Como a maioria dos garotos de sua idade, aos 18 anos Pedro Pimenta era muito ativo. Fazia cursinho pré-vestibular, tinha muitos amigos, saía para bares e baladas, gostava de viajar e praticava diversos esportes. Mas sua vida deu uma guinada quando, na madrugada do dia 11 de setembro de 2009, teve que ser levado às pressas para o Hospital Albert Einstein, em São Paulo, apresentando o quadro de meningococcemia - infecção generalizada causada pela mesma bactéria da meningite. No caso de Pedro, em vez de chegar às meninges, a bactéria tomou a circulação sanguínea.
“De manhã, fui para o cursinho normalmente e, à noite, dei entrada no hospital com chance de sobrevivência menor que 1%. Eu achei que tinha tido só alguma infecção, mas o quadro se desenvolveu muito rápido. A gente nunca pensa que uma bactéria ou vírus pode causar tantos danos ou risco de morte”, lembra o jovem, hoje com 23 anos.
Pedro passou uma semana em coma induzido. “Acordei e percebi que meus braços e pernas estavam apodrecidos, em algumas partes conseguia ver os ossos. Estava sob efeito de morfina e sofrendo muito na UTI, chegando ao ponto de querer que me amputassem logo, pois já não aguentava mais”. Um mês depois que deu entrada no hospital, veio a confirmação de que perderia seus membros. Apesar de a notícia já ser esperada, Pedro conta que foi um choque, principalmente para sua família.
Paixão pela música
Após amputar as pernas acima dos joelhos e braços acima dos cotovelos, foram mais quatros meses no hospital. Mas, o que seria um pesadelo para muitos, para Pedro só aumentou sua vontade de viver intensamente.Ainda numa cama de hospital, o paulista já sabia que seu destino não ficaria limitado a uma cadeira de rodas. Quando acordou de um segundo coma, após as amputações, a primeira coisa da qual se lembrou foi do show do AC/DC, uma de suas bandas favoritas, que aconteceria em São Paulo, para o qual já tinha ingressos.
“Não queria saber o que estava acontecendo, só queria saber do show. Cheguei a pedir para pendurarem um poster atrás da cama para fazer pressão nos médicos, e funcionou. Fui de ambulância para o Morumbi e assisti o show de uma maca. Foi algo fantástico, fora de série”, relembra.
E a paixão pela música continuou fazendo seus dias terem sentido no período em que passou no hospital – Pedro enfrentou aproximadamente 30 cirurgias, muitas delas de enxerto. O jovem trocou a guitarra por equipamentos compatíveis com sua nova condição física. Usando o computador, especializou-se em música eletrônica e tornou-se produtor musical, chegando a vencer um concurso internacional de remixes. “Foi isso que evitou que entrasse em depressão”, acredita.
Voltando a andar
“Não se tem notícias de um amputado como eu, acima de joelhos e cotovelos, ter voltado a andar, mas desde o início sempre foi um sonho sair da cadeira de rodas”, conta o jovem. Em busca de melhores chances de reabilitação, em 2010 – dez meses após deixar o hospital, Pedro viajou com a família para os Estados Unidos, onde teve a oportunidade de conhecer uma clínica que atendia ex-soldados amputados das guerras do Iraque e do Afeganistão.“Comecei a treinar com os veteranos e todos nós fizemos o pacto de pararmos de usar a cadeira de rodas. Após um treinamento brutal, consegui ser o primeiro tetra-amputado a fazer isso”, conta orgulhoso. Para fazer os movimentos, Pedro gasta cinco vezes mais energia que uma pessoa normal. “É algo que machuca, sai sangue, cansa, mas faz parte do meu objetivo de vida. Hoje, uso as quatro próteses desde cedo até a noite e eu dependo delas para fazer tudo na minha vida”.
Ao contrário do que muita gente pensa, as próteses de Pedro não tem componentes eletrônicos. “Minhas próteses de braços são de tecnologia bem antiga, foram criadas na época da Segunda Guerra Mundial e até hoje não tiveram atualizações. Não têm nada biônico, que funcione com a força da mente, e sim com movimento dos ombros. Mas funcionam muito bem pra mim, são leves e baratas. E as próteses de pernas têm microprocessadores com sensores que não impulsiona, mas ajudam a melhorar a caminhada”, explica.
“Superar é Viver”
Além da proximidade que adquiriu com a clínica de reabilitação, a Hanger Clinic, localizada em Oklahoma, Pedro arrumou uma namorada americana e optou por estudar nos EUA. Mudou-se para Saint Petersburg, na Flórida, onde cursa economia e se formará em um ano.A forma positiva com que o estudante encarou todos os acontecimentos começou a chamar a atenção das pessoas e resultar em convites para dar palestras pelo Brasil e nos EUA. A repercussão foi tanta que lhe rendeu um convite para escrever um livro contando sua história.
“Quatro anos tinham se passado desde a amputação e, após um feedback muito positivo em uma palestra que dei em Curitiba, estava falando pra minha família da vontade de escrever um livro. Nesse mesmo momento, o iPad estava no meu colo e recebi um email da editora Leya, convidado-me a escrever um livro com eles. Começamos já na semana seguinte, terminando no final de 2013 e lançando no ano seguinte”, conta o autor do livro “Superar é Viver”, que tornou-se sucesso de vendas do Brasil.
E assim segue a vida do jovem paulista, conciliando estudo, palestras e sendo mentor de outros amputados, entre eles o pequeno Jeremiah, que também foi vítima de meningococcemia. Além disso, Pedro tem a rotina de uma pessoa normal. Anda, dirige um carro não adaptado, viaja sozinho, cozinha, limpa a casa e faz exercícios físicos diariamente, inclusive já participou de competições de triatlo.
“Você só sabe que é capaz até você ser testado. Eu tive que voltar aos meus planos antigos. Minhas próteses não são equipamentos médicos, elas são ferramentas, Eu não sou um doente, simplesmente aconteceu tudo isso e eu perdi meus membros, mas os repus e a vida segue”.
Sonho
Pedro sabe que as pessoas se admiram e se inspiram com sua história de superação. “Quando eu estava na cadeira de rodas, as pessoas me olhavam com pena. Hoje, têm mais reações de admiração e curiosidade, me elogiam e dão força”, conta. Seu intuito é continuar a levar uma mensagem positiva às pessoas.“Meu maior sonho é continuar transformando, isso que foi tão triste e impactante na vida da minha família, em algo positivo. Hoje, eu só espalho sorrisos e isso me traz um prazer que não tem como explicar”.