Por Dra. Ivani Manzzo*
Sempre que se fala em moda, a ideia de algo passageiro poderá estar associada. Mas, no caso do uso de “recursos” para aumentar a força e o desempenho, isso não é nada passageiro. Se você está pensando em décadas, errou. O ser humano está em busca da sua superação nos esportes e no desempenho do corpo há milhares de anos.
Antigamente, os gladiadores tomavam uma mistura de vinho com testículos de touro, porque acreditavam que os faria mais fortes. Isso vinha da observação que o touro, uma vez castrado, ou seja, sem os testículos, perdia parcialmente a força e também a agressividade.
Essa observação não está errada, já que a produção do hormônio testosterona se dá nos testículos e esse hormônio aumenta muito a força muscular e a agressividade. Mas, claro que “suco de testículo” não faz efeito, a não ser o efeito placebo. E, assim, o ser humano segue em busca de algo que milagrosamente o torne poderoso, forte e imbatível.
No século XIX, foi desenvolvida na Alemanha a anfetamina. Essa droga age no cérebro e causa muitos efeitos colaterais graves, porém, seus efeitos são buscados por muitas pessoas devido a ação de inibição do sono e do cansaço. Ela potencializa a capacidade de realização de treinos e de competições. Essa droga foi (ou é) muito utilizada pelos exércitos para que os soldados não sintam cansaço, sono, fome e dor. Triste, não acham? Nas competições, sem dúvida nenhuma, a utilização dessa droga, e de outras também, potencializa o desempenho. A história nos mostra que o uso de substâncias para aumentar o desempenho é muito antigo, e os resultados também são conhecidos há muito tempo.
Mas o que acontece com as pessoas que tomam hormônios e com as pessoas que não tomam hormônios? As pessoas que treinam cronicamente, ou seja, com regularidade e constância, têm uma modificação no sistema endócrino, aquele que é responsável pela produção de nossos hormônios. Podemos dizer que praticamente todos os hormônios são afetados pelo treino e de uma forma benéfica. Resumidamente, o que ocorre é que, com o treino, o hormônio tem o seu funcionamento melhorado e, assim, acabamos precisando de menos hormônio para ter um efeito superior. Isso é muito bom, quer dizer que nosso corpo passa a funcionar melhor.
Já com as pessoas que tomam hormônios não se pode dizer o mesmo. Os hormônios são regulados por sistemas muito especializados e eles sempre mantém as taxas hormonais dentro de limites muito rígidos. Quando se ingere ou injeta hormônios, quebramos esse sistema de regulação hormonal. O corpo temporariamente (ou permanentemente, dependendo da dose e do tempo de uso) para de produzir esse hormônio. Sim, deixamos de funcionar corretamente.
Mas, o mais grave é que o excesso de hormônio precisa ser jogado fora. Então, além dos danos cardíacos e vasculares que ele causa por estar em excesso, ele causa danos também no fígado, porque é esse o órgão que vai agir para jogar o excesso fora.
E, novamente, falamos de moda. O uso de substâncias para aumentar a massa muscular, para emagrecer e definir os músculos ganhou muito destaque nos últimos anos. Vemos nos jornais inúmeros casos de doping entre atletas. Esses casos nem chocam mais. Passado um tempo e o atleta está novamente competindo e sendo recebido como herói. A moda acabou por banalizar o que é ilegal. Aceita-se sem o menor constrangimento o uso de substâncias ilícitas porque é moda e todo mundo faz, então pode, sem se pensar nas consequências dessa atitude.
A um tempo atrás, no Facebook, pudemos ver um post de um ex-fisiculturista que, infelizmente, estava com câncer e, pelo o que eu li, atribuiu esse câncer a uma dieta rica, muito rica, em proteínas. Isso me causa constrangimento. Eu não sabia que excesso de proteínas causa câncer!
Quando li o post, achei que iria “bombar”, e que seria superquestionado. Só que não. Passou, ficou esquecido foi banalizado, assim como os casos de doping. Apenas que, neste caso, o esquecimento é de algo triste, de algo que tentamos esconder. Sim, o uso de esteroides anabolizantes causa câncer. Não dá para esconder, nem esquecer e nem deixar de comentar. Não se pode mais esconder que essa moda está matando.
