Passados quase 15 dias do furacão Irma pela Flórida, a vida começa a querer voltar ao normal para a comunidade brasileira. Algumas empresas contabilizam os prejuízos e muitas famílias ainda sentem resquícios do Irma. A falta de energia afetou 4.4 milhões de pessoas e ainda é realidade para mais de 20 mil pessoas no sul da Flórida.
Algumas famílias sofreram o problema na pele por mais de 8 dias, tendo que improvisar e contar com apoio dos amigos e vizinhos. Como foi o caso da brasileira Cynthia Magnani, que mora em Boca Raton, e teve que ter “jogo de cintura” durante todos esses dias por ter uma bebê de três meses em casa.
“Passei por stress pré e pós-furacão. Com bebê não dá para arriscar e por isso decidimos fugir para Atlanta. Foram 19 horas de estrada na ida e mais 12 horas na volta. Chegando de volta em Boca Raton, encontramos uma cidade que parecia devastada, com as ruas cobertas de galhos de árvores e o pior, sem energia elétrica. Dar banho, dar comida e todos os outros cuidados que uma criança em casa exige ficam bem mais difíceis”, declara.
A jornalista conta que nesses dias se abrigou em hotel e teve que ficar rodando até a luz chegar. “Foram mais de $1000 dólares só de hotel nesses dias e foi muito difícil achar porque a maioria estava ocupado, tivemos que ficar trocando de hotel. O primeiro que eu reservei em Atlanta era horrível. Consegui ir pra outro melhorzinho dois dias depois. Depois do furacão, paramos uma noite em Orlando e depois viemos para Boca Raton, mas como a luz não voltava, tínhamos que ir acrescentando noites extras e nem sempre aquele hotel tinha mais disponibilidade.
Cynthia conta que a pior parte foi ficar sem energia, uma vez que em casa hoje em dia tudo depende de eletricidade. “Metade do meu condomínio tinha luz e a outra metade, à qual eu pertenço, não tinha. Aqui é inviável ficar sem energia, uma vez que tudo em casa depende dela: cozinhar, lavar, secar, limpar a casa e principalmente aguentar o calor infernal da Flórida!”, destaca.
Outra brasileira que sofreu privação foi Aline Klatter, que mora em West Boca, na 18th St. Com 32 semanas de gravidez de alto risco, viveu momentos de tensão e estresse pela alta temperatura em casa, sem ar-condicionado, tendo que tomar banho na casa de parentes.
“Optamos por não seguir as ordens de evacuação por causa dos 2 cachorros e 2 gatos que temos”, conta Aline, que tem também uma filha de 4 anos, Alice. “No domingo eu já tinha desistido. Já estava falando com meu marido para buscarmos outro lugar pra ficar. Já não aguentava mais”, conta a brasileira, que teve sua luz restaurada no final do dia de domingo.
Ela que vive na Flórida desde 1996 já tinha passado por outros furacões, mas dessa vez tinha o agravante da gravidez arriscada. A família do goiano Vanderlei Batista também contou com o apoio de amigos. Como mora em área baixa e costeira, em Fort Lauderdale By the Sea, desde a passagem do furacão ele se abrigou junto com os dois filhos e a esposa na casa de um amigo em Deerfield Beach. “Há 14 anos que moro na Flórida e dessa vez ficamos maior tempo fora de casa”, relata Batista, que só voltou para casa no início desta semana, quando a energia foi restaurada.
Prejuízos de empresas
No meio empresarial, os comerciantes relatam prejuízos e tentam agora retomar o negócio após vários dias fechados. O proprietário da Padaria 2000, em Deerfield Beach, Edvaldo Leão, teve a energia elétrica de volta somente no final da segunda-feira, 18, depois de 8 dias de portas fechadas. Apesar do prejuízo, ele entende que o momento deve ser encarado como de renovação. “No decorrer do dia a dia muitas coisas passam despercebidas e não temos tempo para mudá-las. Como é hora de começar do zero, com a limpeza de refrigeradores e reposição de estoque, é momento também de ver o que pode ser alterado, tanto no estoque quanto na loja em si”, menciona.Para o empresário mineiro, muitos danos seriam evitados se a FPL realmente fizesse a manutenção como é cobrada em conta. “Pagamos uma taxa extra para manutenção. A poda das árvores que só podem ser feitas por funcionários da companhia, não são realizadas com frequência. Por aqui o que causou falta de energia foi a queda de uma árvore em rede elétrica que eles poderiam ter cortado e evitaria, por exemplo”, aponta.
*Com colaboração de Vanuza Ramos.