre a população nos Estados Unidos, realizada por meio de entrevistas locais, indica que a comunicação entre os brasileiros dentro das casas se dá em grande maioria, em português. Segundo a estatística, 89,4% de brasileiros nos Estados Unidos só falam português em casa; e 39,1% dos brasileiros não dominam a língua inglesa (dados do último censo de 2014).
Um ranking desenvolvido pela empresa de ensino EF Education First, os brasileiros ocupam a 41ª colocação de um ranking de 70 países que tem como Suécia, Holanda e Dinamarca seus primeiros na lista de domínio do inglês. A empresa de educação mediu a proficiência em 910 mil adultos do mundo todo (que não têm o inglês como língua nativa) em quesitos como gramática, vocabulário, leitura e compreensão. (Dados publicados pela revista Exame).
No estudo, os brasileiros ficaram atrás de cidadãos de Singapura, Peru, Equador, México e Chile. “Tecnicamente, o nível de dificuldade do aprendizado de inglês para um brasileiro é considerado fácil pelos linguistas”, diz Arthur Bezerra, country manager da Berlitz no Brasil.
Para a professora e tradutora de inglêsportuguês Adriana Giovanini, que mora na Flórida há 17 anos e desde então deu aulas de inglês para brasileiros, o principal motivo que faz com que os brasileiros aprendam a língua é a necessidade do trabalho, e o principal empecilho é o convívio estreito apenas na comunidade brasileira.
Natural de Goiânia, Giovanini conta que o perfil de seus alunos sempre foi de adultos interessados em aprender inglês para conseguir melhores condições de trabalho. “Após anos morando na América e convivendo com muitos brasileiros e americanos, cheguei à conclusão que a pessoa aprende um idioma por dois motivos: vontade ou necessidade. E a maioria era mesmo por necessidade para trabalhar”, relata. Para Giovanini, o fato de ter muitos brasileiros na Flórida e a facilidade de “fazermos praticamente tudo utilizando o nosso próprio idioma, o português”, prejudica a aprendizagem da língua inglesa porque só a prática leva ao aprendizado do idioma. “Conheço vários brasileiros que mudam para cá e sabem exatamente o que devem fazer para aprender a língua inglesa de maneira mais rápida. Mas não é nenhum segredo que a prática é a palavra chave da questão, ou seja, ouvir, falar, escrever na língua alvo o máximo possível”, destaca.
Muitos brasileiros preferem a convivência apenas entre compatriotas e não percebem que isso impede um aprendizado mais rápido do inglês. Giovanini explica que se não houver esforço para sair do convívio só com brasileiros, o domínio da língua principal dos Estados Unidos pode não acontecer. “É necessário fazer o esforço de não se acomodar e querer fazer tudo na língua materna, como assistir à televisão, ir ao supermercado, bancos, manter amizades apenas com os conterrâneos”, aponta. A professora destaca ainda que, a acomodação é o grande empecilho para as pessoas aprenderem e a pressão pode ser o maior impulso. “Geralmente só saem da caixinha se tiverem muita força de vontade de crescer profissionalmente”, ressalta Giovanini. Menos inglês, menos trabalho
Na Flórida há um ano e meio, o casal de brasileiros E.S., 38, e R.A., 27, mora em Pompano Beach, fala apenas algumas palavras em inglês e ainda encontra dificuldade em montar frases ou expressões comuns da língua. Os dois são do interior de Minas Gerais e dizem que não se sentem à vontade para ir a lugares frequentados apenas por americanos e também preferem ver tevê em canais brasileiros. Seja supermercado, restaurantes, lojas ou até mesmo a praia, eles preferem locais que tenham mais brasileiros. “Quando a gente percebe que tem mais brasileiros por perto, ficamos mais tranquilos, porque, se acontecer alguma coisa, teremos como nos explicar melhor, entende?”
Eles entendem que não dominar o idioma pode significar menos trabalho. A jovem perdeu três chances de trabalho por não dominar a língua. “Uma proposta era ser babysitter, mas precisava falar e ler em inglês, outra foi com limpeza de uma loja, mas os donos são americanos e exigiram pelo menos o básico e a primeira que recusei foi como “dogsitter” pra uma família que ia viajar e precisava de alguém pra tomar conta dos três cachorros por 2 meses. Pagavam bem, perdi uma boa grana na época”, ressalta.