E o mundo das artes perde mais um talento exponencial. Uma voz como a de Whitney Houston surge muito raramente. Um talento como o dela, que dominou por duas décadas as paradas de sucesso mundiais, não merecia um fim tão tragicamente prematuro.
Durante as décadas de 80 e 90, nenhuma outra voz feminina foi tão celebrada quanto a da filha de Cissy Houston e sobrinha de Dionne Warwick. Whitney Houston literalmente “explodiu” a cena pop com 7 sucessos seguidos em primeiro lugar no “Billboard”, atingindo a marca quase inacreditável de 170 milhões de discos vendidos, 11 dos quais com o single “I will always love you”, trilha do filme “ The Bodyguard” que ela também estrelou ao lado de Kevin Costner.
A notícia da morte de Whitney, aos 48 anos, encontrada dentro de um apartamento do Beverly Hilton Hotel, horas antes da festa anual do igualmente célebre produtor Clive Davis (que a revelou ao mundo em 1983), chocou o mundo da música e milhões de fãs em todo o mundo. Foi como se um mau prenúncio tivesse sido tragicamente confirmado. Afinal, depois de quase duas décadas reinando como diva absoluta das paradas, Whitney embarcou num casamento cercado de instabilidade e abusos, com o cantor Bobby Brown. Depois disso, Whitney nunca mais foi a mesma.
Passou a aparecer na mídia não pelos sucessos musicais, pelas performances inesquecíveis. Foi direto alimentar as páginas de fofocas, escândalos e ocorrências policiais. Drogas, brigas, agressões em público, shows abandonados pela metade, alcoolismo e toda a sorte de distúrbios domésticos passaram a ser a “marca registrada” de um casamento que até fez piada de si mesmo, num bizarro e mal sucedido “reality show” na TV.
O que sucedeu a Whitney Houston? Como uma artista reconhecida em todo o mundo, milionária e respeitadíssima pelo mundo artístico, se deixou levar pela mais amarga e previsível de todas as tragédias, o mergulho nas drogas?
Esta é a mesma pergunta que se fez após as mortes de talentos exponenciais, que se foram cedo demais.
Elvis Presley, Janis Joplin, Jimi Hendrix, Jim Morrisson, Michael Jackson, Curt Cobain, Amy Winehouse - todos mortos direta ou indiretamente consumidos pelas drogas em seus mais perversos estágios de delírio e loucura. Quantos mais serão consumidos pela mesma ilusão de refúgio ou gratificação instantânea?
A morte de Whitney é triste e lamentável. Sua perda, irreparável.
Com sua partida se desfaz o primeiro “elo” de um triunvirato que assombrou o mundo com talento vocal sem precendentes: W, de Whitney, M, de Mariah e C de Celine.
Mas realmente devastador é perceber que a mais importante de todas as guerras, a guerra contra as drogas, esta parece estar sendo irremediavelmente perdida. O impulso do ser humano, fragilizado ou curioso, impotente ou simplesmente influenciado pelo ambiente, com relação às drogas, parece ser mais forte do que qualquer mensagem sobre a destruição que elas inevitavelmente trazem.
Destruição que é tão grande ou maior para quem fica do que para quem morre.
A voz e o talento de Whitney seguirão vivos através de todas as teconologias e meios que se dispõem. Como Michael Jackson, sua obra seguirá sendo celebrada.
E é possível até que, como se constata claramente nos dias de hoje, as circunstâncias de sua morte sirvam ainda para transformá-la em mito. Whitney deve ser celebrada pelo que fez de bom, pela excelência de seu trabalho em palco e estúdio. Nunca por epitomizar uma cultura de droga e desespero. Já não nos basta o recente e igualmente estúpido exemplo da vida de Amy Winehouse?
Tanto quanto ou até mais do que a ameaça nuclear em mãos de fanáticos de todas as cores, etnias, religiões e posturas políticas, a ameaça das drogas me parece catastrófica, como uma sombra devastadora e “imparável”.
Num mundo onde fantasia e escapismo são as armas do sistema para manter as populações sob controle, seria mesmo de se questionar, até onde o mergulho devastador de milhões de pessoas no labirinto das drogas nao é a maior de todas as tragédias, a mais perigosa de todas as ameaças?
O coro dos céus tem mais uma voz de anjo.
Descanse em paz, Whitney.