Vinte meses após a abertura do porto de Mariel, em Cuba, reformado pelo governo brasileiro com um empréstimo de $802 milhões de dólares (cerca de R$ 3 bilhões) do BNDES, moradores locais se dizem frustrados.
Segundo o pescador Juan Alberto Valdez Rodriguez, “não mudou nada. Tudo continua mal”. “Achei que depois daquele dia tudo mudaria: teríamos mais dinheiro, mais oportunidades, mais investimentos”, diz Rodriguez, referindo-se ao dia em que Dilma Rousseff esteve no local para inaugurar a obra, em 2014. “Se você vai buscar comida no mercado, não há. Se vai buscar frango, não há. Dinheiro, não há. Aqui não há nada”, afirma o pescador.
Realizada pela empreiteira brasileira Odebrecht, a reforma do porto permitiu a criação em Mariel de uma zona econômica especial, projetada para abrigar um parque industrial e um centro logístico.
Embora o porto já esteja funcionando a pleno vapor e a reaproximação entre Cuba e os Estados Unidos tenha feito muitos empresários voltarem as atenções para a ilha caribenha, até agora nenhuma indústria se instalou na zona especial.
A agência que administra a área diz que sete empresas - duas estatais cubanas e cinco pequenas companhias estrangeiras (nenhuma do Brasil) - tiveram seus projetos aprovados e começarão a operar ali em 2016.
Mas nem todos pretendem esperar. Mesmo ganhando 60 pesos cubanos (em torno de $60 dólares), o dobro do que recebem seus subordinados, um jovem técnico cubano que trabalha no porto diz que o valor não cobriria nem a roupa que ele vestia naquele dia, a camisa do jogador português Cristiano Ronaldo, do Real Madrid. Ele afirma que só pôde comprar a peça porque seu pai mora em Miami e lhe envia dinheiro todos os meses. O jovem diz que, no ano que vem, se juntará ao pai nos Estados Unidos. “Tudo em Cuba é incerto, não há garantias de que as coisas vão melhorar amanhã ou daqui a dez anos”, ele afirma. “É por isso que os ‘marielitos’ se foram, é por isso que muitos continuam e continuarão a ir embora”. Fonte: BBC Brasil.