Grávida de cinco meses, receber a visita dos pais em Miami pela primeira vez foi para Mônica Rocha, de 35 anos, mais que um presente: foi ao lado deles que ela descobriu que seu bebê é uma menina, eles comemoraram, juntos, o aniversário do pai e foi com quem passou uma semana visitando a cidade que ela, recém-casada, escolheu viver há um ano. Esse presente, mais tarde, se tornou uma despedida de sua mãe, Maria das Graças da Silva Ribeiro, de 59 anos, que morreu no voo de volta para casa.
No dia 16, os pais de Mônica embarcaram em uma longa viagem de Fort Lauderdale a Brasília. A viagem, em voo da American Airlines, teve longas escalas na ida e na volta, algo que os deixou muito cansados.
“Compramos uma promoção que saía de Fort Lauderdale para o Texas, do Texas para Miami e de Miami para Brasília”, relata Mônica. “Como foi uma promoção, não havia a possibilidade de eles partirem de Miami diretamente, só se cada um pagasse $200 dólares”.
Na manhã do dia 17, Mônica recebeu o telefonema da companhia aérea, no qual fora informada que sua mãe havia passado mal. Quando chegou ao hospital, descobriu que sua mãe havia falecido.
Segundo o pai de Mônica, José Luiz Almeida Ribeiro, depois do jantar, logo que o voo saiu de Miami para Brasília, Maria das Graças foi ao banheiro e não saiu mais. Depois de uns 20 minutos, José Luiz descobriu que ela tinha passado mal.
De acordo com Mônica, a aeronave retornou a Miami e sua mãe recebeu atendimento médico, mas não resistiu.
“Minha mãe era fumante, mas não tinha nenhuma doença. A causa da morte foi documentada como doença cardiovascular”, relata Mônica. “A maior preocupação sempre foi com o meu pai, que além de ter pressão alta, tinha muita dor nas pernas”.
O corpo foi transportado pela American Airlines e Maria das Graças foi enterrada em Brasília, no dia 23. Ela deixou, além de Mônica, mais três filhos que vivem em Brasília.
“Eu fico pensando o que eu poderia ter feito para que ela (minha mãe) se sentisse mais feliz nesses dias, e fica um sentimento de que eu poderia tê-la beijado mais, abraçado mais, não sei, meu Deus!”, escreveu Mônica, em uma homenagem em sua página de Facebook.
Mineira ainda tenta descobrir como foram
os últimos momentos de sua mãe
Há quase quinze anos, quando vivia em Boston, Flávia Figueiredo, de 44 anos, contou com a visita de sua mãe por cinco meses, que veio ajudá-la nos preparativos do nascimento do neto. Dois meses depois do nascimento, Maria da Glória Soares Pereira, de 56 anos, foi ao Brasil para passar duas semanas, com planos de voltar para Boston.
“O voo ia de Boston para New Jersey, de New Jersey para São Paulo, depois de São Paulo para Vitória”, explicou Flávia, natural de Belo Horizonte. “Mas foi no trajeto Boston-New Jersey que ela passou mal”.
Segundo Flávia, a companhia aérea informou que Maria da Glória sofreu dois ataques do coração no momento da descida do avião, foi ressuscitada e encaminhada a um hospital, quando o voo chegou a New Jersey.
“Quando minha mãe embarcou, lembro-me que um brasileiro estava junto e eu pedi que ele cuidasse dela, que estava viajando sozinha. Mas eu nunca ouvi nem dele e nem de ninguém que estava naquele voo. Até hoje fico imaginando como foram seus últimos momentos, sozinha, naquele voo”, especula Flávia, que mora em Pembroke Pines (FL) há 10 anos. “Ela tinha uma saúde boa e sempre viajamos de avião”.
Quando Flávia chegou ao hospital, sua mãe já havia sofrido seis ataques do coração em 12 horas e acabou não resistindo. No atestado de óbito consta que ela morreu de insuficiência cardíaca. “Mas eu nunca consegui uma boa explicação de tudo o que aconteceu naquele voo”, disse. “Hoje consigo me conformar que simplesmente havia chegado a hora dela”.
É comum passar mal em voos?
Com histórias como essa, outros brasileiros começaram a contar casos parecidos sobre alguém ter passado mal em um voo. Mas quão comum é esse tipo de incidente em voos?Segundo um estudo publicado pela revista médica “The Lancet”, um em cada cem passageiros pode sofrer de trombose venosa profunda em voos de longa duração (mais de três horas), mesmo se viajar na classe executiva, tomar aspirina ou usar meias de compressão. Pesquisadores neozelandeses entrevistaram 900 passageiros que ficaram pelo menos dez horas num voo, numa média de 39 horas voadas em seis semanas.
Embora 17% dos passageiros tenham usado meias de compressão e 31% tomado aspirina, foram descobertos nove casos. Mas, segundo médicos do Hospital Israelita Albert Einstein, alguns aspectos indesejáveis de longas viagens aéreas, como o jet lag (associado a grandes mudanças de fuso horário e o respectivo impacto no organismo), podem ser prevenidos. Segundo eles, a hidratação e a movimentação no corredor do avião são bons aliados para evitar problemas.
“A hidratação é importante para combater os efeitos associados às condições de pressão e baixa umidade do ar dentro da aeronave. Em geral, a pressão na cabine do avião é um pouco menor do que a habitual, com menor disponibilidade de oxigênio, o que faz aumentar frequência respiratória e diminuir o fluxo do sangue”, afirma o Dr. Flavio Tarasoutchi, cardiologista do Einstein. “Além disso, o fato de a pessoa permanecer sentada por muito tempo, somado à maior viscosidade do sangue em função da pressão, aumenta o risco de trombose venosa, ou seja, a formação de coágulos que podem entrar na circulação e chegar ao pulmão, causando embolia pulmonar”, completa o Dr. Dr. Hilton Waksman, cirurgião vascular do Einstein.
Se dores ou inchaço nas pernas não desaparecerem no máximo 24 horas após a chegada, recomenda-se procurar um médico, pois podem ser indicadores de trombose venosa. Cansaço no peito e dor na respiração são outros sinais de alerta.
“O uso de meia três-quartos elástica é um aliado valioso. Ela faz a compressão dos pés, tornozelos e joelhos, aumentando o retorno do sangue”, explica o Dr. Hilton. “Quando sentado, é recomendada a movimentação dos pés”. “Obesos, cardiopatas, quem já teve trombose venosa ou tem problemas de coagulação são mais vulneráveis. Antes de viajar, essas pessoas deveriam aconselhar-se com o médico, inclusive para avaliar a necessidade de tomar um anticoagulante. Mas é importante frisar: esse ou qualquer outro medicamento só deve ser utilizado sob recomendação médica”, destaca Dr. Flávio.
Além disso, em outras condições, como pós-operatórias, gesso e fraturas instáveis ou não tratadas, é recomendado que se busque orientação.
Na gravidez é necessária uma declaração do médico permitindo o voo a partir da 36ª semana.