Enquanto a administração de Donald Trump se prepara para seguir o que aparenta ser uma linha de deportações sem precedentes nos Estados Unidos, grupos de proteção a imigrantes estudam como proteger famílias e comunidades. Os vereadores do condado de Broward, por exemplo, assinaram uma resolução, no dia 7, dando o primeiro passo para tornar o condado o que se considera um “santuário” para imigrantes.
Um cálculo feito pelo Los Angeles Times e divulgado esta semana mostrou que, ao assumir a presidência, Trump pediu que autoridades revisassem amplamente a imigração no país, retirando várias restrições de quem deve ou não ser deportado. Isso acabou aumentando para 8 milhões o número de pessoas que vivem no país ilegalmente e que podem ser potencialmente deportadas por uma série de ordens que estariam sendo criadas pela administração Trump. Esse cálculo foi feito baseado em entrevistas com experts que estudaram documentos internos.
As novas instruções representariam um aumento drástico em relação ao foco de Barack Obama, em deportar somente pessoas que chegaram recentemente e condenados por crimes, totalizando 1,4 milhão de pessoas consideradas prioridades de remoção do país - o que levou o ex-presidente a recordes de deportações no fim de seu primeiro mandato.
Ao contrário do que foi afirmado por Trump, o alvo não é somente os “bad hombres” (homens maus). Essa revisão permite que agentes detenham quase qualquer pessoa que tenha cruzado a fronteira ilegalmente. Pessoas poderiam ser presas pelo uso de benefícios do governo, como food stamps ou se seus filhos receberem almoço gratuito em escolas. Esse plano teria como alvo muito mais pessoas do que as que foram banidas de entrar nos EUA nas últimas semanas, o que, mesmo assim, chamou a atenção do público.
As mudanças indicam a volta de grandes batidas da imigração a locais de trabalho, como as vistas no final da administração George W. Bush. Depois que Obama assumiu, sua administração restringiu as prioridades de deportação, diminuindo em 70% o número de deportações de imigrantes trabalhadores entre 2009 e 2016.
Impactos
Essa nova política de deportações poderia trazer impactos de grandes proporções não só sociais como econômicas ao país. Além da separação de famílias, empresas servindo imigrantes poderiam ser fechadas e até mesmo as plantações de todo o país poderiam ser abandonadas em casos de deportação em massa de trabalhadores agrícolas. Indústrias como a hoteleira e da construção também sofreriam grande impacto.Além disso, a Administração do Social Security perderia $12 bilhões de dólares por ano que são pagos ao sistema por trabalhadores indocumentados e que apenas recebem $1 bilhão de dólares em benefícios.
Crescimento sem imigrantes?
Com a política econômica baseada no lema “Estados Unidos primeiro”, privilegiando os trabalhadores nacionais sobre os imigrantes, Trump pretende criar 25 milhões de empregos novos nos próximos dez anos e mais do que duplicar a taxa de crescimento, a 4%. No entanto, vários economistas afirmam que suas metas econômicas serão impossíveis de serem atingidas sem aumentar a idade de aposentadoria ou sem receber um grande número de imigrantes. Ou ambos.De acordo com economistas, duplicar o crescimento e criar 25 milhões de empregos para 2027 é incompatível com uma limitação da imigração.
“Para um economista, a única forma de dar sentido a essas propostas é aumentar a população”, explicou Jennifer Hunt, ex-economista-chefe na Secretaria de Trabalho.
Para Ben Zipperer, do Economic Policy Institute, o crescimento da imigração é necessário se for levado em conta que um em cada quatro americanos terão mais de 65 anos nos próximos dez anos. O especialista explica que a única solução para ocupar os 25 milhões de empregos que Donald Trump pretende criar nos próximos dez anos é recorrer a imigrantes ou pedir às pessoas que trabalhem por mais tempo. Atualmente, a mão de obra imigrante, legal e indocumentada, representa cerca de 25 milhões de pessoas.
Ativistas Grupos de ativistas pró-imigrantes já estão em ação em todo o país. Em Chicago, grupos de direitos dos imigrantes estão oferecendo conselhos a pessoas que já eram consideradas prioridade sob a administração Obama porque com certeza elas estarão no foco de deportação de Trump.
Na Flórida, ativistas do Florida Immigrant Coalition têm pressionado para que os condados protejam imigrantes da deportação. No dia 7, ativistas compareceram à reunião dos vereadores de Broward, que deram o primeiro passo para fazer com que imigrantes e refugiados sintam-se à vontade no condado.
“Broward deu o corajoso primeiro passo para fazer imigrantes se sentirem bem-vindos, mostrando que os vereadores do condado estão dispostos a fazer o que for preciso para proteger as famílias de Broward, não importando de onde elas vêm. Com essa resolução, Broward está colocando a segurança de suas comunidades na frente da política”, escreveu Francesca Menes, diretora do Florida Immigrant Coalition. “Nós pressionamos para que cidades e condados no sul da Flórida e em todo o estado fiquem firmes contra qualquer ameaça às nossas vibrantes comunidades de imigrantes. Esse não é o momento de se curvar às ordens executivas que podem nem ser constitucionais”.
O condado de Hillsborough e a cidade de St. Petersburg deram passos parecidos nos últimos dias. Miami-Dade, ao contrário, declarou recentemente que obedeceria à ordem executiva de Trump de trabalhar junto com agentes federais de imigração.
Os possíveis planos da administração Trump em relação à imigração:
- Oficiais poderão deportar não somente aqueles condenados a crimes, como os suspeitos de terem cometido crimes graves. Isso inclui 6 milhões de pessoas que entraram nos EUA sem passar por um agente de fronteira. O restante dos 11,1 milhões de pessoas teriam permanecido além do permitido pelo visto, de acordo com estudo do Pew Research Center;
- Dentro do alvo de Trump estão 8 milhões de pessoas que teriam mentido em pedidos de emprego federal, dizendo que podem trabalhar legalmente nos EUA;
- Pessoas que receberam benefícios como Medicaid ilegalmente;
- Pessoas que usaram um documento de identificação falso;
- Pessoas pegas dirigindo sem carteira;
- O número de detenções de imigração deverá ser dobrado para 80 mil por dia. Ao dar mais autoridade a oficiais de Imigração, Trump está colocando sua administração no caminho para aumentar as deportações em 75% em seu primeiro ano de mandato;
- Estuda-se um processo de deportação mais rápido que não passará pelas cortes de imigração. Oficiais poderão expulsar estrangeiros imediatamente depois de capturados. Esse processo já é usado para imigrantes presos dentro de 100 milhas da fronteira e dentro de duas semanas depois que a pessoa entrou no país ilegalmente e quem não possa comprovar que corra algum risco no país de origem. Esse programa poderá ser expandido para mais longe da fronteira e ter como alvo pessoas que vivem ilegalmente nos EUA por até dois anos;
- Trump também está sendo pressionado a acabar com o DACA, no qual Obama deu permissões de trabalho e poupou da deportação 750 mil jovens trazidos ilegalmente para os EUA quando crianças. Mas, a Casa Branca ainda não anunciou nenhuma ação nessa direção. Acabar com o DACA custaria uma perda de $433,4 bilhões de dólares em crescimento.
Com informações do Los Angeles Times/Fusion e AFP.